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Os livros sentem falta de quem os queira ler

Carolina Pereira
Cultura \ segunda-feira, maio 24, 2021
© Direitos reservados
O setor do livro é um dos mais afetados pela crise gerada pela pandemia. As livrarias do concelho contam ao JdG como estão a viver este momento.

Pelas esquinas de Guimarães estão espalhadas, já poucas, montras de livros. A pandemia veio atrapalhar e afetar algumas casas, já que fecharam durante meses aquelas que não tinham serviço de papelaria. Contudo, já no período pré-Covid existia uma relutância em entrar pelas portas de uma livraria de rua.

À conversa com o Jornal de Guimarães, Filipe Caldas, da Livraria Ideal, na rua D. Rainha Maria II, refere que existe um número cada vez menor de livrarias no concelho de Guimarães. “Há 20 anos, tínhamos a Casa das Novidades que vendia livros e já não vende, a Orpheu também vendia livros e já não o faz, só tem o fundo editorial, mas é mais papelaria. Depois o Pinto dos Santos ainda vende. As únicas que sobreviveram a esta falta de procura fomos nós e o Pinto dos Santos”, revela o gerente da Ideal.

Quer no discurso de Filipe Caldas, quer no discurso do livreiro Júlio, da Loja do Júlio, também em pleno centro histórico da cidade, não se vê grande esperança para com o futuro do livro. E quando se procura saber causas, há uma em comum que é logo apontada: “a malta lê muito pouco”.

Em plena era digital, há medida que a interação com os ecrãs e internet vai aumentando e as informações imediatas vão sendo fornecidas, as pessoas começam a perder os hábitos de tocar no papel e facilmente se cansam de ler textos extensos. No inquérito do JdG, 55% dos inquiridos, assinalou preferir formas mais rápidas de absorver informação como internet e televisão. A par disso, para Francisco Brito da livraria Colofon, no Largo da Condessa do Juncal, a pandemia e o reduzido índice de leitura dos portugueses “são uma conjugação fatal para a maior parte das livrarias.”.

Outro fator tem a ver com o local de compra. Através de um inquérito online, o Jornal de Guimarães questionou 60 pessoas, com o objetivo de perceber os seus hábitos de leitura. O estudo aponta que 54,1% dos inquiridos compra livros nas grandes superfícies, 29,7% compra online e apenas 16,2% tem tendência a comprar em livrarias de rua. “É triste para nós, quando surge um cliente e diz que já foi a um supermercado e não encontrou aquilo que queria e por isso veio aqui. As pessoas vão a todo o lado e só depois recorrem a uma livraria. É a mesma coisa que eu ir em busca de um medicamento específico a um supermercado, em vez de procurar uma farmácia”, desabafa Filipe Caldas.

Francisco Brito, ao contrário da Livraria Ideal, vende livros para um público específico que procura obras literárias raras e antigas. Apesar de ter considerado 2020 como um bom ano para si, já que o seu método de venda concentra-se no online, não perspetiva o ano de 2021 como um ano positivo. “Vai ser um mau ano para este setor, porque mesmo com a reabertura há hábitos que se perderam, há certas coisas que continuam na mesma e que não ajudam muito as livrarias quer dos livros novos, quer dos usados. A perda do hábito das pessoas irem às lojas complica. Até haver uma retoma dos hábitos normais, pode levar algum tempo e uma livraria continua a ter as suas despesas.”, reflete o livreiro.

Na consideração dos livreiros, tem-se vindo a tornar cada vez mais difícil manter uma livraria tradicional aberta, ao passo que a maioria começa a ter um suporte extra como serviço de cafetaria ou papelaria. Quer Francisco Brito, quer Filipe Caldas acreditam, que se não se investir na literacia dos portugueses, as livrarias e os livros vivem uma constante ameaça.

Ainda assim, há quem encontre esperança para as livrarias na Rede de Livrarias Independentes (RELI). Uma recente associação que agrega dezenas de livrarias de todo o país com o objetivo de enfrentar a crise do mercado livreiro que vem comprometer as pequenas livrarias. Em Guimarães existem livrarias que fazem parte. Pode ajudar a que o setor sobreviva.

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