A Biblioteca é livro aberto, pronto a folhear por mais e mais utentes
As estantes ocupam os lugares de sempre, mas as mãos que agarram os seus livros, abrindo o universo que cada um encerra, vão mudando. Forçada a trabalhar à distância na pandemia de covid-19, com atividades transpostas para as plataformas digitais, a Biblioteca Municipal Raul Brandão reaproximou-se dos leitores em 2022 e viveu um 2023 de crescente procura. O número de documentos emprestados aos utentes ilustra-o: passou de 11.670 há dois anos para 31.650 no ano passado.
A tendência condiz, aliás, com o historial da biblioteca fundada em 07 de março de 1992, a partir do Serviço de Bibliotecas e Apoio à Literatura da Fundação Calouste Gulbenkian. “Há um acrescento médio de leitores. Foi um ano de retomar a rotina”, realça Juliana Fernandes, responsável desde 2021 por dirigir uma instituição que contabiliza mais de 30 mil utentes ativos – registados são 44.703 – e que reunia mais de 350 mil documentos no final do ano passado.
Com 1.087 novos leitores contabilizados em 2023, a biblioteca apresenta um perfil de utilização que varia consoante as idades; as pessoas de mais de 65 anos procuram sobretudo os periódicos; os adultos enveredam pela “chamada literatura leve” – romances ou policiais – e os mais jovens requisitam obras a estudar no Ensino Secundário, circunstância que “distorce um bocadinho” as estatísticas relativas à biblioteca, admite a diretora. Tais estatísticas, que incluem um dos “maiores números de sócios a nível nacional”, contam-se entre as melhores da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, prossegue Juliana Fernandes.
“Chegar ao maior número possível de pessoas”
A Hora do Conto, vocacionada para crianças, ou os Sábados Mágicos, com “atividades preparadas para miúdos e graúdos”, complementam o usufruto da sala de leitura. O festival literário Húmus idem. Realizado pela primeira vez em março de 2016, o evento atrai pessoas que gostam de ler, de Guimarães e de concelhos em redor, indica a diretora da instituição vinculada à Câmara Municipal.
As instalações pedem mais, sobretudo a Casa dos Carneiro, em pleno centro histórico, e os polos de Caldas das Taipas e de Pevidém, mas o efeito dessas limitações estruturais parece longe de se refletir nos hábitos dos leitores. Pese as limitações infraestruturais, o “papel social” da instituição permanece inabalável.
Ligada desde 1995 à rede de bibliotecas da UNESCO, a Raul Brandão realiza o serviço ao domicílio à terça e à quinta-feira, mediante os pedidos dos leitores, e desloca-se na sua carrinha itinerante às escolas sem biblioteca própria. Reconhecidas as vantagens da leitura, sejam elas a informação ou o estímulo da imaginação, o objetivo é sempre o mesmo: “Chegar ao maior número possível de pessoas”.