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Guimarães
07 novembro 2025
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Min: 17
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A energia de Immanuel Wilkins veio das raízes no arranque do Guimarães Jazz

Tiago Mendes Dias
Cultura \ sexta-feira, novembro 07, 2025
© Direitos reservados
A abertura da 34.ª edição do festival deu-se com hora e meia de fluxo sonoro raramente interrompido, onde o improviso e o passo frenético alternaram com a evocação das raízes da música afro-americana.

Quando as últimas notas soavam, como que a desvanecer-se, ouviu-se da plateia um ruidoso “Obrigado!”, ao qual Immanuel Wilkins respondeu com um “thank you” e mais uma apresentação de todos os músicos que o acompanharam no concerto inaugural da 34.ª edição do Guimarães Jazz, na quinta-feira. Ao cabo de hora e meia, a menção veio a propósito; cada intérprete teve espaço e tempo para sobressair, mas também para se dissipar na mistura de ritmos tão característica do jazz, assim que a marcha acelerava e todos os instrumentos – trio de vozes incluído – dialogavam entre si.

No regresso a Guimarães – atuou na edição de 2023 como saxofonista convidado da Kathrine Winfeld Big Band –, o saxofonista norte-americano abriu o concerto com “Blues Blood”, a composição que dá o nome ao seu terceiro e mais recente álbum, lançado no ano passado. Uma faixa de pouco mais de 10 minutos no estúdio ganha vida em palco e prolonga-se por cerca de meia hora. Os solos de saxofone, nem sempre no mesmo timbre – havia distorção pelo meio –, intercalavam-se com os momentos em que o contrabaixo de Ryoma Takenaga, a bateria de Kweku Sumbry e o piano de Micah Thomas ditavam a marcha, mais pausada, e com as performances vocais, à vez ou em uníssono, de June McDoom, Malaya e Yaw Agyeman.

Era precisamente nessas vozes que o anseio espiritual da música de Wilkins se tornava por demais evidente. E as raízes também. O ondular de Yaw após o encore, numa muito prolongada “If that blood runs east”, evocava as ideias de oceano e de casa. Na sua voz, ouviram-se possíveis ecos da música ancestral dos afro-americanos, que viria a originar o blues e o jazz pelo sul dos Estados Unidos, nos últimos anos do século XIX. O título do álbum – sangue de blues, na tradução portuguesa – é revelador.

Wilkins, de 28 anos, já admitiu, em entrevistas anteriores, que busca Deus na música que compõe, toca e experimenta. Essa procura por algo mais trespassou o olhar e os ouvidos daqueles que presenciaram o espetáculo, batendo o pé ou resistindo a esse impulso. A plateia compunha mais de dois terços da lotação do Grande Auditório Francisca Abreu, no Centro Cultural Vila Flor (CCVF), epicentro do improviso e das blue notes. Até 15 de novembro.

 

O leque de músicos que abriu o 34.º Guimarães Jazz ©Paulo Pacheco

O leque de músicos que abriu o 34.º Guimarães Jazz ©Paulo Pacheco

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