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A História como uma roda que não para na abertura dos Festivais Gil Vicente

Pedro C. Esteves
Cultura \ quarta-feira, junho 01, 2022
© Direitos reservados
Tratado, A Constituição Universal” abre os Festivais Gil Vicente esta quinta-feira. É um "caos", é uma "nova organização universal", é a democracia, a tecnologia e os novos fascismos.

Viajamos aos Estados Democráticos Unidos no último espetáculo do trilogia “Democracia e os anos 90”. Cada Estado é governado por um diferente tipo de regime, a cada cinco anos é realizado o Dia Internacional do Voto e todos os cidadãos são convocados às urnas. A partir da ideologia expressa no boletim determina-se onde cada um viverá os próximos cinco anos.

Em palco, um tripé segura um smartphone e quatro personagens gravam vídeos sobre o que falhou com a humanidade. “Entram numa dialética em que não conseguem criar nada. Não concordam com nada. Apercebemo-nos que não vamos deixar nada, a próxima Humanidade vai cometer os mesmos erros”, explica Diogo Freitas, criador e encenador da peça “Tratado, A Constituição Universal”, que abre os Festivais Gil Vicente esta quinta-feira, 02 de junho.

Com um elenco composto por quatro atores nascidos entre 1990 e 2000, o espetáculo em estreia absoluta em Guimarães, de metáforas e analogias, que cruza temas como xenofobia, racismo e a emergência de novos fascismos, fomentou um “imaginário coletivo comum”. Algo fulcral para colar experiências e levar para palco inquietações dos “filhos dos anos 90”.

 

© Pedro C. Esteves/JdG

© Pedro C. Esteves/JdG

 

“Quando começamos a trilogia criamos inquéritos e muitos dos jovens que responderam são politicamente ativos. Criou-se uma espécie de fumo cinzento a volta desta geração, dizendo que não se interessa por política. Há, sim, uma ideia de arrasto. Os pais mostram desinteresse, a escola não mostrava a política como ela é, mostrava algo estanque que não íamos precisar. A política está em todo o lado. Tudo isto é política”, resume o encenador famalicense.

Não há respostas no final do espetáculo. Há perguntas que vão sendo disparadas, dúvidas que pairam. Em palco, a desordem, a construção de muros com cubos de esferovite, julgamentos, a mediação dos ecrãs e o desenho de som de Cláudio Tavares desorientam o espetador.

Há muito do que nos irrompe todos os dias pela televisão, que lemos nos jornais. Diogo Freitas explica: “Quando decidimos fazer o espetáculo há três anos, não sabíamos que teríamos uma guerra a acontecer na Europa”. E na peça o caos parece estar sempre na página seguinte do texto colado por Filipe Gouveia a partir de fragmentos escritos pelos atores – desde cartas de amor a mensagens escritas no WhatsApp, tudo foi “desdobrado” e entrou em conflito no processo de feitura. É a ideia de texto como plasticina, em constante mutação -- uma das cenas foi escrita há três dias, pontou Diogo Freitas após o ensaio.

No fim, reitera o jovem encenador, parece que “podemos propor novas formas de organizar o mundo” – mas vamos sempre acabar em guerra. A História é uma "roda" que não para.

Como é hábito, os Festivais Gil Vicente regressam em junho, com seis encenações. Se, em 2021, se procurava um "novo começo" na ideia de fim, ainda sob o espectro da pandemia, a 34.ª edição, marcada para 02 a 11 de junho, quer explorar “novas vozes” e “novas dramaturgias” que pensem e sintam as “matérias fraturantes” do mundo a partir de Guimarães.

O bilhete geral para os espetáculos custa 30 euros, estando ainda disponível um passe de 15 euros para três espetáculos. Com um orçamento de 55.000 euros, os Festivais Gil Vicente são organizados pela Oficina e pelo Círculo de Arte e Recreio (CAR), associação fundadora.

 

© Pedro C. Esteves/JdG

© Pedro C. Esteves/JdG

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