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Os jardins da Fraterna e das Lameiras têm as novas camadas do Bairro C

Tiago Mendes Dias
Cultura \ segunda-feira, novembro 15, 2021
© Direitos reservados
O jardim da Fraterna e o jardim frontal à entrada da feira semanal são os contemplados com as mais recentes leituras da memória industrial de Couros.

No jardim da Fraterna, ergue-se uma nova criação arquitetónica que é emaranhado de redes de vedação e de tubos plásticos industriais, com uma descrição a acompanhá-la: “Num interstício temporal entre a outrora produção de couros, a revolução e queda da indústria, a reabilitação contemporânea e a expansão da cidade, surge um gesto de reflexão cultural através da materialização de uma malha que procura a regra nos arruamentos da cidade antiga”, lê-se a propósito de “A Nuvem”, criação de Miguel Trigo e de Luís Filipe Correia.

Cerca de 200 metros a oeste, no jardim contíguo ao bairro das Lameiras, uma máquina de moer casca de carvalho para a indústria de couros com 50 anos, até agora guardada na antiga fábrica da Madrôa, exprime-se agora com curadoria visual e sonora, fruto do trabalho de Luís Canário Rocha e Rolando Ferreira.

Ao dispor do público desde a manhã de sábado, estas duas criações são as mais recentes do Bairro C, projeto em curso desde julho de 2020, que confere novas leituras aos espaços públicos nos intervalos da antiga malha industrial a sul do centro histórico, feita de tanques de couros, de construções graníticas revestidas a madeira e de chaminés laranja.

Presente na inauguração, o vereador municipal para a Cultura realçou que ambas as esculturas têm “dimensões muito diferentes”, precisamente aquilo que as open call para arquitetura e arte pública lançadas em meados de 2021 procuravam. “Temos de continuar a trilhar este caminho das open call, disse. “Temos artistas, coletivos artísticos, associações e entidades a quererem programar no território, mas isto não significa que nos vamos fechar dentro de portas. Acorrem a estes desafios muito mais os artistas de Guimarães, apesar de já termos tido propostas de artistas de outros pontos”, resumiu.

Para o responsável, o trabalho “Bater, moer, esticar e amaciar”, no jardim contíguo às Lameiras, mostra como é possível “recriar e reproduzir sons” ligados às indústrias de Couros, enquanto “A Nuvem” é uma “reinterpretação” capaz de “pegar num jardim que era apenas de passagem” e de o “transformar praticamente numa praça” com “potencial para acolher várias propostas”.

 

"A Nuvem" à noite © Ivo Rainha

"A Nuvem" à noite © Ivo Rainha

 

Tubos como “analogia” à indústria de Couros

A escultura vermelho-acastanhada que se vê durante o dia, com o Teatro Jordão ao fundo, é uma leitura de um lugar de “transformações económicas” e de “património industrial que ficou devoluto e começa a ser reabilitado”, a partir de “arquiteturas contemporâneas”, esclarece o arquiteto Miguel Trigo ao Jornal de Guimarães. O projeto arrancou no verão e a execução durou três semanas, acrescenta. E o resultado final que se vê de dia tem a particularidade de se transformar à noite, para “chamar as pessoas às praças e lugares que antes não costumavam percorrer”.

“Fizemos uma estrutura que procura respeitar os materiais e as cores do local”, reitera. “Isso provoca um efeito mais plástico durante o dia e à noite transforma-se. Os tubos são uma analogia à indústria da zona. Iluminam-se por dentro e criam um espetáculo visual completamente diferente para ser mais atraente”.

 

 

A ferrugem (também) é história e pode ser inspiração artística

Rolando Ferreira e Luís Canário Rocha cobriram a máquina de moagem casca de carvalho que se encontrava na fábrica da Madrôa com um véu de arte num processo que demorou três meses; só a abertura da porta levou três dias, porque o “intuito não era limpar e tirar toda a ferrugem”. “A história que tem inclui os 30 anos de inatividade. A máquina tem 50 anos, e a camada de ferrugem faz parte da história. Conseguimos abrir a porta com um macaco hidráulico”, descreveu Luís Canário Rocha, enquanto apresentava a obra.

Ao mudar-se para o espaço público, o engenho incorpora agora o trabalho visual de Luís Canário Rocha, e o trabalho de sonoplastia de Rolando Ferreira, que incorpora os “registos captados durante o processo”. “A nossa intervenção artística sobre a máquina é um bocadinho a memória dos sons da indústria. Os meus avós moravam na rua da Ramada. Lembro-me de ouvir os barulhos durante a noite”, frisou Rolando Ferreira. “Então o temperamento sonoro das peças que temos aqui foi o de recriar um bocadinho este som de indústria. Convido toda a gente a experimentar, a mexer e a descobrir essa memória”, acrescentou, a propósito do sistema sonoro interativo ao dispor de quem ali passa.

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