A velha questão da intensidade num jogo de amarras táticas
O momento em que Alioune Ndoye cai na área do Gil Vicente, já nos instantes finais da partida que encerrou a 13.ª jornada da Liga Portugal Betclic, levanta muitas questões hipotéticas acerca da interpretação de um lance de futebol, da arbitragem portuguesa e do próprio futebol português. Um penálti deve ser assinalado sempre que um jogador sofre um agarrão na camisola, ainda que mínimo, ou a intensidade deve ser o critério mais importante?
Como é que os árbitros aplicam essa questão da intensidade no retângulo de jogo e como explicar a dualidade de critérios patente em diferentes jogos, por diferentes árbitros, em lances exatamente iguais? Neste fim de semana, Alex Pinto, do Arouca, foi expulso este domingo na Amadora, por pisar o pé de um adversário, quando Sudakov, do Benfica, viu o amarelo em Guimarães, por pisar o pé e o tornozelo de Samu, num lance que a generalidade da classe arbitral considerou bem ajuizado.
Como é que o lance entre Espigares, do Gil Vicente, e Alioune Ndoye, nem sequer merecedor de Anzhony Rodrigues ver as imagens disponibilizadas pelo videoárbitro, espelha de forma mais profunda os problemas do futebol português, debatidos até à exaustão pela elite de comentadores que nos entra pelos ecrãs dos vários canais televisivos, mas que teimam em enterizar-se?
O lance aos 90+3 minutos, em que o avançado senegalês do Vitória foi alvo de dois agarrões pelo central espanhol, gerou ruidosos protestos entre os jogadores trajados de branco, entre os elementos da equipa técnica e entre a larga maioria dos 13.126 espetadores que assistiram à partida no estádio. Foi o corolário de um jogo mais transpirado do que inspirado, mais tenso do que fluido, mais disputado no limite da agressividade do que no limite do improviso que faz o adepto vibrar com a bola.
O embate entre barcelenses, quartos da tabela, com 24 pontos, e vitorianos, oitavos, com 18, foi sobretudo um prolongado encaixe tático, com jogadores a entregarem-se ao limite para evitarem qualquer falha que pudesse abrir a brecha para o adversário criar perigo. As ocasiões de golo foram poucas, por isso. Na primeira parte, sobressai o remate de Nélson Oliveira para defesa de Andrew, aos 43 minutos, após o lance mais polémico da primeira parte, no qual Anzhony Rodrigues assinalou penálti por falta de Buatu sobre Miguel Maga, antes de reverter a decisão para um livre.
A segunda parte começou com mais erros de parte a parte, antes de as equipas se voltarem a encaixar. Com a entrada de Mitrovic para o lugar do desgastado Gonçalo Nogueira, o Vitória conseguiu enfim algum ascendente que foi incapaz de traduzir em golos: Ndoye dispôs da única ocasião flagrante, mas cabeceou ao lado, aos 85 minutos.