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Administrador do hospital defende ULS como meio de reduzir “pingue-pongue”

Tiago Mendes Dias
Saúde \ quinta-feira, setembro 14, 2023
© Direitos reservados
Modelo de organização da saúde com entrada prevista em 2024 integra cuidados do hospital e centros de saúde, minimizando périplos do utente entre várias entidades, defende Henrique Capelas.

O presidente do Conselho de Administração do Hospital Senhora da Oliveira – Guimarães crê que a reorganização dos hospitais e dos centros de saúde nacionais em Unidades Locais de Saúde (ULS) é a primeira “reforma profunda” no Serviço Nacional de Saúde (SNS) desde a constituição dos hospitais como entidades empresariais em 2003 e defende o novo modelo por acreditar que ele pode garantir melhores cuidados de saúde à população sem se gastar mais dinheiro.

Para Henrique Capelas, a integração dos cuidados primários e hospitalares numa só entidade garante ao utente a “prestação de cuidados em contínuo” e pode terminar ou, pelo menos, mitigar o que classifica de “jogo de pingue-pongue” – por exemplo, o facto de um utente precisar de recorrer ao centro de saúde e também ao hospital para obter autorização para um determinado procedimento médico, com o processo a circular entre as duas entidades e a gerar demora na prestação de cuidados de saúde. “Nos cuidados integrados, não há separação de responsabilidades. O foco está no cidadão, não na organização”, defendeu, numa sessão de esclarecimento na Câmara Municipal de Guimarães, a anteceder a reunião quinzenal do executivo.

Para o responsável, é preciso garantir cuidados de saúde sem forçar os portugueses a pagarem mais impostos; segundo os dados que apresentou, Portugal gasta uma percentagem dos impostos que cobra superior à média europeia. Esse valor, que, anualmente, ronda os 15,6 mil milhões de euros está ainda sujeito a um desperdício entre os 20 e os 22%. “São três mil milhões desaproveitados. Aqui está a diferença entre gastar mais e gastar melhor”, realça. Henrique Capelas considera que a gestão é a “doença crónica” do SNS. “O problema do SNS não é falta de médicos, nem ter maus médicos. O problema do SNS é um problema de gestão. A saúde não tem gestores. Fernando Araújo [diretor executivo do SNS] já o disse”, vinca.

No seu entender, a Unidade Local de Saúde do Alto Ave – vai reunir, a partir de 2024, os municípios de Guimarães, Vizela, Fafe, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto e Mondim de Basto – vai, tal como as outras ULS, mudar o foco dos cuidados de saúde da doença para a prevenção; Henrique Capelas vinca que o próprio sistema de financiamento incentiva essa alteração. “Temos um modelo muito focado na doença. Não faz sentido. Não faz sentido os hospitais promoverem mais 20 mil cirurgias como algo positivo. O ideal era que tivéssemos menos. O sistema está vocacionado para a doença. O modelo é financiado quanto à produção de serviços. Precisamos de um modelo focado na medicina preventiva”, disse, mostrando-se convencido que o novo modelo, baseado na capitação – financiamento por utente, mediante o risco de saúde -, responde melhor às necessidades da população.

Apesar de Portugal ser um país com elevada esperança média de vida, fica atrás de outros nos anos com qualidade de vida que as pessoas gozam na velhice, diz Henrique Capelas. “Nos países nórdicos, temos uma média de 14 anos com qualidade de vida. Aqui temos um máximo de sete”, referiu.

Pese o que classificou de lóbi dos medicamentos – indústria que fatura cerca de 600 mil milhões de euros por ano na Europa -, o presidente do conselho de administração defendeu a integração do Instituto de Segurança Social, das autarquias e das organizações desportivas na organização da saúde em Portugal para um melhor serviço aos cidadãos.

 

Reorganização vista com bons olhos, mas oposição lembra hemodinâmica

Após a intervenção de Henrique Capelas, o presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança, considerou que a reorganização da saúde em ULS é “um projeto excecional que exige coragem”, e um dos vereadores da coligação Juntos por Guimarães (JpG), Ricardo Araújo, mostrou-se “tendencialmente favorável ao modelo”, embora queira saber mais sobre o que está em causa.

Outro dos representantes do PSD, Bruno Fernandes, admitiu que a ULS pode ser mais-valia, mas lembrou a demora na implementação do serviço de hemodinâmica para expressar algum ceticismo. “Que o cidadão possa sentir melhorias neste sistema de saúde que não tem melhorado. Se tivermos como referência a demora que levou à implementação do Serviço de Hemodinâmica do Hospital Senhora da Oliveira, temos algum ceticismo. Mas somos otimistas. Que essa melhoria dos modelos de gestão possa representar uma mais-valia”, disse.

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