
AECS e falta de acessibilidade nas escolas continuam a gerar preocupação
Na reunião camarária de 30 de junho, Emília Lemos, vereadora da oposição, criticou a ausência de soluções para a falta de oferta das Atividades de Enriquecimento Curricular (AECS), em várias escolas do concelho de Guimarães. "Continua tudo igual, continuam a haver escolas em Guimarães em que essa oferta nem sequer foi contemplada e a Câmara ainda não arranjou nenhuma solução, pelo menos temporária, para que as crianças não ficassem sem acesso à área de artes performativas", afirmou Emília.
A vereadora deu o exemplo da Escola de Oliveira do Castelo, onde "houve duas turmas que não tiveram o ano inteiro, porque não tiveram nenhum professor colocado para as artes performativas" e, à medida que outros docentes foram saindo ao longo do ano, o município não providenciou substituições, resultando em "oito turmas sem atividades" no final do ano letivo.
Lamentou ainda que as alternativas propostas à autarquia, como a autonomia das escolas para desenvolverem outras atividades ou o aproveitamento de recursos internos, não tenham sido implementadas. "Falámos de ver outros recursos ao nível da escola ou dar autonomia às escolas para realizarem outro tipo de atividade para que as crianças tivessem sido pelo menos acompanhadas e que não estivessem entregues aos assistentes operacionais.", explicou a vereadora.
Sobre a questão da acessibilidade, Emília Lemos apontou a situação da Escola da Cruz de Argola, referindo que há quatro anos os acessos permanecem inadequados para alunos com mobilidade reduzida. "O aluno em questão depara-se com passadeiras sem desnível para as cadeiras de rodas, carros estacionados em cima do passeio e, na altura, teve que descer com uma cadeira de rodas elétrica muito pesada. Nunca mais foi solucionado esse problema”, recordou.
Em resposta, a vereadora com o pelouro da Educação, Adelina Pinto, reconheceu as dificuldades crescentes na implementação das AECS, sublinhando que o modelo, que outrora foi uma referência em Guimarães, enfrenta hoje constrangimentos estruturais e humanos. "Foi dos projetos que mais agrado me deu. Hoje é uma questão com grande complexidade", afirmou, explicando que o problema ultrapassa as fronteiras do concelho."“Não conheço nenhum concelho que tenha um bom projeto AECS porque não há pessoas e capacidade."
Adelina Pinto apontou a escassez de profissionais qualificados como um dos principais entraves à continuidade do modelo com a qualidade desejada. "Estamos a falar de 58 escolas. A maior parte dos técnicos são professores e há uma precariedade evidente, por falta de professores, que sempre foi nacional", referiu a vereadora.
Perante este cenário, a vereadora anunciou a implementação de dois projetos-piloto no próximo ano letivo, com o objetivo de repensar o conceito de escola a tempo inteiro. Um dos projetos centra-se na contratação de animadores socioculturais e na formação das assistentes operacionais, permitindo criar espaços com dinâmicas lúdicas onde as crianças possam decidir livremente as atividades a realizar. "Esta será, no meu entender, uma solução universal para se dar o apoio aos pais que necessitam e dar uma resposta positiva.", reforçou Adelina Pinto.
O segundo projeto-piloto incide sobre o reforço do vocabulário nas crianças de cinco anos, apostando na educação pré-escolar como base para o desenvolvimento da linguagem e da autonomia. "Sabemos que hoje o pré-escolar é fundamental até para tratar questões da linguagem", explicou.
Para Adelina Pinto, a escola deve ser um espaço de crescimento integral do cidadão, promovendo não apenas competências académicas, mas também o desenvolvimento da autonomia e da capacidade de decisão desde a infância. "As crianças têm de brincar, os miúdos são mandados fazer tudo, dentro e fora de casa. A escola tem de ser o espaço da autonomia", afirmou, acrescentando que, se continuasse no próximo mandato, alteraria o modelo de ensino em vigor. "É na brincadeira que nós nos construímos", finalizou.
Relativamente à mobilidade e acessibilidade, Adelina Pinto assegurou que têm sido feitas várias intervenções. "As escolas que foram intervencionadas, isso foi obviamente resolvido. Não é uma questão de escolas, é uma questão de todas as estruturas e não é de um momento para o outro que conseguimos alterar tudo, mas estamos muito atentos e a fazer muitas alterações."