“Ainda Estou aqui”: Um pedaço de entretenimento com um fim memorável
A 33ª edição dos Festivais Gil Vicente (FGV) fecha as cortinas esta sexta-feira, dia 11 de junho às 19h30, no Centro Cultural Vila Flor com a estreia absoluta de "Ainda estou aqui", de Tiago Lima, sendo a criação vencedora da última edição da Bolsa Amélia Rey Colaço.
Tiago Lima escreve e encena este espetáculo que é simultaneamente um concerto, contando com interpretação e música ao vivo de Bruno Ambrósio, Débora Umbelino aka Surma, Eduardo Frazão e Rodolfo Major.
Tiro de partida. Assim que se entra na sala, é Bruno Ambrósio que toma conta do palco. Um fósforo acende-se, a música entoa e, não sendo suficiente para o vocalista, começa a ser interrompida, ao longo da peça, com questões sobre o que mais é preciso ser feito para obter a apreciação do público. A peça explora exatamente esse conceito de devoção ao entretenimento que, associada ao individualismo dos nossos tempos, explica que a solidão pode atingir qualquer um.
A solidão e aborrecimento tomam conta de Bruno, que transforma o concerto numa espécie de stand-up de má qualidade levando a que a tensão e o desconforto, que podem ser sentidos pelos colegas de banda e transmitidos para o público, se instale.
Na perspetiva de Tiago Lima, o protagonista chega a um grande nível de lucidez e autenticidade que o faz agir daquela forma. “É preciso ser-se bastante lúcido para perceber: “ok, o público já não gosta só da minha música, o que é que é preciso e o que é que ele pode querer para se entreter? Talvez a minha morte.” Se eu um dia fosse ver um concerto e o vocalista se matasse seria o maior produto de entretenimento que eu iria consumir na minha vida”, explica o autor da estreia.
A programação do FGV encerra, assim, com mais uma peça a retratar o tema do fim e a levar à reflexão da atualidade.
Em 2020, por causa da pandemia, aquela que seria a 33.ª edição dos Festivais Gil Vicente foi cancelada, tendo os espetáculos programados sido transferidos para este ano.