“Alunos já vão para as escolas secundárias a pensar no Torneio de Retórica”
Quatro anos depois da criação do Torneio de Retórica, o principal desafio é garantir que ele se “inscreva na vida pedagógica e educacional das escolas secundárias de Guimarães, fugindo ao rótulo de “epifenómeno que aparece e desaparece”, vincou Francisco Teixeira, presidente da ASMAV, associação promotora, em parceria com a Câmara Municipal de Guimarães. A seu ver, o envolvimento gerado por alunos, famílias e professores é um sinal de que a iniciativa está para durar.
“Reparamos crescentemente que os alunos já vêm para as escolas secundárias e para o 11.º ano a pensarem no Torneio de Retórica. Eles já perguntam quando é. Muitas famílias já discutem o Torneio de Retórica fora dos contextos educativos. Isso mexe com todos os alunos do 11.º ano e com as próprias famílias”, realçou, numa conferência de imprensa decorrida na ASMAV.
O formato está consolidado: as eliminatórias nas quatro escolas secundárias do concelho, com debates entre vários trios do 11.º ano até se encontrar o vencedor de cada escola, para as semifinais e para a final. O próximo passo é abrir os horizontes de quem disputa as fases decisivas: depois de três edições em que atribuíram uma taça e um diploma a cada aluno participante na fase final, a ASMAV e o município estão a trabalhar para levar os vencedores de cada escola – um total de 12 alunos e ainda os professores – ao Parlamento Europeu, em Bruxelas.
“Queremos que vão a Bruxelas, para verem um outro mundo, um local de decisão política. Este prémio não é atribuído numa perspetiva financeira, mas numa perspetiva de abertura de horizontes, como já acontece com o Erasmus, que tão bem faz às nossas comunidades”, assumiu a vereadora municipal para a educação, Adelina Paula Pinto.
Para Francisco Teixeira, o Torneio de Retórica é um sucesso, porque os alunos são os protagonistas dos debates e assumem de forma integral os desafios que lhes são propostos, tendo, várias vezes, de defender posições que não são as suas, através de muita pesquisa. O facto de os professores intervirem apenas na avaliação também permite aos estudantes afastarem-se do paternalismo associado a uma instituição como a escola.
“Os nossos alunos são integralmente responsáveis pelo que estão a dizer e a debater, ou a criticar. Este é o modelo mais aproximado de agir na vida real, com sentido de ousadia e desafio, mas também de cuidado a que toda a ação humana obriga. Não queremos jovens excessivamente domados pelos professores”, defende.
Adelina Paula Pinto enalteceu, por seu turno, “o apoio incondicional dos diretores das escolas” para um projeto em que não é possível “medir a diferença” que está a ser feita; deu até o exemplo de uma lista para eleições de uma associação de estudantes que a convidou para analisar a dimensão política do programa. Isso é, a seu ver, demonstrativo do potencial transformador do Torneio de Retórica.
“Isto ajuda a pensar, a estar no papel do outro, a perceber porque é que a outra pessoa pensa diferente de mim. Dá a capacidade para mudar de lado, para perceber porque as razões são mais fortes. De repente, temos uma reconstrução do nosso ser. Não queria deixar de, além dos senhores diretores, deixar de saudar os professores”, referiu.
“Um estímulo para desenvolver competências”
A apresentação da quarta edição do Torneio de Retórica decorreu num momento em que a Escola Secundária Francisco de Holanda e a Escola Secundária Martins Sarmento já vão para a segunda fase, após 20 debates com 1.000 alunos, e a Escola Secundária de Caldas das Taipas e a Santos Simões preparam o arranque, com 600 alunos envolvidos em 14 debates. A sessão teve o contributo de quatro participantes numa fase final anterior, um de cada escola. Nas intervenções, os estudantes realçaram o potencial transformador dos debates, a aprendizagem das pesquisas, o estímulo para crescer no discurso e também manifestaram o desejo de verem alunos de outros regiões acederem a semelhante iniciativa.
Citações
Pedro Costa, Escola Secundária de Caldas das Taipas
“A experiência foi sobretudo positiva, apesar de termos tido uma derrota na semifinal. Fez-me crescer enquanto pessoa. Acho muito bonito ajudar a desenvolver competências que não se buscam em qualquer outro lado. Apesar de ser um torneio bastante intelectual e racional, também é emocional. Que se possa expandir pelo país todo. Mudou-me completamente. O espírito crítico que desenvolvi não dá para medir”
Afonso Tadeu, Escola Secundária Martins Sarmento
“O torneio mostra como um debate que acontece uma vez por mês pode mudar tanto uma pessoa e quantas horas são perdidas para a preparação deste debate. Conseguimos contactar com pessoas com opiniões divergentes para cada tema. Isso ajuda-nos a ser pessoas diferentes. As minhas áreas de interesse eram outras, mas ganhei a paixão do discursar e do debater, que vou levar para a vida”
Ana Francisca Fernandes, Escola Básica e Secundária Santos Simões
“Prepara-nos para a sociedade em que estamos inseridos, em que estamos cada vez mais expostos a grandes quantidades de desinformação. Dá esta capacidade de pensamento crítico e oportunidade para escolher os argumentos e para nos posicionarmos. O Torneio de Retórica dá a capacidade de falar em público, de ter um discurso coerente e persuasivo, que nos faz evoluir como pessoas. É algo que vamos levar para a nossa vida”
Maria Mesquita, Escola Secundária Francisco de Holanda
“Estávamos sentados na fila da frente na ASMAV, quando assistimos ao primeiro debate do Torneio como alunos do 10.º ano. Pensámos: queremos estar aqui. Decidimos inscrever-nos. Foi das melhores decisões que tomámos. É um complemento à educação na escola: desenvolvemos capacidade de discurso, de pesquisa e de pensamento crítico. Não desenvolvemos apenas opiniões. Compreendemos opiniões opostas”