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António de Almeida & Filhos: manter a “calma” perante horizonte de dúvidas

Tiago Mendes Dias
Economia \ terça-feira, julho 20, 2021
© Direitos reservados
Para duas trabalhadoras da empresa insolvente, a expetativa de receber julho a tempo e horas coexiste com o receio da procura tardia por um novo emprego. Futuro da têxtil discute-se em plenários.

Maria Pinto cruza o portão da António de Almeida & Filhos (AAF) rumo ao troço da Estrada Nacional 105, sublinha que a têxtil nunca “esteve assim” desde que lá entrou, há mais de 30 anos, e conclui: “temos de ter calma, temos de continuar a trabalhar”. “Também não nos podemos manifestar muito, porque temos os nossos ordenados em dia. Temos de aguardar”.

Após o fecho de mais uma jornada de trabalho, a sua expressão alternava entre a esperança e a dúvida; integrada há mais de 20 anos na secção das amostras, Maria Pinto esteve no plenário decorrido entre as 14h00 e as 15h30 desta terça-feira, para os trabalhadores do 2.º Turno e do Turno Normal, e ficou com a impressão de que os salários de julho vão ser pagos a tempo e horas. “Em princípio, o mês de julho está garantido. Depois, a partir daí, não sabemos nada. Temos de esperar por quem realmente vai comprar, se é que vai comprar”, diz ao Jornal de Guimarães.

Última empresa que ainda resta do grupo MoreTextile, após a venda da JMA à Felpinter e a compra da Coelima pela Mabera em assembleia de credores, a têxtil de Moreira de Cónegos apresentou-se à insolvência em 09 de julho. Ainda que “triste”, a operária de São Martinho do Campo (concelho de Santo Tirso) reconhece que já estava à espera do processo desde que a Coelima se apresentou à insolvência, em abril.

A AAF, descreve, é a “última pedra” de um grupo têxtil que “se desmoronou” e os receios quanto à perda do emprego adensam-se; aos 55 anos, Maria Pinto quer mesmo evitar a procura de uma “nova casa”. “A idade média dos trabalhadores anda pelos 52 anos. Em breve, vou fazer 56 e queria acabar os meus dias aqui. Não queria, de maneira alguma, que a empresa fechasse, porque não me sentia bem em estar a ir agora para outro lado”, confessa.

Esse plenário também contou com Maria José Vale, elemento do controlo da qualidade “há 30 ou 31 anos”. Este processo “custa um bocado”, mas é ainda pior para os trabalhadores mais novos, que se podem ver privados de um futuro estável. “Não duvidámos que, com a Coelima a abrir insolvência, a nossa também ia abrir. Pensámos que ia acontecer a mesma coisa, e assim foi”, descreve a trabalhadora de 58 anos, enquanto espera o autocarro para Covas, onde reside.

Maria José Vale quer acreditar que a AAF vai ter um comprador, mas a incerteza é o paradigma que rege o quotidiano dos 185 trabalhadores. Mesmo o salário de julho só vai ser pago se “houver faturação” para as “muitas encomendas” que nem sempre têm tido resposta à altura. “Temos estado parados, sem trabalho. Não temos materiais, nem mão-de-obra”, aponta, numa fase em que a têxtil funciona com layoff parcial, às segundas e às sextas.

 

 

Solução a 15 de agosto é o objetivo

Esse plenário, um dos três agendados para esta terça-feira – houve o das 12h30 às 14h00 para o 1.º Turno e haverá o das 22h00 às 23h30 para o 3.º -, contou ainda com as presenças do Administrador da Insolvência, Bruno Pereira, e com o presidente do Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes, Francisco Vieira.

Neste momento, as prioridades são garantir a “continuidade da empresa”, a “manutenção dos postos de trabalho” e a “salvaguarda dos direitos”, realçou o dirigente sindical às portas da empresa.

Francisco Vieira crê que o Administrador da Insolvência vai pagar os salários de julho até ao segundo dia útil do mês de agosto, o prazo-limite, se a AAF encaixar os quatro milhões de euros relativos às encomendas pendentes. “Se esses prazos forem cumpridos, há meios para cumprir o pagamento atempado dos salários e dos subsídios”, disse ao Jornal de Guimarães.

Se esse passo se concretizar, resta ao Administrador da Insolvência tentar viabilizar a compra da AAF por uma outra entidade. O objetivo, esclareceu o dirigente, é encontrar uma solução até 15 de agosto, para a ratificar na assembleia de credores agendada para 27 de agosto. Francisco Vieira mencionou ainda o desagrado dos potenciais compradores com o facto da ECS Capital, detentora do fundo de recuperação que é acionista maioritário da MoreTextile, ter conduzido a têxtil para um processo de insolvência.

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