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As sextas da cidade voltam a ser feira

Tiago Mendes Dias
Economia \ sexta-feira, abril 09, 2021
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Após três meses de confinamento, a feira retalhista de Guimarães é novamente o palco do vai e vem de pessoas em busca dos artigos que mais necessitam e do contacto com os feirantes.

É sexta-feira. E nesta, de 09 de abril, é novamente dia de feira. O movimento naquela zona da cidade, até agora reduzido ao mercado municipal, voltou a intensificar-se. Às 08:10, já se via um entra e sai regular, embora sem um volume de gente que comprometesse o exigido distanciamento social. Sob o olhar atento da Polícia Municipal e da PSP, as pessoas entravam para o recinto através da delimitação que se estendia até ao largo com a escultura da Vespa, mas a fila não chegava sequer a um terço dessa extensão. No interior, dezenas de clientes circulavam com espaço à procura do que queriam.

Na primeira banca à direita da entrada, viam-se inúmeros bonés, chapéus e guarda-chuvas expostos. Alguns clientes davam uma olhada, enquanto Maria de La Salete Pinto indicava os preços. Feirante há 31 anos, vê o regresso à atividade com alívio, após três meses “complicados” devido ao encerramento das feiras retalhistas. “Tenho uma filha numa universidade privada, a pagar”, diz ao Jornal de Guimarães. “Tivemos de fazer um bocadinho de ginástica. Se a gente não tinha umas migalhinhas de lado, estava tramada”. Antes da pandemia, costumava amealhar 200 a 300 euros por dia. Agora, a quantia fica-se pelos 100.

Guimarães é uma das últimas etapas da primeira semana de trabalho para esta vendedora de Amarante, que, além de vender na terra natal e na cidade berço, também percorre as feiras da Lixa, de Felgueiras e de Vizela.

Tal como nos outros locais, vão-se vendendo mais chapéus do que guarda-chuvas, mas uma das clientes prefere acautelar-se da chuva que ainda pode cair. “É para prevenir, porque faz sempre jeito. Além disso, é mais barato do que numa loja e a gente aproveita”, explica Julieta Silva, residente em Creixomil.

A curta deslocação à feira serviu ainda para “comprar umas plantas e umas roupas de desporto para usar em casa”. Esta rotina, assume, fazia-lhe falta, até porque o local, além de ter artigos mais baratos, também tem “muito por onde escolher”.

Interrupção sem apoio do Estado

Numa das bancas onde se vende roupa prática e desportiva, o negócio está um “bocadito fraco”. Quem o diz é Adriano Ribeiro, feirante há 27 anos, que estava habituado a fazer 300 a 500 euros antes da pandemia e agora faz 150 a 200 por dia. “O pessoal também tem algum receio de vir à feira, por causa do vírus”, supõe. “Mas vamos esperar para ver se isto arranca mais um bocadinho, porque a gente está mesmo à espera disto. Este é o nosso trabalho”.

Habituado a percorrer também as feiras de Barcelos, de Braga e de Vieira do Minho com a família, o feirante reitera que os últimos três meses foram “terríveis”, ainda para mais sem ajudas do Estado. “Eu desconto há 27 anos e quem não passar recibos verdes não tem direito a nenhuma ajuda do Estado. Zero”, lamenta, enquanto outro dos membros da família clama em voz alta “três euros”, para anunciar o preço de um produto.

Receoso de que as feiras voltem a fechar, caso haja nova subida de infeções pelo novo coronavírus, Adriano Ribeiro pediu que, nessa eventualidade, o Estado ajude os feirantes.  

 

A necessidade de comunicar

Numa outra ala do recinto, Sara Frederico vende roupa interior e também lamenta o ritmo do negócio. “Está muito fraco. Vendemos muito menos. Dantes, fazia-se à volta de 250 euros por dia”. Feirante há 30 anos, quer em Guimarães, mas também em Vila Pouca de Aguiar, Chaves e Bragança, a vimaranense diz que esta semana ainda tem algum movimento por ser a de regresso, mas antecipa uma quebra nas vendas.

Noutra banca de roupa interior, Maria José Teixeira procura o que lhe faz falta. Admite que é “muito bom” voltar àquele espaço, sobretudo pela possibilidade de rever os feirantes. É sempre bom comunicarmos uns com os outros. Eles dizem que estava a fazer falta comunicar com os clientes”, salienta.

O Jornal de Guimarães já tinha ouvido esse desabafo de Maria de La Salete Pinto. “Faz bem à nossa cabeça sair de casa, conviver com os clientes e com os amigos”, confessa.

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