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Autárquicas: ganhar por 100… ou 25 mil em 45 anos de ida às urnas

Tiago Mendes Dias
Política \ sexta-feira, setembro 24, 2021
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Na antecâmara de mais umas eleições para o poder local, o Jornal de Guimarães recorda o sufrágio mais concorrido e aquele que valeu ao PS o triunfo mais folgado.

No próximo domingo, os vimaranenses deslocam-se às urnas para escolherem os seus representantes na Câmara Municipal, na Assembleia Municipal e nas 48 Assembleias de Freguesia. Fá-lo-ão pela 13.ª vez em democracia. O ano de 1989 constitui uma divisória clara nos dois períodos que definem o poder local de Guimarães no pós-25 de Abril: a alternância de partido no poder até lá e as maiorias absolutas do PS desde então.

A diversidade de representação também caiu desde 1976: após a primeira eleição, o executivo municipal tinha quatro forças políticas representadas: PS, PSD, CDS e FEPU (hoje CDU). Em 2017, a vereação ficou reduzida a socialistas e sociais-democratas. Quanto à abstenção, o concelho registou a menor taxa em 1979 (18,04%) e a maior em 2013, quando Domingos Bragança, o atual presidente, foi pela primeira vez eleito (39,47%). O Jornal de Guimarães recorda, de seguida, a eleição de 1985, a mais concorrida da história autárquica vimaranense, e a de 2009, que valeu ao PS o triunfo mais claro, com quase o dobro da votação do PSD.

 

Oito dias para conhecer o vencedor, num sufrágio com o Vitória pelo meio

Os três primeiros atos eleitorais para o poder local tinham acabado sem maiorias absolutas. Em 1976, o PS, encabeçado por Edmundo Campos, elegera três dos nove vereadores para o executivo, após superar o resultado do PSD, a segunda força dessa eleição, em cerca de quatro mil votos. Três anos depois, a Câmara Municipal virou à direita, com a Aliança Democrática (PSD e CDS), de António Xavier, a obter mais seis mil votos do que o PS, mas a eleger os mesmos quatro vereadores do segundo partido. Em 1982, o presidente da Câmara voltou a ser rosa – Manuel Ferreira foi eleito com mais três mil votos face a António Xavier -, mas a composição da vereação manteve-se: quatro do PS, quatro da União Democrática (substituta da AD) e um da Aliança Povo Unido, que incluía o PCP.

Em 1985, António Xavier regressou a Santa Clara, mas com uma diferença evidente face aos sufrágios anteriores: a margem de vitória estreitou-se para os 102 votos e só foi apurada oito dias depois das eleições realizadas a 15 de dezembro. Os resultados provisórios davam conta de que o PSD, novamente a competir sozinho, arrecadara 22.933 votos e o PS 22.846, mas os resultados definitivos só se conheceram a 23 de dezembro, finda a Assembleia Geral de Apuramento dos resultados, constituída por um juiz, um delegado do Ministério Público, um professor primário e quatro presidentes das mesas das secções de voto, relatava O Povo de Guimarães a 25 de dezembro. Nessa contagem, os sociais-democratas acumularam 22.969 votos e os socialistas 22.867.

A cisão entre PSD e CDS, terceira força, com 11.325 votos, foi uma das circunstâncias que marcaram essas Autárquicas. Figura de proa dos centristas de Guimarães, Joaquim Cosme acusou o PSD – mais concretamente António Xavier - de falta de “seriedade”, devido a alegadas exigências que ultrapassavam o protocolo escrito entre os dois partidos, relatava O Povo, na edição de 23 de outubro. O PSD afirmou, por seu turno, que sempre esteve “interessado na coligação”, mas que o Tribunal Constitucional obrigava uma eventual aliança eleitoral a identificar-se pelo nome de um dos partidos.

O apoio de 1982 a António Xavier repartiu-se assim por outro candidato em 1985: o centrista Alberto Costa, em 1985. Ao centro, António Emílio era o candidato do novo Partido Renovador Democrático, a força associada ao então Presidente da República Ramalho Eanes. Na esquerda, a APU apresentava uma cara nova, Cândido Capela Dias, e o PS também: o até então vice-presidente da Câmara, António Magalhães, sucedeu a Manuel Ferreira na liderança da candidatura.

Após uma campanha eleitoral marcada por temas como a circular urbana de Guimarães, a mudança de instalações dos Bombeiros Voluntários de Guimarães e da central de camionagem, o desbloqueio das Termas das Taipas ou a criação de uma empresa para transportes públicos, houve um episódio cujo impacto pode ter sido decisivo para o resultado final: o então presidente do Vitória, António Pimenta Machado, confirmou o apoio a António Xavier uma semana antes das eleições, depois de algumas melhorias prometidas para o Estádio Municipal de Guimarães não se terem concretizado.

A 29 de junho de 1984, numa assembleia geral com cerca de um milhar de sócios, o Vitória aprovou uma proposta em que aceitava a utilização do Estádio Municipal de Guimarães pelo Futebol Clube de Vizela, mediante a construção de um novo campo de treinos, a eletrificação do estádio para a temporada 1985/86 pela Câmara Municipal. O Vitória alegava ainda que a autarquia tinha uma dívida de três mil contos (cerca de 15 mil euros pela conversão de 2002) por obras realizadas no estádio, lê-se na edição de 04 de julho de 1984 de O Povo de Guimarães.

A Câmara ficou encarregue de apresentar “com a maior urgência possível” o projeto de um campo relvado de treinos e de outro pelado após uma visita do então vice-presidente da autarquia, António Magalhães, e de Pimenta Machado à Secretaria de Estado dos Desportos, a 10 de julho. As obras estavam orçadas em 25 mil contos (125 mil euros), com a comparticipação do Governo. A eletrificação estava prevista para 1985, mas até ao final desse ano, período em que se realizavam as eleições, nenhuma das obras avançou.

Na última reunião de Câmara presidida por Manuel Ferreira, já depois das eleições, foi aprovada uma proposta, com os votos de PS e de CDS, para denunciar o Vitória à Alta Autoridade contra a Corrupção, por causa de não ter aplicado uma verba de 10 mil contos (50 mil euros) destinada ao arrelvamento do campo de treinos, escreveu Raul Rocha no livro “Vitória – 75 anos de história”.

Várias obras prometidas para ao Vitória foram aprovadas numa reunião do executivo decorrida a 10 de fevereiro de 1986, com alguns vereadores a deixarem a sala na hora da votação.

 

Depois de garantida a CEC, o rosa mais saliente

Em 1989, a alternância de poder autárquico deu lugar a uma maioria absoluta do PS em vigor até hoje. Entre as seis vitórias de António Magalhães, o presidente com mais tempo à frente dos destinos de Guimarães – 24 anos -, a mais folgada foi a última, em 2009. Naquele sufrágio, de 11 de outubro, o partido do poder obteve 50.102 votos – 53,49% -, e elegeu sete vereadores, ganhando um face a 2005; só em 1993 os socialistas tinham igualado tal número de mandatos. Magalhães recolheu mais 6.400 votos face a 2005 e garantiu assim uma vantagem de 25 mil votos sobre o PSD encabeçado pelo independente Vítor Ferreira, que obteve um resultado de 27,42% e viu o número de vereadores reduzido de quatro para três.

Este desfecho aconteceu depois de um mandato em que Guimarães assegurou a distinção de Capital Europeia da Cultura (CEC) para 2012. Com o programa ainda longe de fechado aquando da eleição, a iniciativa foi discutida na campanha, e António Magalhães defendeu-a como indutora de “desenvolvimento do capital humano”, de “promoção da criatividade como fator cultural, social e económico” e de “entendimento” do espaço público como “contexto de permanentes experiências criativas”, como escreveu O Povo de Guimarães na edição de 02 de outubro de 2009. Já a candidatura laranja preconizava uma CEC que não concentrasse todo o investimento na cidade, segundo uma entrevista de Vítor Ferreira ao Notícias de Guimarães, publicada a 09 de outubro.

Os cinco projetos para Guimarães – requalificação do Toural e da Alameda de São Dâmaso, requalificação de Couros, nova feira semanal, transformação do mercado municipal na Plataforma das Artes e Veiga de Creixomil -, bem como os problemas sociais e económicos do desemprego – chegou a haver 13 mil desempregados naquele ano – foram outros tópicos que marcaram as Autárquicas.

Conhecidos os resultados, o presidente reeleito apareceu à varanda da sede do PS de Guimarães, no Toural, pelas 22h30, para dizer que a CEC iria exigir “um trabalho comum” da maioria rosa, mas também da oposição, para afirmar Guimarães a “nível nacional e internacional”. António Magalhães frisou ainda que, naquele tempo de dificuldades económicas e sociais, fruto da crise económica internacional, todos “faziam falta” para Guimarães “honrar os pergaminhos da sua história”, dos empreendedores aos turistas e dos homens de negócios aos desempregados.

Na ala norte do Toural, o PSD reconhecia a “vitória clara do Partido Socialista”. “Só posso concluir duas coisas. Uma é que o projeto da minha candidatura não foi bem explicado. Ou partindo do princípio de que o expliquei bem, concluo que os vimaranenses não querem o meu projeto tal e qual ele foi desenvolvido”, declarou Vítor Ferreira, segundo a citação do Notícias de Guimarães de 16 de outubro.

 

Historial das eleições para a Câmara Municipal

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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