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Bairro Coral: a(s) voz(es) como lugar de encontro

Tiago Mendes Dias
Cultura \ sexta-feira, julho 30, 2021
© Direitos reservados
Das polifonias minhotas ao cante alentejano, do legado oral à experimentação, este programa começou no fim de semana anterior e explora as várias dimensões da voz até agosto.

“O legado oral, a voz memória, a voz coral, a voz reivindicativa”: estas dimensões do som e da expressão humanas cabem no Bairro Coral, programa artístico que arrancou no fim de semana anterior e que regressa nesta sexta-feira, com a atuação dos vimaranenses Dino Freitas, Cláudia Martins e Jorge Martins, a partir das 19h30, no Largo do Trovador.

Mas o programa, intimamente ligado a Couros e à mecânica do Bairro C, extravasa as fronteiras deste território do Vale do Ave: a 07 de agosto, pelas 19h00, o cante alentejano invade a Plataforma das Artes, pelo Grupo Coral de Reguengos de Monsaraz, e a 14, pelo mesmo horário, as Cantadeiras do Vale do Neiva evocam as “polifonias tradicionais minhotas”.

“Temos o interesse de trazer a perspetiva do outro. A programação mistura vimaranenses e pessoas de outras localidades. É-nos muito cara esta ideia de encontro entre as pessoas do bairro, de fora do bairro e as pessoas de Guimarães e as de fora de Guimarães”, aponta ao Jornal de Guimarães (JdG) Carlos Correia, coordenador da Outra Voz, uma das entidades responsáveis pela programação.

Essa variedade não é apenas geográfica; é também estilística, como demonstra este fim de semana. Depois do registo popular desta sexta-feira, que inclui cantares ao desafio, o Trovador acolhe às 19h00 de sábado o registo jazz de Leonor Arnaut, em diálogo com a bateria de Ricardo Martins. O domingo é tempo para a conversa entre Serafim, narrador de contos tradicionais, e Patrícia Amaral, uma atriz e encenadora que também vive a contar histórias desde 2002.

As dissonâncias entre os “cantares ao desafio”, os “contadores de histórias” e as “perspetivas mais experimentais” unem-se para robustecer a “harmonia do bairro C”, uma ideia para Couros que, além da música, já tem promovido a arte de rua, o cinema e a reflexão sobre o papel da arte e da arquitetura na vivência do espaço público.

No fundo, o Bairro Coral procura reunir “diferentes facetas vocais” num espaço que se quer de “encontro” em pleno verão, refere o coordenador da Outra Voz desde 2013. “A Outra Voz vê como prioritário promover o encontro das pessoas. A Discos de Platão também desenvolve atividade nesse sentido. Temos interesses próximos sobre o legado oral, a voz memória, a voz coral, a voz reivindicativa”, frisa.

 

“Faz sentido trazermos a voz às ruas”

O Bairro Coral é um dos dois projetos de programação cultural do Bairro C eleitos para se realizarem no âmbito da open call da Câmara Municipal de Guimarães, a par do “Contos & Continhos em Couros & Courinhos”, da cooperativa Mercado Azul, também já em curso. Editora e promotora artística criada em 2021, a Discos de Platão está também a cargo do Bairro Coral. Fá-lo sobretudo para amplificar a voz num tempo em que ela parece amordaçada. “Nos dias de hoje, em que parece que aparentemente temos menos voz e que andamos mais ou menos amordaçados, faz sentido trazermos a voz às ruas. Quer o Carlos Correia, quer eu temos uma ligação muito forte ao trabalho vocal e humano”, adianta Rui Souza, programador cultural a cargo da editora.

O ainda músico lembrou a atuação de Nuno Marques Pinto no fim de semana anterior – uma “experimentação vocal através de poesia visual” a que nunca tinha assistido -, para referir que esta iniciativa preenche um vazio na programação cultural vimaranense, enriquecido pelo “choque positivo de aprendizagens” entre registos vocais díspares. “Este cruzamento é incrível, porque aprendemos muito. Podemos ver cante alentejano, o que nesta zona é raro. Isso está altamente difundido”, vincou.

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