Biblioteca empresta 50 livros por dia num tempo em que ler é “diferente”
Às portas do 31.º aniversário, que comemora na terça-feira, a Biblioteca Municipal Raul Brandão (BMRB) empresta, em média, 50 livros ou publicações por dia e reúne cerca de 30 mil leitores inscritos, que utilizam quer a Casa dos Carneiros, o edifício central na rua de Santa Maria, quer os polos de Caldas das Taipas, Pevidém e Lordelo, quer as 52 bibliotecas da rede escolar de Guimarães, informou Juliana Fernandes, da BMRB, na conferência de imprensa de apresentação do festival literário Húmus, realizada na sexta-feira.
Esse é o agora daquele espaço numa era de transformações na relação entre livro e leitor, cada vez menos sujeita à “imersão”. “Qualquer coisa que era o livro e a leitura há meia dúzia de anos, é hoje necessariamente diferente. Hoje o tempo de leitura e o tempo de concentração são obviamente menores. Preocupa-me a falta de tempo dos alunos para lerem, para se submergirem no livro”, referiu a vereadora municipal com o pelouro da educação e das bibliotecas.
Para Adelina Paula Pinto, a reconfiguração em curso dá palco “às leituras mais diagonais”, alimentadas, por vezes, em “cruzamentos disciplinares”, ainda que a leitura na Internet não tenha, a seu ver, a “profundidade” da de um livro. “Não acho que hoje se leia menos. Lê-se de forma diferente. Vamos ganhando competências para leituras diferenciadas”, salienta.
A vereadora crê assim a biblioteca vai “ter de se aliar a outras formas de incentivo da leitura”, vertente mais despercebida na Capital Europeia da Cultura de 2012, com as obras previstas para a Casa dos Carneiros a não se realizarem. Aliás, o festival Húmus tenta precisamente “alavancar o livro e a leitura como uma das artes e uma das formas de intervenção junto da população” num território reconhecidamente cultural, com eventos como o GUIdance ou o Guimarães Jazz.
Ciente de que a ida a uma biblioteca para se consultar uma enciclopédia por si só é algo do passado, Adelina Paula Pinto frisa que a população tem na BMRB um espaço de “portas abertas” para ler com silêncio, mas também para o “trabalho colaborativo”. “A biblioteca passou a ser espaço de estudo, de trabalho colaborativo. Já ninguém vai à biblioteca para pesquisar numa enciclopédia. Claro que pode haver consulta apoiada nestes espaços de trabalho, de silêncio, de vagar, como nos diz Évora, que continuarão a fazer sentido”, realça.