Bragança vê nova urbanização como molde para “dar futuro” à cidade
O tom dos discursos após a inauguração das três ruas do futuro quarteirão Fábrica do Minhoto – rua do Bairro C, rua da Indústria e Avenida Herculano José Fernandes - foi de regozijo.
Descerrada a placa toponímica alusiva ao empresário que detinha a fabrica do Minhoto e a fábrica do Cavalinho, entretanto demolidas, e que se tornou proprietário do terreno onde decorre a operação urbanística, o presidente da Câmara Municipal de Guimarães enalteceu o perfil “empreendedor” de Herculano José Fernandes, mas também a ambição de “criar riqueza em Guimarães, de investir em Guimarães e de dar futuro a Guimarães”, materializada pelos filhos na futura urbanização com 17 lotes para habitação e um para comércio e serviços, já a funcionar.
“Ele teve esse compromisso com Guimarães. Quem cria valor tem todo o direito de investir em qualquer parte do mundo, mas há uma marca distintiva nos empresários com amor por Guimarães: é que querem investir o valor criado em Guimarães”, vincou.
Convencido de que a atribuição do nome de Herculano José Fernandes ao arruamento que recorta o quarteirão de sul para norte é “merecida”, o presidente da Câmara defendeu que é preciso “mais habitação, “mais alguns espaços comerciais”, “mais alojamentos para estudantes” e até mais “hotelaria” para Guimarães ser “mais cidade” em “tempos exigentíssimos”, de “revolução digital e automação”.
Um dos filhos de Herculano José Fernandes, Ricardo Herculano, salientou que o pai “sempre apoiou várias instituições locais”, sendo talvez a associação à Unidade Vimaranense, como fundador, “o maior demonstrativo da preocupação que teve com o desenvolvimento de Guimarães”.
Quanto às três ruas que constituem o esqueleto da futura urbanização, o responsável lembrou que a “obra” era “sonhada há anos pelo pai”, ao longo de uma “vida empresarial de grande dimensão e diversificada”. “Queremos dar continuidade aos seus projetos. Quando idealizou este projeto, não foi certamente intenção do meu pai ter esta distinção”, disse.
O presidente da Junta de Freguesia de Urgezes, Luís Abreu, defendeu que o novo topónimo é “uma justa homenagem” a Herculano José Fernandes, “empresário à moda antiga que aproveitava todo o dinheiro que conseguia para potenciar mais produção e qualidade de vida”. A requalificação daquela área “devoluta”, “de fábricas abandonadas” vai “devolver o espaço à população”, acrescentou.
A indústria como passado e a “comunidade” como futuro
A rua da Indústria, alinhada de leste para oeste, junta-se à Avenida D. Afonso Henriques onde outrora esteve a fábrica do Cavalinho e evoca o passado têxtil daquele local, de que são testemunhos a antiga chaminé da Jodimonte e a fábrica do Arquinho, destinada aos cursos de engenharia aeroespacial e de ciência de dados da Universidade do Minho.
“Ainda me lembro da fábrica do Cavalinho, da fábrica do Arquinho, da Jodimonte, da fábrica Cães de Pedra, da fábrica do Minhoto, que, pelos vistos, chegou a ser da família Jordão. Este quarteirão deu lugar a um espaço muito bonito que certamente vai ser muito bem aproveitado”, vincou Isidro Lobo, um dos empresários a quem coube descerrar a placa que indica esse novo topónimo.
Numa cota abaixo, há uma rua paralela, em dois sentidos, que homenageia o Bairro C, projeto cultural apresentado em 2020 que visa unir memórias, criações, instituições da área a sul do centro histórico, desde Couros até à Avenida Conde de Margaride, via Caldeiroa.
“O Bairro C tem por objetivo esta ligação entre Couros, Caldeiroa e avenida Conde de Margaride, incluindo a Universidade do Minho, uma série de estruturas associativas, o CIAJG e a Casa da Memória. Esta é uma comunidade que se entreajuda com o objetivo de tornar esta zona da cidade uma zona de conhecimento, de cultura, de arte”, vincou Ricardo Areias, diretor do Centro para os Assuntos de Arte e Arquitetura, uma das instituições dessa área.
Para Domingos Bragança, a memória da indústria deve indicar o caminho para um futuro com “elevadas competências e qualificações nos trabalhadores e empresários”, enquanto o Bairro C emerge como “ideia de excecional força”.
“O Bairro C é uma ideia de excecional força, porque significa cultura, ciência, comunidade, cidadania, curtumes, Caldeiroa, Cruz de Pedra, Cães de Pedra (…). Temos uma cidade histórica, a preservar, mas também a obrigação de deixar uma marca contemporânea, de acrescentar legado para aqueles que vêm depois”, reiterou.