Câmara compra património da Turitermas. Oposição fala em servir “clientela”
O presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança, mostrou-se cauteloso perante a compra do polidesportivo e do parque de campismo, bem como de um imóvel que serve de restaurante no parque de Caldas das Taipas, até agora pertença da Taipas Turitermas. “Vamos ver”, começou por dizer a propósito da operação de dois milhões de euros, vertida na proposta aprovada na reunião do executivo municipal desta segunda-feira, com os votos a favor da maioria PS e votos contra da coligação Juntos por Guimarães.
O autarca justifica a operação com o “serviço de dívida avultado” com que se depara a Turitermas, contraído face à requalificação do edifício dos Banhos Novos, vocacionado para o termalismo, e à construção do polidesportivo, orçado em 1,4 milhões de euros e inaugurado em 2017. Detida maioritariamente pela Câmara Municipal – 95% das ações -, a cooperativa poderia ver o seu “problema financeiro” resolvido sem intervenção se os credores da dívida – bancos que emprestaram dinheiro – aceitassem a “reprogramação da dívida” para um prazo de 20 anos.
Face à recusa dos bancos, Domingos Bragança alega que a Câmara tem tentado resolver a situação por outras vias, primeiro pelo aumento de capital social, tentado há três anos, mas recusado pelo Tribunal de Contas (TdC), e agora pela alienação de parte do património, também a avaliar pelo TdC. Caso o órgão jurídico recuse a operação, pode ser necessário equacionar a concessão de alguns serviços da Turitermas a privados.
Convencido de que o investimento no polidesportivo deveria ter sido feito pela Câmara Municipal ao invés da Turitermas, já a braços com dívida bancária, o presidente defendeu, ainda assim, todos os investimentos realizados pela cooperativa. "O investimento foi bom para as Caldas das Taipas, o que significa que foi bom para Guimarães. A Câmara está a tentar resolver um problema que não é mais nada do que financeiro", vincou.
Um striptease de fundos
A oposição à maioria PS encarou a proposta com um tom de “censura”. Para Bruno Fernandes, candidato a presidente da Câmara pela coligação Juntos por Guimarães em 2021, esta operação é o culminar de um “striptease de fundos” disponibilizado pela Câmara para “engordar uma estratégia do PS” para fazer a cooperativa substituir-se à Junta de Freguesia de Caldelas, quando este órgão era presidido pelos sociais-democratas [antes de 2017].
“O desporto e o lazer afastam-se da atividade central (…). A Câmara desviou a sua ação do termalismo e passou a assumir competências que não eram da sua vocação. Quis criar uma junta paralela à Junta de Freguesia de Caldelas, do PSD (…). A cooperativa deixou de servir os interesses das Taipas e passou a servir os interesses da sua clientela política”, acusou o vereador.
Convencido de que o processo que levou ao endividamento da Turitermas foi um “desbaratar de dinheiro dos vimaranenses”, Bruno Fernandes criticou o “beneplácito” da Câmara para um investimento de 1,4 milhões num polidesportivo que “não serve para nada” quando a cooperativa já revelava dificuldades em saldar os empréstimos anteriores.
“Se não temos dinheiro, não fazemos os investimentos. Porque é que na Taipas Turitermas se aplica um critério diferente? Ao fim de 33 anos de governação, esta maioria está a apagar fogos que ateou”, acrescentou.
Dívida bancária corresponde a 91% do passivo
Sintonizado com Bruno Fernandes, o também social-democrata Ricardo Araújo atribuiu a “responsabilidade” pelo estado atual da Taipas Turitermas ao poder político de Guimarães e aos “gestores” que têm passado pela cooperativa.
O vereador da JpG recuou no tempo para vincar que a comparticipação de fundos europeus para a reabilitação dos Banhos Novos, na ordem dos quatro milhões de euros foi de 22%, o que obrigou a cooperativa a contrair dois empréstimos – um de 2,4 milhões e outro de 700 mil euros.
Quando se notou que tinha “dificuldades em pagar” empréstimos com “períodos de carência relativamente curtos”, a cooperativa avançou para o investimento no polidesportivo, decisão que mostra um comportamento “acima das possibilidades”. "A Taipas Turitermas não é capaz de libertar meios para pagar os seus empréstimos bancários", realçou.
Ao somar os quatro empréstimos, Ricardo Araújo realçou que a dívida da Turitermas aos bancos ascendia, em dezembro de 2021, aos 5,3 milhões de euros – 91% do passivo total à data, de 5,85 milhões de euros.
Intervenções na íntegra (em vídeo)