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CCVF é o Palco Principal onde os SillySeason procuram “resgatar narrativas”

Tiago Mendes Dias
Cultura \ sexta-feira, setembro 22, 2023
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A partir de um dos clássicos de Tchekhov, “A Gaivota”, o espetáculo de sábado à noite deambula por temas intemporais com um olhar contemporâneo e plural. Encerra-se assim o 18.º aniversário do CCVF.

São sete os intérpretes que vão subir ao palco do Grande Auditório Francisca Abreu, no Centro Cultural Vila Flor (CCVF), para apresentarem pela primeira vez Palco Principal, a mais recente criação artística da companhia SillySeason. Caberá à personagem de Dalila Carmo, atriz com extenso percurso na televisão, no cinema – Vale Abraão, de Manoel de Oliveira (1993), ou A Comédia de Deus, de João César Monteiro (1995) – e no teatro, lançar a primeira pergunta: “O que é que se vai fazer hoje aqui?“. As outras personagens respondem simplesmente: “Vamos resgatar narrativas”.

Essa é a tentativa de uma peça em estreia absoluta, que sobe ao palco a partir das 21h30 de sábado como último capítulo das comemorações do 18.º aniversário do CCVF. Mais do que encontrar soluções ou conclusões, a obra quer “colocar perguntas em cima do espaço cénico”, tendo como ponto de partida um dos clássicos do teatro, A Gaivota, pela primeira vez interpretada em 1896, em São Petersburgo.

“Os temas de que A Gaivota trata são intemporais, mas apercebemo-nos de que os temas são falados pelas mesmas pessoas ou por pessoas muito idênticas. Quando é que outras pessoas com outros modos de vida, com outras narrativas e características, mas invisíveis na história, poderão ter lugares para falar”, realça Ivo Saraiva e Silva, um dos membros da SillySeason, a par de Ricardo Teixeira e Cátia Tomé, também intérpretes de Palco Principal.

Esses temas intemporais são o drama familiar e a reflexão sobre o próprio teatro, com as novas formas que A Gaivota lançou – discurso implícito das personagens, por exemplo. Mas o olhar dos SillySeason, companhia que regressa a Guimarães depois de ter apresentado Fora de Campo nos Festivais Gil Vicente de 2021 - é o contemporâneo. Tenta ser assim nas linguagens – uma amálgama de música, dança, áudio e vídeo, com o texto talvez “mais preponderante na hierarquia” – e na seleção dos intérpretes, vinca Ivo Saraiva e Silva.

Dalila Carmo, por exemplo, é “uma apaixonada por Tchekhov”, e deu à companhia “muito estofo para transformar “a linguagem tchekhoviana clássica” na “linguagem pós-dramática” dos SillySeason, explica. João Cachola é um ator emergente, responsável pela companhia As Crianças Loucas, enquanto Aura da Fonseca é uma jovem intérprete que reúne artes visuais, performance e teatro para um trabalho que explora questões de género e de sustentabilidade.

“É uma peça muito metateatral, em que o teatro fala sobre si próprio. Fala sobre as novas formas artísticas, novas formas de existência, de trabalho, de nos relacionarmos e de nos inscrevermos na história que aí vem. E tentamos que esses colaboradores venham adicionar discurso e formas de fazer. Convidar pessoas muito diferentes entre si”, descreve Ivo Saraiva e Silva.

 

“Ressignificar os clássicos” em megafesta

A estreia de Palco Principal é mais um capítulo de uma missão que os SillySeason se propuseram a cumprir desde o início do ano: o de “encontro com os clássicos intemporais do teatro” que fundaram o pensamento ocidental. Depois de Rei Édipo, tragédia grega de Sófocles, a companhia sediada em Lisboa encontrou-se com “o tio Tchekhov” e A Gaivota, peça escrita como comédia, embora várias vezes interpretada como tragédia ao longo do tempo. A realidade do quotidiano da época, onde “as pessoas iam ao teatro para se verem a si próprias ou pessoas iguais a si, a comer, a beber, a andar, a terem conversas aparentemente triviais”, dá lugar a uma inquietação sobre a realidade por vir.

“Que realidade é esta que temos hoje? Que realidade queremos firmar hoje? E que realidade queremos para o futuro? Se queremos uma realidade específica para o futuro, temos de a começar a preparar. Ainda bebemos vodka na peça, como as personagens do Tchekhov na altura, mas há coisas que mudaram”, realça Ivo Saraiva e Silva, a propósito de um espetáculo com Língua Gestual Portuguesa, cujos bilhetes têm um custo unitário de 10 euros.

De regresso a uma sala “muito presente no percurso académico e artístico” dos SillySeason, Ivo Saraiva e Silva promete um espetáculo “muito apelativo visualmente”. “Os SillySeason são todos do norte e vir a esta sala é quase fazer uma megafesta com uma família que se escolheu”, clama.

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