Constituição ilustrada e arte itinerante para lembrar Democratas de Braga
Na década de 60 do século XX, emergiu no distrito de Braga uma resistência organizada ao Estado Novo que teve como figuras de proa os bracarenses Victor de Sá e Humberto Soeiro, o famalicense Lino Lima e os vimaranenses Eduardo Ribeiro e Joaquim Santos Simões, cujo centenário do seu nascimento se assinala em 2023.
A memória desse grupo, Democratas de Braga, vai ser homenageada por uma comissão promotora com intervenientes de todo o distrito e ações que se estendem desde 2022 até 2024, ano em que se pretende inaugurar um memorial de homenagem aos homens e mulheres do distrito que se opuseram à ditadura.
“Queremos, por isso mesmo, homenagear todos os Democratas num memorial pensado pelo arquiteto António Cerejeira Fontes. Vai ser um dos momentos áureos, porque vai ser inaugurado, espero eu, nos 50 anos do 25 de Abril”, realçou Paulo Sousa, membro da comissão promotora, durante a apresentação das iniciativas homenagens, decorrido nesta segunda-feira, na Sociedade Martins Sarmento.
Até lá, o programa da comissão instaladora, ainda por fechar, tenciona homenagear os militares de Abril oriundos ou residentes no distrito, bem como os deputados da região à Assembleia Constituinte, e recolher depoimentos de estudantes, trabalhadores, comerciantes e empresários que, à época, apoiaram o esforço clandestino para derrubar o Estado Novo.
A evocação dos Democratas de Braga conta ainda com debates, como o que estará a cargo de Manuel Sarmento, professor do Instituto de Educação da Universidade do Minho – “A democracia que queremos. A democracia que temos” -, e “As mulheres e a democracia”, sob a alçada de Etelvina Sá e da União de Mulheres Alternativa e Resposta, com a divulgação de livros, com uma exposição de fotografia, 25+25=50, com a obra do malogrado fotojornalista José Delgado Fernandes, que cobriu o 25 de Abril em Braga.
A partir do responsável pelas homenagens em Fafe, Artur Ferreira Coimbra, surgiu a ideia de mostrar aos jovens a evolução histórica desde 1926 através dos nomes das ruas e das suas mudanças. “É uma forma de os jovens perceberem a realidade de forma mais aprofundada, a partir de uma coisa tão simples”, descreve o responsável.
Fundador, em 2021, do Movimento de Cidadania contra a Indiferença, dinâmica da qual saiu a comissão promotora, Paulo Sousa vincou ainda que esta é uma iniciativa que “emana da sociedade civil”, aberta a quem nela queira participar. “Precisamos de envolver o máximo de pessoas possível: partidos políticos, associações empresariais e associações culturais. Somos todos cuidadores da democracia. Temos todos de fazer algo por ela e não esperar que aconteça por si só”, defendeu.
Evocação de Santos Simões aos Sons (e ilustrações) da Liberdade
Entre as ações previstas, há algumas com cunho vimaranense a difundir por todo o território distrital. Uma delas é a adaptação da Constituição da República Portuguesa de 1976 para os alunos das escolas, a cargo de Wladimir Brito, constitucionalista, professor catedrático da Escola de Direito da Universidade do Minho e membro da comissão promotora.
“O professor Wladimir Brito vai orientar cientificamente a elaboração de uma Constituição ilustrada para os mais novos, a partir do 4.º ano de escolaridade, em que se começam a tentar perceber os direitos e os deveres”, resume Paulo Sousa.
O concerto Sons da Liberdade, promovido anualmente pela Sociedade Musical de Pevidém desde 2016, a cada 24 de abril, é outra das iniciativas em destaque, que pode vir a correr o distrito, tendo sido alvo dos elogios de outro vimaranense na comissão instaladora, César Machado. “O Sons da Liberdade é um modo superior de comemorar a liberdade e o papel da canção na luta pela liberdade durante toda a resistência”, vincou aquele que foi o coordenador da obra Guimarães: daqui houve resistência, precisamente dedicada aos vimaranenses que combateram o Estado Novo.
A memória de Joaquim Santos Simões, professor, dirigente associativo e democrata que marcou a vida cultural vimaranense a partir do final da década de 60, é outro ponto-chave do programa, tal como a do bracarense Salgado Zenha, também nascido em 1923. “Relativamente a Santos Simões, defendemos uma coordenação deste movimento com aquilo que a Câmara tem pensado com as associações a que ele esteve ligado. Já há um movimento concelhio no sentido de o celebrar”, antecipou.