Berço do Clube de Rope Skipping das Taipas, a escola também é futuro
Martim Ribeiro ensaia um simples salto à corda e depois tenta um mortal, perante olhares dos colegas e dos treinadores. “Gostei sempre de fazer atividade física. Aprendi muita coisa com os treinadores”, afirma prontamente ao Jornal de Guimarães, num resumo dos dois anos a praticar rope skipping. Aos 10 anos, o saltador é campeão nacional da prova de overall no escalão de benjamins, um entre dezenas de atletas com títulos pelo Molinhas – Clube de Rope Skipping das Taipas.
Os primeiros datam de 2009, quando o grupo que então treinava na EB 2 e 3 das Taipas arrecadou o primeiro lugar em corda individual e em corda dupla (double dutch), na primeira edição da Taça Nacional de Rope Skipping, em Coimbra. “Isto surgiu de um projeto do professor Nuno Dias. A situação foi ficando um pouco mais séria quando os alunos começaram a aderir e a querer mais. Em Coimbra, os alunos das Taipas destacaram-se e houve a decisão de se formalizar a modalidade”, recorda a presidente do clube, Sandra Freitas.
Passados 14 anos, esse núcleo de saltadores ostenta centenas de títulos regionais, nacionais e internacionais, alguns deles nos cinco campeonatos do mundo em que participou – está prestes a viver o sexto, em Colorado Springs (Estados Unidos). Pelo meio, o grupo constituiu-se como o primeiro clube exclusivamente dedicado rope skipping em Portugal. Fê-lo em 12 de fevereiro de 2015, depois de um período a trabalhar com o CART. “Havia a necessidade de alocar recursos à modalidade. O clube surgiu para concentrar os esforços e os patrocínios angariados em prol do rope skipping”, explica a dirigente.
À medida que afinava a organização, o clube crescia em número de atletas. Tinha entre 40 e 50 atletas em 2015 e, daí, cresceu até aos 70 a 75. Essa trajetória desabou com a pandemia de covid-19. Apesar das desistências, já se sente o impulso para recuperar, assume Sandra Freitas. Segundo clube com mais praticantes no país, atrás do Lisbon Skippers, o clube voltou ao patamar dos 40 a 50 saltadores, mas quer mais. “O primeiro objetivo é ampliar o número de atletas. O segundo é os resultados, que vêm com o trabalho”, reitera.
“Saltar para brincar” antes de saltar para competir
O Clube de Rope Skipping das Taipas organiza-se consoante os atributos físicos trabalhados pelos atletas. Ângelo Santos é o responsável pela preparação física, pela velocidade, pela potência e pela resistência. Já o freestyle – vertente do rope skipping que envolve saltos com coreografia – está sob a alçada de Gabriel Ferreira, Catarina Guimarães e Paulo Lima, alguns dos saltadores mais experientes do Molinhas. Ligado ao Molinhas há 14 anos, Paulo vê uma clara evolução de um treino de “tentativa e erro” para “treinos específicos com bases que resultam”. “Quando comecei, era o meu próprio treinador. Não tínhamos qualquer tipo de base. Aprendíamos a ir ao YouTube ver o que os outros países faziam”, recorda o treinador e atleta, de 24 anos.
A escola, todavia, mantém-se como palco privilegiado para a divulgação da modalidade. A par da colega de equipa Catarina Guimarães, Paulo está a apresentar nas escolas o Jump4Fun, um projeto da Associação de Portuguesa de Rope Skipping (APRS) onde se “salta a brincar” com alunos e professores. “Se se levar o rope skipping às escolas na sua forma competitiva, ninguém vai querer, porque é algo muito difícil de fazer”, realça o atleta especialista em velocidade. Graças ao projeto, o rope skipping chegou à Madeira, ao distrito de Leiria, a Barcelos ou a Lousada, abrindo-se uma janela para saltadores de competição.
Esse interesse, diz o responsável, estende-se a várias Câmaras Municipais, preocupadas com as dificuldades motoras apresentadas nas provas de aferição do 2.º ano de escolaridade. “O facto de uma criança não conseguir dar cinco saltos seguidos é preocupante. Os municípios começam a procurar a modalidade como forma de combate à obesidade”, explica.
Os laços com as escolas e o poder local parecem estreitar-se, mas a modalidade precisa de um acesso ainda mais vincado aos projetos do Desporto Escolar para se afirmar, defende Sandra Freitas. A transformação da APRS em federação desportiva seria uma ajuda nesse sentido, mas também no apoio aos atletas de alta competição, sobretudo no momento de entrar para a universidade. “É muito difícil conciliar a preparação para as competições internacionais com os exames nacionais. Têm de fazer escolhas e isso condiciona o futuro deles. Com o estatuto de alta competição, poderiam fazer os exames em época especial e já não estariam condicionados", salienta.
“Vamos sempre depender das escolas”
Na Escola Secundária de Caldas das Taipas, um contingente do Molinhas ensaia alguns movimentos. Especialmente apta na velocidade, Francisca Pereira iniciou-se no rope skipping através da escola: soube que Leonor Araújo, colega na EB1 de Ponte, praticava e decidiu experimentar. Aos 15 anos, competem ambas no mesmo escalão, embora a vocação de Leonor seja o freestyle. O facto de a mãe trabalhar numa das escolas de Caldas das Taipas conduziu-a àquele desporto. Experimentou, gostou e diz “sentir mais facilidade em qualquer atividade física”. "Ajuda-nos praticamente em tudo”, realça.
Criado na escola, o clube vai alcançar melhores resultados quanto mais estreita for a colaboração com os estabelecimentos de ensino, defende Sandra Freitas. "Vamos sempre depender das escolas, porque a dimensão do nosso clube não nos permite instalações próprias”, avisa, enaltecendo as relações até agora firmadas. Alheios à conversa, Margarida Santos, de 11 anos, e João Santos, de oito, experimentam a corda e falam da influência dos pais; afinal a mãe de ambos é a presidente do clube. E ao lado de João, Rafael Gama, também de oito, diz estar ali para fazer ginástica. Foi o amigo Martim Ribeiro que lhe disse para ir.