Da “perda” à “explosão de energia”: novo álbum de Captain Boy sobe ao CCVF
Quando compara o novo trabalho com os outros que já lançou – os discos 1 (2017) e Memories and bad photographs (2019), bem como Captain Boy (2015) e Música de meias (2021) -, Captain Boy destaca “as sonoridades psicadélicas dos anos 60 e 70”, refletindo as incursões pelo piano, pelo teclado e pelos sintetizadores, abalos à dominância da guitarra. A perspetiva confirma-se logo nos primeiros segundos de “Cactos”, a primeira das oito faixas de Domingos Lentos, que, com a expressão – “O filme foi longo, a luz acendeu só para lembrar” – que dá vida a uma introspeção por respostas para as sensações de “perda” e de “autodestruição”
“O final é uma explosão de energia. O disco começa com a perda. No final, tem essas evocações todas, quase psicadélicas, com aquelas vozes todas a virem da esquerda e da direita, efeitos de voz e de guitarra. É uma catarse para finalizar o disco. E, aí, sim, vem a bonança”, descreve Captain Boy, alter-ego do músico vimaranense Pedro Ribeiro, que apresenta o disco este sábado no Centro Cultural Vila Flor, a partir das 21h30.
Mais do que contestar o primado da guitarra, o autor também mudou a língua em que se expressa: o inglês dos anteriores trabalhos é, em Domingos Lentos, o português de todos os dias. E foi essa alteração que lhe permitiu escrever “Só se estraga uma casa”, o primeiro single do álbum, expressão sem qualquer tradução para o idioma a que se habituara. “Foi uma forma de me exprimir melhor, porque este disco é bastante pessoal, com expressões tipicamente portuguesas”, explica.
Essa canção, a sexta do álbum (02.42 minutos), é o mote para um dos aspetos que Captain Boy mais gosta: a interligação “conceptual” com “Domingos Lentos”, o segundo single, e “A sul de nenhum norte”, a canção que encerra o disco. “Dá para perceber na progressão de acordes e na própria harmonização”, realça, antes de dizer que “o disco tem o pormenor engraçado de ser cíclico”, já que “as vozes do início, que começam, terminam ‘A sul de nenhum norte’”.
Sair da “zona de conforto”
As ideias para Domingos Lentos emergiram em Captain Boy “antes da pandemia de covid-19”, mas a composição só arrancou quando sentiu que “tinha distanciamento e maturidade suficientes” para o fazer.
E o processo de criação diferiu dos álbuns anteriores: se até agora Pedro Ribeiro gravava todos os instrumentos em estúdio, sozinho, tendo uma banda a acompanhá-lo ao vivo, desta feita convidou a banda para a produção; ela sobe ao palco do CCVF, sendo formada por Giliano Boucinha (guitarra, piano e teclado), Paulinho Harley (baixo), Maurício Medon (bateria) e Flávio Pereira (trompete).
“A banda assim também dava um bocadinho de si. Este disco é um bocadinho mais de toda a gente, não só meu como cantautor. É também mais direcionado para os espetáculos ao vivo”, realça.
A outra marca d’água de Domingos Lentos é o local de gravação: a Casa do Vento, um moinho em Torres Vedras, onde Pedro Ribeiro e Giliano Boucinha, o seu produtor de sempre, se encontraram com um outro produtor, Pedro Sousa Moreira. “Foi uma forma de sair da minha zona de conforto e trabalhar com métodos diferentes”, descreve. O trabalho foi depois masterizado por Timothy Stollenwerk, que já trabalhou com Morphine, Kevin Morby, Chromatics.