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De fachada em fachada, a arte urbana vai pincelando o cinzento da cidade

Pedro C. Esteves
Cultura \ segunda-feira, julho 18, 2022
© Direitos reservados
Da muita cor que tem emergido por via do Bairro C, uma espécie de laboratório social permanente, à memória de um futebolista querido pela comunidade, os murais vão-se disseminando pela cidade.

Nelson não é artista “estritamente urbano”, mas a “vida” tem-no “chamado” para mostrar o engenho em galerias a céu aberto. E quem diz que uma travessa na zona das antigas indústrias de Guimarães não é um bom sítio como qualquer outro para darmos de caras com um polvo enorme – agora mais desbotado – que, no fundo, quer sensibilizar para a acumulação de lixo nas cidades? É só uma das obras do vimaranense Nelson Xize. Aos tentáculos que se movem naquele beco da Rua da Caldeiroa tem-se juntado muita cor por via do Bairro C, uma espécie de laboratório social permanente.

E “tem havido consequências positivas destas intervenções”, sublinha o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Guimarães, Paulo Lopes Silva. “Quer do ponto de vista da sinalização de espaços, mas também na ativação de alguns espaços menos comuns”, refere.

Pinturas efémeras como o polvo de Nelson Xize (em coautoria com Nuno Machado), murais reaproveitados, mobiliário urbano revitalizado. A arte urbana polvilha a cidade. E Nelson Xize vê isso com agrado. “De há cinco ou seis anos para a frente, sinto que tem evoluído muito, há uma consciência, uma maior aceitação por parte dos municípios e entidades, que contratam artistas para intervir em espaço urbano”, refere ao Jornal de Guimarães o também membro fundador membro fundador dos projetos de animação teatral/musical “Trupe Sei” e Teatro Infantil “FunnyToches”.

Convicto que a expressão artística “só acrescenta à cidade”, Nelson denota uma “maior vontade do município em ter manifestos de arte urbana na cidade”. Ator no panorama artístico desde os primeiros anos do século, acredita que a arte urbana “é mais democrática”: chega a mais público e “não está fechada em galerias”. E em Guimarães há cada vez mais “peças” que já justificam uma espécie de roteiro.

É difícil quantificar os projetos de arte urbana no concelho. Mas vão aparecendo: o centro de convívio e cultura da EB1/JI de Agras, em Gandarela, o mural inaugurado aquando do European Vespa Days, o semblante sorridente de Neno no Estádio D. Afonso Henriques, o “Estorninho” de Kruella d'Enfer que “repousa” na fachada da Cenatex são alguns exemplos.

“Parece-nos que esta prática, ao ter ativado alguns recantos da cidade, concretamente no Bairro C, gerou também esta capacidade de replicação noutros locais”, indica o vereador com o pelouro da cultura da Câmara Municipal de Guimarães.

 

O polvo num beco da Rua da Caldeiroa. Nelson Xize é coautor da intervenção @Imagem cedida por Nelson Xize

O polvo num beco da Rua da Caldeiroa. Nelson Xize é coautor da intervenção @Imagem cedida por Nelson Xize

 

Um Bairro que se desmultiplica

Projeto implantado entre a área de Couros e a avenida Conde de Margaride desde julho de 2020, com o intuito de criar “novas leituras” sobre aquele território outrora fabril, o Bairro C tem usado a arte pública como forma de sinalizar o espaço, “para chamar a atenção para a área geográfica onde o projeto se desenvolve”.

As intervenções já sobem a Conde de Margaride acima e espera-se novo capítulo na praça da Plataforma das Artes e Criatividade. “No primeiro ano dedicamo-nos à zona de Couros, avançamos para a zona do mercado e feira semanal, tivemos algumas intervenções na parte de baixo da Afonso Henriques. E este ano as intervenções de arte pública que teremos serão na praça da Plataforma das Artes. Sendo certo que a intervenção não será de cariz definitivo”, refere.

 

Escadaria na avenida Conde de Margaride, intervencionada por Monica Mindellis @Pedro C. Esteves/JdG

Escadaria na avenida Conde de Margaride, intervencionada por Monica Mindellis @Pedro C. Esteves/JdG

 

Trabalho em rede

Ali perto, numa travessa contígua, há um exemplo de como a arte em espaço urbano pode revitalizar espaços devolutos. Para além dos tentáculos do polvo na Caldeiroa, a escadaria que liga a Avenida Conde de Margaride à Plataforma das Artes e da Criatividade; residência Artística, da autoria de Mónica Mindelis, é exemplo da capacidade transformadora desta expressão artística.

A maior pegada das artes visuais no espaço público vimaranense também está ligada a iniciativas como o Projeto Triangular - que junta o CAAA - Centro para os Assuntos da Arte e da Arquitetura, Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) e Escola de Arquitetura, Artes e Design da Universidade do Minho. Mas também à possibilidade recente de artistas individuais se candidatarem ao IMPACTA – o regulamento de apoio a Projetos e Atividades Culturais definido pelo município. Isso “abriu a porta a que muitos que não estavam constituídos enquanto entidades pudessem também ver projetos viabilizados por financiamento municipal”.

 

Obra de Kruella d'Enfer, entre a Conde de Margaride e a rua João XXI @Pedro C. Esteves/JdG

Obra de Kruella d'Enfer, entre a Conde de Margaride e a rua João XXI @Pedro C. Esteves/JdG

 

Uma ligação Gaia-Guimarães. Pelo meio, Neno

É incontornável. O sorriso de Neno na fachada lateral do D. Afonso Henriques saúda todos os que por lá passam desde o início do ano. Autor dos grafitis que contam a história do clube no interior do estádio, Miguel Mazeda – Guel do It –  é o responsável por eternizar o rosto do antigo guardião do Vitória SC por cima da porta 10.

A homenagem artística “passou por vários processos”. “Com burocracias e outras questões, o projeto não se conseguiu realizar logo. Mas a vontade do Vitória era realmente fazer isto e pouco tempo depois contactou-me”, conta ao Jornal de Guimarães.

Feito o contacto, idealizado o projeto, em dias o grafiti ganhou forma. Neno continuará a sorrir às gerações vindouras, em permanente diálogo com quem passa.

A fachada pitada por Guel do It no D. Afonso Henriques @Pedro C. Esteves/JdG

A fachada pitada por Guel do It no D. Afonso Henriques @Pedro C. Esteves/JdG

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