Ecovias vieram para ficar: depois do Ave e do Selho segue-se o rio Vizela
A apresentação da Ecovia do Selho confirmou uma aposta do município de criar alternativas de mobilidade, essencialmente para lazer, ao longo do território vimaranense. Em breve teremos disponíveis cerca de 80 kms de traçados em grande parte acompanhando as margens dos principais cursos de água do concelho.
A Ecovia do Ave já está em andamento, prevendo criar 29 kms nos quais será possível atravessar o concelho em toda a sua extensão nas margens do rio Ave, ligando vários parques de lazer já existentes e potenciando a criação de novos espaços verdes à beira-rio.
Esta semana foi apresentado o traçado da ecovia do Selho, mais 22km pedonais e cicláveis que prometem fazer as delícias da população de mais catorze freguesias: Serzedelo, Gondar, Selho S. Cristóvão, Selho S. Jorge, Candoso S. Martinho, Silvares, UF Candoso S. Tiago e Mascotelos, Creixomil, Fermentões, Pencelo, UF Selho S. Lourenço e Gominhães, Aldão, São Torcato e Gonça.
A juntar à primeira fase da ciclovia urbana já inaugurada, entre Mesão Frio e Creixomil, leva a que se completem, então, 67 km. Um número que vai ser alargado, uma vez que está já projetada uma segunda fase desta ciclovia, que em grande parte permitirá interligar os vários trechos que estão a ser criados. O próximo avanço será traçar uma ecovia para o rio Vizela, em Moreira de Cónegos e Lordelo, algo que que já está em cima da mesa.
“Traz uma qualidade muito grande para as populações”
A Câmara Municipal de Guimarães é o principal promotor deste grande projeto subdividido em pequenos projetos, tendo como parceiros o Laboratório da Paisagem e a UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Frederico Meireles, diretor do mestrado de arquitetura paisagística da UTAD, é um dos rostos do processo, destacando que as ecovias trazem mais-valias para a população, para o património e até para os diferentes ecossistemas.
“Em conjunto as duas ecovias ocupam uma extensão muito considerável do concelho, conseguem tocar uma franja muita grande da população, sendo quase um grande parque linear ao longo dos rios que permitem a fruição da população. Para além disso estão articuladas numa rede que vai para lá da ecovia, que interliga vários parques, jardins, outras ciclovias e outros percursos importantes. Destaco também outro aspeto importante, o facto de sensibilizar as pessoas para a importância destes ecossistemas ribeirinhos, com muita biodiversidade e onde se pode ter um percurso diferente dos espaços urbanos, tendo uma perspetiva muito mais natural do território de Guimarães. Trata-se de um projeto muito importante”, refere Frederico Meireles ao JdG.
Pela primeira amostra, da primeira fase da ecovia, e pelos primeiros trechos da Ecovia do Ave que são amplamente utilizados, essencialmente para fins lúdicos, as ecovias atrairão a população para as margens do rio. A expetativa é que possam ser utilizadas também em deslocações diárias e não apenas como lazer.
“Os percursos ao longo do rio tocam muitas pessoas, muitos aglomerados populacionais e a deslocação ao longo da ecovia é bastante suave. O declive não é muito acentuado, e a deslocação através da ecovia é fácil. Por estar articulada com a rede de percursos que falei anteriormente torna possível fazer deslocações não só recreativas, mas também úteis”, sustenta.
Em conclusão, Frederico Meireles considera que está a ser elaborado um projeto com “traçado coerente, correto e tecnicamente bem estruturado, com uma valorização estética do rio e com trazendo uma qualidade muito grande para as populações que vivem próximas do rio, permitindo mais movimento a quem vive neste eixo”.
Presidentes de junta satisfeitos
Na globalidade este projeto das ecovias cicláveis, a juntar às ciclovias, agrada aos presidentes de junta de freguesia que verão os rios ganhar uma nova dinâmica. O JdG ouviu alguns dos presidentes de junta, envolvidos na Ecovia do Selho, que se mostram agradados com o que um projeto deste tipo pode acrescentar.
É o caso de António Martins, presidente da Junta de Freguesia de São Torcato, que acredita que a Ecovia do Selho pode alavancar o turismo de natureza que se pratica na vila, até porque percentagem considerável desta ecovia passa pela freguesia. “Vamos centralizar a importância do rio Selho em São Torcato, vamos dar uma nova alavanca ao turismo de natureza. A parte do rio Selho em São Torcato é a parte mais natural do rio, isto é, a água é mais limpa porque a partir daí passa por áreas industriais e habitacionais. Tentaremos aproveitar alguns dos trilhos que existem na vila, como a Rota dos Moinhos, para, não só os torcatenses, mas também quem nos visitar usufruir dos trilhos. Uma das paragens principais será um dos principais monumentos da vila, a Capela do Monte do Santo, que fica sobranceira mesmo ao rio Selho e, portanto, ali será ponto central da ecovia do Selho na nossa freguesia”, aponta.
Mais a sul, em Pevidém, Angelino Salazar também crê que a ecovia será benéfica, ainda que a proposta de traçado que foi apresentada não seja a mais desejada, mas trata-se de algo que poderá ser revisto. “Temos a Ecovia do Ave, que tem pontos de interesse, nomeadamente ali na Ínsua, tem um património muito significativo, e temos a do Selho também tem, até porque passa por um percurso mais industrial, no meio de algumas fábricas, mas mais do que isso porque a Ecovia do Ave passa num limite da freguesia, e a outra passa mais no centro. Na nossa perspetiva vai ter dois impactos: a questão ambiental, de recuperação do património, e a nível paisagístico; vai ter também um impacto urbanístico; nós somos uma freguesia periférica, com a ecovia, e a promoção dos percursos pedonais, pode haver aqui uma integração na malha urbana da cidade muito mais natural, menos intrusiva”, sublinha Angelino Salazar.
Continuando a sul, Cristiano Ferreira perspetiva que as pessoas serão atraídas ao rio com esta obra e até considera que pode ajudar a requalificar património que necessite. “É uma mais-valia, traz um bocadinho a proximidade aos rios de antigamente. Vai trazer uma forma de as pessoas caminharem naquela zona, parceira com a natureza, será uma forma agradável de caminhar. Embora a ecovia não chegue à extremidade da freguesia, temos uns moinhos que estão em degradação, é um terreno privado, mas seria uma forma de prolongar um pouco mais, e com o proprietário é a câmara, restaurar aquela parte dos moinhos antigos. Temos zonas muito agradáveis, que vão acabar por ter uma boa acessibilidade para as pessoas acederem. Criámos recentemente o trilho das capelas, que acaba por passar pelo nosso património. Temos cinco capelas emblemáticas e o nosso mosteiro nacional. O trilho dignifica esse nosso património”, conclui.