Em Guimarães, deu-se a conhecer projeto para aumentar reciclagem de vidro
A taxa de reciclagem de embalagens de vidro em Portugal atingiu a marca dos 60% em 2011, mas, ao invés de subir, como aconteceu na maior parte dos países europeus, acabou por cair, face ao “aumento do consumo” e à “estagnação da reciclagem do material”, revela um estudo elaborado pela Sociedade Ponto Verde (SPV), principal entidade gestora da reciclagem de embalagens em Portugal, sem fins lucrativos, apesar de privada, e pela Associação dos Industriais de Vidro de Embalagem (AIVE).
Apresentado nesta tarde de terça-feira, no Laboratório da Paisagem, esse estudo mostrou ainda que entre as cerca de 150 mil toneladas de embalagens de vidro consumidas por ano no canal Horeca – hotéis, restaurantes e cafés -, 97 mil “não vão para reciclagem”. Assim, as duas entidades resolveram avançar com um projeto-piloto para aumentar o volume de reciclagem nesses estabelecimentos, em curso desde 07 de março, em dois municípios da Resinorte – Guimarães e Vizela – e em quatro associados à Lipor – Matosinhos, Porto, Gondomar e Espinho.
Ao invés de colocarem “garrafa a garrafa”, os proprietários ou funcionários dos estabelecimentos servem-se de um “dispositivo no ecoponto” para o “baldeamento assistido”, explicou ao Jornal de Guimarães a diretora executiva da SPV, mesmo antes da apresentação do projeto “Mais vidro, mais reciclagem – Horeca faz parte da solução”. “No final do dia, o estabelecimento tem um contentor com todas as garrafas de vidro que resultaram do consumo e encaixa-o num equipamento que coloca de uma vez só todas as garrafas de vidro no ecoponto”, detalha Ana Trigo Morais.
Tanto a SPV como a AIVE creem que o objetivo dos 75% de reciclagem até 2030 exige o contributo do canal Horeca, já que um estabelecimento do setor consome, em média, 2.945 quilos de embalagens de vidro por ano; o consumo de cada lar fica-se, em média, pelos 63 quilos, esclareceu a secretária da AIVE, Beatriz Freitas. “É neste canal que reside atualmente a oportunidade mais eficiente de recuperação de vidro usado, pela sua concentração de produção”, vincou.
Ciente do papel que uma reciclagem mais frequente tem no ambiente – a reciclagem de uma tonelada de embalagens de vidro evita o uso de 1,12 toneladas de matérias-primas naturais, para lá dos gastos energéticos e das emissões de carbono -, a responsável disse ainda que o projeto-piloto assenta no “bem sucedido” modelo espanhol. “Não vale a pena inventarmos a roda”, assumiu.
Já Susana Ramalho, responsável pelos operadores de recolha da SPV, lembrou os estudos sobre vidrões adaptados em parceria com a Amarsul, empresa de gestão de resíduos na Península de Setúbal, em 2014, com quatro vidrões para 25 estabelecimentos, ditando um “aumento superior a 300% na reciclagem”, e com a Algar, congénere do Algarve, com 24 vidrões para 50 locais e aumento de 85% entre agosto e novembro, para defender a pertinência do projeto.
“Este projeto vai durar 18 meses. Os outros projetos eram para analisarmos a tecnologia, para vermos se estavam adaptados aos estabelecimentos. Com este projeto, queremos perceber se o estabelecimento continua a separar. No final, queremos um equipamento que sirva para reciclarmos cada vez mais vidro”, sublinhou. O projeto-piloto entrou em ação em Cascais, a 14 de março, e deve também ser implementado no Algarve, em maio, antes de ser eventualmente alargado a todo o território nacional.
“Mobilizar” é preciso
Num país que tem a maior produção per capita de embalagens de vidro na Europa – 6 mil milhões por ano em três fábricas que têm como principal foco a Marinha Grande e 3.500 trabalhadores -, uma das chaves para o sucesso do projeto é “mobilizar” o canal Horeca para reciclar mais, frisou Ana Trigo Morais.
“Estamos todos a dar resposta para cumprir os desafios pela frente e para um esforço essencial para o país cumprir a sua responsabilidade”, afirmou. “Estamos a mobilizar hotéis, restaurantes e cafés para cumprirem este projeto. O espírito colaborativo é a melhor forma de vencermos os desafios pela frente”.
A presidente da AIVE, Sandra Santos, lembrou, por seu turno, que é preciso inserir “nos fornos cada vez maiores quantidades” de vidro para reciclar; a verificar-se tal circunstância, o país terá de “importar menos desperdícios” para reciclar e poderá convergir com outros países europeus, já com os 90% no horizonte.
“Os portugueses gostam de reciclar. Não há resistência a nível de consumidores. A nível europeu, a indústria comprometeu-se a atingir os 90% num prazo mais alargado. Mas também seremos capazes de mostrar ao Governo que poderemos ir além dos 75%”, perspetivou.
Já a vereadora da Câmara Municipal para o ambiente vincou que o projeto da qual a Resinorte é parceira se enquadra na política de Guimarães para o desenvolvimento susentável, inscrita na agenda da autarquia desde 2014, e também no trabalho do Laboratório da Paisagem, de “aproximação entre setor público, setor privado e academia”, em “partilha”.