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Em Sande, olha-se para o futuro “acima” com “competitividade” no presente

Tiago Mendes Dias
Desporto \ sexta-feira, maio 03, 2024
© Direitos reservados
Com a formação certificada com 3 Estrelas pela FPF e 200 atletas, um relvado sintético e a equipa principal no Campeonato de Portugal, a ambição é formar atletas e homens para “alimentar os seniores”.

Ainda com luz solar, antes da azáfama e com o relvado todo à disposição, Tiago vai brincando com a bola. Trajado de azul, remata à baliza no relvado sintético do Dona Maria Teresa, casa do Sandinenses. Foi neste mesmo campo, há 13 anos, que chegou para treinar pela primeira vez, pela mão do avô, na altura para integrar o treino dos petizes, juntamente com outros meninos de cinco anos. Hoje, com 19, é um dos elementos da equipa de juniores que disputa a Divisão de Honra da AF Braga, a última etapa do processo de formação no clube de São Martinho de Sande.

É um dos sensivelmente 200 atletas que diariamente, ao fim da tarde, noite dentro, transformam o parque de jogos local, dando-lhe vida e a irreverência da juventude que vai faltando durante o dia. O GDRC Os Sandinenses é um dos emblemas do concelho de Guimarães com certificação de 3 Estrelas enquanto Entidade Formadora por parte da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Às duas centenas de atletas – com idades compreendidas entre os cinco e os 19 anos –, juntam-se mais 50 pessoas do staff, entre treinadores, dirigentes e outras funções necessárias para o desenrolar da atividade.

“Tem de haver uma coordenação muito grande”, aponta David Ribeiro, o responsável pela formação do clube nos últimos quatro anos. Enquanto vai dando indicações a um ou outro elemento que chega entretanto, indica que a formação evolui por força do esfoço abnegado de pessoas que gostam do clube. “Um grupo de pessoas, da freguesia e das redondezas, gosta muito disto, do clube, e isso, parecendo que não, ajuda muito: faz a diferença”, considera.

As duas centenas de miúdos dividem-se por 13 equipas, e é nesta base, a do voluntarismo, que um trabalho amador se equivale a estruturas com outros meios. “Recentemente veio cá o Limianos, todos profissionais, e perguntaram como é que mantemos esta dinâmica não sendo profissionais”, exemplifica David Ribeiro.

 

“O segundo relvado sintético veio ajudar muito”

A história de Tiago encaixa neste perfil. O avô de Tiago Silva Martins era diretor dos juniores há 15, trazendo os netos, ainda em tenra idade, para começar a ostentar o símbolo do clube e enraizar o sentimento que se cultiva em Sande São Martinho. “Nunca quis trocar de clube, pelo convívio que há aqui, pela ligação que tenho ao clube. Gosto muito de representar a minha freguesia”, atira o lateral direito dos juniores, que chegou mais cedo para poder treinar mais um pouco naquele final de tarde.

David Ribeiro complementa: “Quem está aqui é porque gosta mesmo disto”. Os treinos, por norma, iniciam-se às 18h45, “o primeiro turno para os mais novos”; das 20 horas às 21h30, são os mais velhos a preencher os dois campos sintéticos. Até há bem pouco tempo, era apenas um, e mais um pelado, a juntar ao relvado natural, o dos seniores. “O segundo relvado sintético – o terceiro campo – veio ajudar muito”, salienta o coordenador da formação, lembrando que, em caso de condições climatéricas adversas, é necessário libertar espaço para os seniores, “para poupar o relvado”. Mas, com o novo sintético, há mais espaço, o que permite aos treinadores “pôr em prática um leque mais alargado de exercícios”. “Quem me dera ter mais um campo, mais balneários, mas, olhando aos outros clubes, não nos podemos queixar”, resume.

A certificação enquanto Entidade Formadora tem sido uma das apostas do Sandinenses nestes últimos anos, quer como forma de validar o trabalho feito, quer também como instrumento de evolução, ainda que, admite David Ribeiro, acarrete “algumas exigências que são incompreensíveis a este nível”. “É um processo muito complexo, muito exigente a nível de burocracia e de pequenas coisas que acabam por ser complicadas nos clubes que trabalham nos nossos moldes”, sustenta.

 

Competitividade para “chegar lá acima, aos seniores”

“Temos de sistematizar tudo o que fazemos a nível de trabalho de campo, para perceberem o que fazemos, os processos que temos com os miúdos, microciclo de trabalho, macrociclo, tudo isso tem de ser muito bem estruturado e transmitido”, adianta. A isto, juntam-se questões como “desfibrilhador, médico, fisioterapeutas, várias coisas que acabam por ser exigentes”. “Tem os seus aspetos positivos”, considera, mas também tem coisas que vê como “desnecessárias”, aumentando a exigência também nos recursos humanos, como a necessidade de ter treinadores devidamente certificados.

A ambição passa por “ter equipas o mais competitivas possível”, por forma a que seja “possível fazer chegar cada vez mais jogadores da formação lá acima”, aos seniores. “Vai muita gente treinar aos seniores, fazemos questão. Queremos grupos competitivos, a lutar sempre para ganhar, mas com a qualidade e com os processos que treinamos. Para que seja possível alimentar a equipa principal; os jovens têm de trabalhar, dos mais pequenos aos já mais velhos, com esse estímulo de jogar na equipa principal”, remata o coordenador. Na construção desses valores, por norma, nos fins de semana preenchidos, não há jogos de camadas jovens quando o Sandinenses joga em casa, precisamente para que os mais novos possam estar na bancada.

Disso mesmo é exemplo Tiago Silva Martins, o jovem de 18 anos dos juniores que acalenta o sonho de “jogar pelos seniores no clube da terra, no clube do coração”, podendo ser no Campeonato de Portugal, já que os azuis garantiram a manutenção nesse patamar”. Ao fim de contas, o jovem que atua com a camisola número dois teve no Sandinenses “uma ajuda para crescer enquanto pessoa”. “O clube está a crescer muito. Nesse trajeto, ajudou-me também a crescer. Quero retribuir, se possível, ajudar o clube a crescer também”, conclui Tiago Silva Martins, enquanto se vai preparando para mais um treino.

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