“Estamos a perder muita população. Não temos oferta de habitação”
Manuel Teixeira - Presidente da Junta de Freguesia de Lordelo
Confrontada com uma quebra demográfica de 18% nos últimos 30 anos, Lordelo tenta inverter a tendência com novas bolsas de habitação na área mais central e espera ter mais oferta futura para acompanhar a previsível expansão económica, com uma nova zona industrial a acompanhar o lotado parque de Mide.Eleito pela primeira vez em 2013, o autarca vê com agrado o novo posto da GNR e a vida associativa da vila, enquanto aguarda a requalificação do centro cívico.
Que balanço faz de uma década à frente da Junta de Freguesia? Que problemas encontrou e que soluções aplicou?
Estou no terceiro mandato como presidente, mas trabalhei com todos os presidentes da Junta. Tenho uma dedicação à causa pública de mais de 30 anos. Resolvemos problemas com décadas como o do posto da GNR. Só agora está na fase de conclusão. Outra das grandes melhorias é o parque de lazer, assunto que estava esquecido. Estamos a trabalhar no âmbito do PDM, com proprietários e a Câmara, para fixar mais gente em Lordelo, pois estamos a perder muita população. Não temos oferta de habitação, embora já se comece a arrendar casas. A população da freguesia aproximou-se das cinco mil pessoas [4.848 em 1991] e agora está abaixo das quatro mil [3.979, em 2021].
Foi um alívio ver assinado o contrato para o novo posto da GNR e iniciada a obra, em junho de 2023?
Havia um bom entendimento com o Governo, mas só descansamos quando vimos o protocolo com a Administração Interna assinado [em novembro de 2022]. As forças de segurança queixavam-se. O espaço não tinha a dimensão necessária, nem estava adaptado para o trabalho da GNR. Havia infiltrações de água. A criação de uma cela e a criação de uma sala de vítima estão bem encaixadas neste projeto, que tem uma localização boa, na zona industrial de Mide. Vamos ter uma capacidade de resposta muito maior.
A freguesia tem sido mencionada nas discussões sobre mobilidade concelhia. Como avalia a hipótese de maior frequência nas ligações ferroviárias entre a cidade e Lordelo?
É bom haver essa discussão e falar-se nas ligações até Lordelo. Aqui é a porta de entrada do concelho. Temos a ferrovia até Guimarães, com acessos bons. Gostaríamos de mais um apeadeiro na zona de Atainde, perto do Fundão. A freguesia veio beneficiar dos transportes públicos da Guimabus e da Ave Mobilidade. A lacuna é não termos um transporte direto ao longo da EN 105. Na Guimabus, essa ligação só vai até Moreira de Cónegos. Estamos ainda a fazer um acesso pedonal entre o apeadeiro da estação e a zona industrial de Mide.
Esse acesso pode facilitar o acesso de quem se serve do comboio para trabalhar em Mide e robustecer a principal zona industrial de uma terra com tradição no setor têxtil?
A zona industrial de Mide está lotada. A partir de 2012, com o novo parque industrial, Lordelo deu um pulo muito grande. Queremos uma zona industrial entre a Via Intermunicipal e a Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos da Resinorte. Já há um anteprojeto. A procura é grande a nível de grandes empresas nacionais e internacionais, em Lordelo e no resto do concelho, mas não temos espaço para as atrair. Queremos também habitação. Precisamos que as pessoas estejam perto dos empregos.
Como vê o centro de Lordelo, desde a igreja ao parque de lazer. São precisas mexidas?
É preciso melhorar esta zona central. Vai haver um pequeno passadiço nessa zona, que terá parque de lazer, parque infantil, parque de merendas. Gostaríamos também de um miradouro. Temos um parque de lazer de excelência, que vai ter algumas casas em banda e geminadas. A contrapartida dos proprietários para cederem o terreno era tornar parte dele urbanizável. O projeto já está na Câmara e prevê que a rotunda de acesso ao centro, junto ao polo da biblioteca municipal, na EN 105, seja alargada. Queríamos avançar com essa obra em 2024 e dar-lhe continuidade em 2025. É a obra mais emblemática para concretizar, mas, em termos de valores, deve rondar um a 1,5 milhões de euros. Também queremos melhorar o Fundão, perto da via-férrea e da Sampedro, uma fábrica centenária. Em tempos, era a zona mais nobre da freguesia. Queremos alargar e pavimentar a rua até à EN 105.
Em 2022, foi inaugurado o centro comunitário na antiga escola do Alto. A vida associativa de Lordelo melhorou desde então?
A Escola do Alto foi encerrada pela falta de alunos. Ficámos com a Escola Básica de Carreiro e, a qualquer momento, temos de a aumentar. No centro comunitário do Alto, conseguimos colocar dois ranchos, o LordVespas, a associação de heavy metal, um grupo de bombos e os escuteiros. Temos ainda um grupo de zumba que lá vai duas vezes por semana. As associações não tinham espaços e tinham de pagar rendas. Ali não estão a pagar nada: nem luz, nem água. A associação de heavy metal [4815 – Associação Musical e Cultural] está a afirmar-se como alternativa musical, com eventos que trazem gente de fora. A nossa meta era um grande festival de metal, mas neste momento não há capacidade.
A nível social, Lordelo dispõe de todas as valências necessárias para servir a população?
O nosso lar de idosos está sobrelotado. As pessoas têm, muitas vezes, de recorrer aos lares das redondezas. Precisa de ser ampliado, mesmo para a sua viabilidade. E está em marcha um novo projeto para dotar o edifício da Associação de Reformados de Lordelo de mais uma sala de creche. A associação presta bons serviços, é muito procurada, mas não tem capacidade de resposta.
Que legado deixa à comunidade? Que marcas dos seus mandatos gostaria de ver lembradas?
Espero que se lembrem de mim como uma pessoa atenta, que procurou ajudar tudo e todos, que procurou sempre servir e nunca se servir. Estive na Junta com a missão de deixar uma freguesia mais atrativa. Penso que isso acaba por se conseguir.