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Este movimento quer mostrar que há muito para "preservar" no rio Ave

Pedro C. Esteves
Ambiente \ terça-feira, agosto 03, 2021
© Direitos reservados
Moinhos, azenhas e açudes ladeiam o Ave e a sua história também se conta com este património. O movimento Viver o Ave luta pela preservação do rio e isso valeu uma nomeação para o prémio Guarda-Rios.

Gualter Costa conhece o percurso “metro a metro”, mas mesmo assim ainda se surpreende com o que ladeia o rio Ave. É que há um “manancial de património desaproveitado” ao longo das margens: estruturas seculares como azenhas, açudes e moinhos prontas para a descoberta. Tarefa que seria mais fácil com a ajuda de uma ecovia integral que percorresse o Ave. “Trata-se de um rio que, pelas suas dimensões, largura e caudal de água tem o comprimento ideal para fazer uma ciclovia com alguma dimensão”, explica o porta-voz da organização Viver o Ave, Gualter Costa. O objetivo deste movimento cívico passa por consciencializar para a proteção e preservação da sua bacia hidrográfica deste curso de água que abrange 14 freguesias do concelho de Guimarães.

Aproveitar o rio “para fins turísticos” pode ser um passo importante para concretizar o objetivo: a despoluição. “Pratico BTT há muitos anos, andei por quase todas as ciclovias do país e comecei a aperceber-me que começavam a ser polos de atração”, indica. E com um trilho entre a foz e a nascente, Gualter acredita que as autarquias “podiam perceber” que a ideia “teria potencial” - à imagem do que acontece noutros traçados ribeirinhos do país, o advento das bicicletas elétricas (e do cicloturismo) e a “oportunidade única” proporcionada pelos fundos destinados ao ambiente vindos da bazuca europeia podem funcionar como catalisadores para aproximar as pessoas dos rios. “A nossa mensagem é mostrar o Rio Ave pela positiva, mostrar o que há para ser preservado, valorizado. Tudo o resto virá por arrasto, inclusive quando as pessoas começarem a circular junto às margens também haverá mais fiscalização cidadã”.

A mensagem tem passado e o movimento está nomeado para o Prémio Guarda-Rios, uma iniciativa do GEOTA que visa alertar para aquelas que têm sido as práticas positivas e negativas nos rios lusos. Estes nomeados serão alvo de uma votação do público, entre 21 de julho a 9 de agosto de 2021, que selecionará os vencedores. A 23 de agosto serão anunciados os vencedores e o GEOTA atribuirá os prémios aos primeiros classificados durante a Gala Guarda-Rios (a 1 de outubro de 2021), como também uma Menção Honrosa e Desonrosa para os segundos lugares.

"Este prémio, dado o seu reconhecimento e prestígio a nível nacional poderá ser uma importante alavanca mediática para a promoção de toda a bacia hidrográfica do Ave, assim como, para alertar as entidades competentes ao mais alto nível para a necessidade urgente de pôr um termo na poluição crónica das suas águas", explica, num comunicado, o porta-voz do movimento.

Há nestas margens património secular para recuperar

E neste capítulo a ecovia integral pode ajudar. Na mesma nota informativa, é também valorizado o "invejável património histórico, molinológico, industrial, hidroeléctrico e até religioso" presente nas margens do rio Ave. Com a aproximação das pessoas ao rio, fomenta-se também uma relação afetiva. “Se criarmos um plano e criarmos a ecovia que integra este património disperso ao longo do Ave, conseguimos ter uma das melhores ciclovias do país”, frisa Gualter Costa. Na ótica do porta-voz do Viver o Ave, a pandemia de covid-19 também contribuiu para uma relação mais próxima com o rio. As caminhadas e prática de desporto nas zonas ribeirinhas para afastar o marasmo de confinamentos sucessivos permitiu às pessoas perceberem “o quão agradável é conviver com o rio”. No fundo, aperceberam-se que a qualidade de vida “estava mesmo ali ao lado", e que a "tinham ignorado durante décadas”. “Nota-se uma sensibilidade das pessoas para o rio em toda a bacia”, analisa.

Mas esta relação afetiva pode ser aprimorada. Salvaguardar o património e saber como o reconstruir, para que, no futuro, seja recuperado é uma prioridade. Segundo Bruno Matos, arquiteto, investigador e voluntário, “seria benéfico” haver por município “um engenho” – uma azenha tradicional, por exemplo – com um objetivo pedagógico. Até porque o “património está a desaparecer” e apenas os moleiros sabiam reconstruir estas infraestruturas. Os municípios também já alertaram que não há documentação para restaurar as azenhas. “Sabe-se que existem, mas não há registo fotográfico”, ressalva Gualter. Ou seja, há azenhas que desapareceram e não há registo fotográfico – essencial para futuros esforços de reconstrução.

"Um projeto cidadão"

Neste capítulo, voluntários e entusiastas podem dar uma ajuda valiosa. “Um projeto cidadão” como o Viver o Ave, explica Gualter, só é possível com a colaboração das pessoas. Um comunicado do movimento dá conta da intenção de construir um “arquivo aberto e gratuito” de recortes, fotos ou jornais para suprimir a inexistência de um arquivo documental estruturado e histórico dedicado ao Vale do Ave – rio Ave, Vizela e Este.

“Este é um projeto totalmente aberto à comunidade, sendo nosso objetivo reunir e catalogar documentação histórica (documental e fotográfica) relacionada com as várias dimensões da Bacia Hidrográfica do Ave, para que as memórias históricas que ainda persistem dispersas um pouco por todo lado (e por muitas gavetas) possam ser salvaguardadas para memória futura e não se percam com o passar do tempo”, lê-se numa nota informativa.

 

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