“Exigente e disciplinado”, Pedro Rui é símbolo de um Torcatense com 95 anos
"São mais marcantes os remates que falho do que os que marco. Sempre fui muito exigente e disciplinado”, confessa o avançado de 40 anos, com 16 ao serviço do União Torcatense.
Esse leque enquadra o remate defendido por Amir; o lance deu-se ao minuto 37 daquele que Pedro Rui descreve como “um jogo muito importante” na história de um emblema prestes a completar 95 anos, em 26 de setembro: trata-se da receção ao Marítimo, para a terceira eliminatória da Taça de Portugal, em 14 de outubro de 2017. A equipa de São Torcato criou várias ocasiões, mas perdeu o seu primeiro e único jogo frente a um primodivisionário, por 1-0. “Nunca tinha visto o Arnado daquela maneira. Estava completamente lotado. Perdemos, mas podíamos ter ganhado. Foi um jogo marcante", reitera.
Ao lado de atletas como Filipe e Garcia, Pedro Rui era o homem-golo da equipa que conduziu o Torcatense ao patamar competitivo mais elevado do seu historial: marcou por 47 vezes nas quatro épocas em que os vimaranenses disputaram o Campeonato de Portugal, entre 2015/16 e 2018/19. Agora na Divisão de Honra da Associação de Futebol de Braga, o jogador admite ter recebido “propostas tentadoras a nível financeiro”, mas nunca para um escalão superior ao CP. O carinho do emblema que representa desde 2008 pesou sempre mais na decisão final. “Gostava muito da terra e fui ficando”, descreve o futebolista natural de Vila Nova de Sande.
Pedro Rui constitui-se assim como referência do Torcatense, clube que começou por jogar num terreiro em frente à hoje basílica – precisamente o edifício que reveste o emblema – e que se muda para o Campo do Arnado na década de 70 do século XX, depois de se inscrever pela primeira vez em competições associativas, no caso as do Inatel. O clube inscreve-se de vez na Associação de Futebol de Braga na década de 80, mas a época áurea teve de esperar pelo século XXI. Por Pedro Rui. “Gosto muito disto. Gosto mesmo de jogar”, assume.
"O bichinho vai existir sempre”
Grato por uma história onde sobressaem o seu treinador no CP, Francisco Branco, o anterior presidente, Nelson Pereira, e o atual, Carlos Fernandes, Pedro Rui anunciou, em agosto, que 2023/24 será a última temporada da carreira. Embora seja difícil abdicar de um jogo que aprendeu na rua, com os amigos, e que aprimorou no Ponte e no Torcatense, o dianteiro promete manter a decisão; com a idade a avançar, torna-se cada vez mais difícil recuperar a condição física entre os jogos. "O bichinho vai existir sempre, mas será o meu último ano. Temos de saber quando acabar. Há pessoas novas prontas a serem tão importantes como eu", aponta.
Com os dois filhos no Torcatense – um de 12 anos e outro de seis -, Pedro Rui vê a formação com qualidade suficiente para assegurar o futuro do clube e aconselha os mais jovens a treinarem com rigor, sem esquecerem os estudos: “A alimentação, os cuidados que devem ter, as companhias: tudo isso é importante, sabendo que muitos miúdos não vão ser jogadores. Têm de estudar, que é o mais importante".