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Formar com casa às costas: Pevidém cavalga pelo concelho à espera de campo

Tiago Mendes Dias
Desporto \ quarta-feira, março 27, 2024
© Direitos reservados
As condições para o futebol de 7 em Pevidém são precárias. Para as equipas de futebol de 11, são inexistentes: com iniciados, juvenis e juniores em Campelos, o clube exige novo relvado sintético.

Rodrigo Fontão lembra-se vagamente do primeiro treino com a camisola azul-celeste do Pevidém SC; era uma criança de tenra idade e correu com a bola no sintético que ainda hoje serve as equipas de futebol de 7. “Até achava bom, porque não tinha muita noção de como se jogava noutros sítios”, assinala o defesa central, agora com 16 anos. A perceção mudou com viagens a outros campos; as críticas às infraestruturas dos cavaleiros de São Jorge eram recorrentes. “Comecei a perceber que não era bem isto que é suposto existir”, prossegue. As dificuldades tornaram-se mais notórias com a transição para o futebol de 11, aquando da promoção ao escalão de iniciados – dos 14 anos em diante.

À exceção do relvado natural, somente apto para jogos da equipa principal, as equipas de iniciados, juvenis e juniores não dispõem de campos com as medidas adequadas no Parque de Jogos Albano Martins Coelho Lima, pelo que treinam regularmente em Campelos. Em épocas anteriores, serviram-se dos campos da UD Airão, do FC Prazins e Corvite ou do GD Souto e Gondomar. Nascido e criado em São Jorge de Selho, Rodrigo viu colegas rumarem a outras paragens. “Não evoluímos para ter um campo de futebol de 11 sintético. Partimos sempre um passo atrás das outras equipas, que treinam nos campos delas”, descreve.

A observação do capitão dos juniores dá eco à perspetiva dos dirigentes. Ligado ao Pevidém SC há nove anos e presidente há pouco mais de seis, Rui Machado viu a formação atingir um pico de cerca de 250 jogadores. Hoje, esses escalões reúnem 135 atletas, tendo por base um complexo desportivo onde o relvado para futebol de 7 é o mesmo de há 15 anos, exibindo buracos - os sintéticos têm uma “vida útil de 10 a 12 anos”, sublinha o responsável máximo. Os balneários anexos são “ridículos, terceiro-mundistas”, estruturalmente “frios e húmidos”, denuncia.

Habituado a andar com a casa às costas, com as “dezenas de milhares de euros por época” que a decisão acarreta, Rui Machado depara-se com a perda de atletas, com a perda de projetos – a prática feminina ou a equipa B masculina – e com o crescente leque de emblemas vimaranenses no futebol de formação, intensificando a concorrência.

O ambicionado relvado sintético, por exemplo, está encurralado por blocos de habitação e pela ausência de terrenos municipais em Pevidém, embora haja um terreno da Câmara que serve as aspirações pevidenses nas imediações da vila. “Seria uma zona muito boa para nós. O campo seria só para a formação. Não resolvia todos os problemas, mas permitir-nos-ia mais do que uma equipa do mesmo escalão”, indica, sem esquecer a necessidade de novos balneários.

O dirigente sugere até que se apliquem os 100 mil euros pendentes de um subsídio municipal nesse relvado, lamentando, em simultâneo, a ausência de feedback da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal quanto às reivindicações do clube. Esse desagrado com o poder local foi, aliás, expresso no desfile de Carnaval de 13 de fevereiro. “Temos formação, sempre tivemos, e não temos campo de futebol de 11. Há clubes que criaram formação depois e já os têm”, compara.

 

"Nada falta, mas temos de ir buscar tudo fora”

A falta de infraestruturas obriga as equipas jovens do Pevidém SC a um dia a dia nómada, com deslocações pelo concelho e o “desgaste mental” que daí advém, confessa o treinador dos juniores. “Temos jogadores de várias pontas do concelho, de Tabuadelo ou de São Lourenço de Selho. Em todos os treinos, vão e vêm na carrinha disponibilizada pelo clube. Torna-se complicada a logística”, refere João Lopes. Grato ao Campelos pela cedência do relvado, o líder do Pevidém vinca que o dia de jogo, sempre fora de portas, acarreta “perda de identidade”. 

Ainda assim, o clube trabalha para dotar os jogadores com os recursos necessários. Quando assumiu o cargo de diretor-geral da formação, em setembro de 2022, Armando Jorge assustou-se com a “escassez de atletas” – eram 47 em todos os escalões. Sem hipótese de ter juniores para a época 2022/23, o clube “deu um passo atrás para dar dois ou três à frente”, dispondo, neste momento, de duas carrinhas para o transporte das equipas, de uma equipa médica liderada por Rui Vaz a título gracioso e de um protocolo com a associação Alma Branca no apoio aos estudos. Vice-presidente para a formação desde dezembro de 2023, Francisco Machado cede o ginásio de que é proprietário para treino e recuperação. “Nada falta aos atletas, mas, lá está, temos de ir buscar tudo fora. Tudo fazemos para garantir o que eles necessitam, mas aqui não temos”, resume.

Pese as limitações, o Pevidém SC concluiu a época transata como entidade formadora certificada com 3 Estrelas pela Federação Portuguesa de Futebol, classificação que ostenta desde a temporada 2020/21. "É quase um milagre, atendendo às nossas infraestruturas. A direção garante os requisitos obrigatórios, com muito esforço de toda a gente”, realça o diretor-geral da formação, sem esquecer os objetivos a longo prazo, corroborados por Rui Machado, de ver as equipas de futebol de 11 nos principais campeonatos distritais e, quem sabe, na 2.ª Divisão Nacional.

Ao lado, João Lopes frisa que o Pevidém contorna a falta de recursos físicos com a aposta nos recursos humanos e a “qualidade no trabalho”, refletida na promoção de nove atletas das equipas de juvenis, no ano passado, e de juniores, neste ano, aos treinos dos seniores. “Temos uma equipa muito acima da média para o que era expectável”, diz o treinador, acerca do conjunto que é terceiro na Série C da 2.ª Divisão distrital, lutando pela subida ao escalão acima.

Capitão dos juniores pelo perfil de “responsabilidade” e pela postura “de exemplo” que lhe apontam, mesmo com idade de juvenil, Rodrigo Fontão já realizou um jogo particular pela equipa principal. Ciente da exigência que o futebol dá ao seu quotidiano, a par da escola, o cavaleiro ainda se imagina a galopar rumo a uma Primeira Liga, ainda que essa seja uma meta distante. Mais exequível é o objetivo de jogar nos campeonatos nacionais pelo clube que acompanha desde os cinco anos. “O meu sonho é estrear-me pela equipa sénior e, se possível, dar continuidade ao futebol sénior”, confessa.

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