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Gama Brandão: a “sensibilidade” para crianças que começou há 50 anos

Bruno José Ferreira
Saúde \ sábado, fevereiro 05, 2022
© Direitos reservados
A mortalidade infantil “era assustadora” e Gama Brandão combateu esse flagelo com a criação da Pediatria do Hospital de Guimarães, há 50 anos. Aos 91 anos, tem inveja das condições de hoje em dia.

A presença do médico pediatra Gama Brandão na cerimónia de apresentação do livro dos 50 anos do Serviço de Pediatria do Hospital Senhora da Oliveira – Guimarães, permitiu fazer uma viagem no tempo até à criação deste serviço.

Já aposentado, o fundador deste serviço recorda que “a mortalidade infantil era assustadora” em Guimarães, “uma das maiores do país”. Depois de se ter especializado no Hospital D. Estefânia, em Lisboa, aprimorando-se aí o gosto por crianças, decidiu travar a luta pela criação da pediatria no Senhora da Oliveira.

“Tirei a especialidade num grande serviço, no Hospital D. Estefânia, em Lisboa. Havia muito rigor e muito diálogo, chamavam-nos a atenção para o futuro. Lutavam muito pela diminuição da mortalidade infantil, que era menor do que aqui no norte.  Como gosto muito de crianças, quando vim para aqui e verifiquei que não havia serviço de pediatria, não havia uma consulta externa de pediatria, e a percentagem de mortalidade infantil, que era 12%, a pior do distrito de Braga e das piores do país”, explicou, à margem do evento.

Seguiu-se uma luta burocrática e até para mudar mentalidades, mas a realidade é que nos claustros de um antigo convento, conhecido como Hospital Velho, a pediatria começou a funcionar.

“Fartei-me de escrever artigos, cartas para o governo; e foram passados muitos obstáculos, mesmo internos, porque quando há novidade, é sempre difícil lutar. O serviço foi inaugurado, cometemos muitos erros, mas disseram-nos para ter cuidado para não atrasar mais”, reconhece, Gama Brandão.

Naquela altura, em 1971, o médico admite que “havia pouca sensibilidade para estes problemas”, defendendo que tratar de crianças requer especiais aptidões que vão para além do foro médico. “A parte social é muito importante, é preciso uma sensibilidade que é muito importante para tratar crianças”.

Ao olhar para o estado em que está atualmente o serviço, cataloga-o como “magnífico”. Com 91 anos, diz sentir “inveja de não viver este tempo”, uma tirada que sai com sorrisos.

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