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GUIdance 2023: “Transformação” e “diferença” em busca da “claridade”

Tiago Mendes Dias
Cultura \ quarta-feira, dezembro 14, 2022
© Direitos reservados
Teatro Jordão é novo intérprete em festival que arranca com Gaya de Medeiros e termina com reinterpretação de “O Livro da Selva”, por Akram Khan, destacando, pelo meio, a Dançando com a Diferença.

Referência na dança contemporânea portuguesa, o GUIdance vai preencher mais um fevereiro vimaranense com corpos de múltiplas trajetórias e “sensações”, prometendo, na edição que se avizinha, a 12.ª, uma transição da “escuridão” que contemplou em 2022 para a “claridade”, vertida nas “diferenças” entre os corpos e nas transformações que os habitam ou tão só no despertar para a relação primordial entre o humano e a natureza.

“Há coisas que nos demonstram que a sociedade e Guimarães estão num processo de evolução. Quisemos trazer a convicção profunda de que há resolução para a humanidade, nem que seja na relação com a natureza. Mas também pode haver outros processos de escuta do corpo, que levem à transcendência, transformação e transmissão de experiências”, afirmou Rui Torrinha, ao desvendar o processo criativo que levou ao programa do GUIdance para 2023.

Esse alinhamento contempla a apresentação de 10 espetáculos - -, entre 02 e 11 de fevereiro, a começar por BAqUE, a mais recente criação de Gaya de Medeiros, com estreia marcada para 15 de dezembro, no Teatro do Bairro Alto (TBA), em Lisboa, após um adiamento forçado pelas inundações que afligem a capital portuguesa.

Natural de Belo Horizonte, a bailarina e coreógrafa trans, que começou “a dançar na igreja, para Jesus”, chegou a Portugal em 2019, atuou como drag queen, inclusive no programa televisivo Got Talent Portugal, que lhe valeu a semifinal em 2020, e voltou, em 2021, a “apaixonar-se pela dança contemporânea”.

“Fiquei com dois anos a trabalhar com dança comercial e eventos empresariais. Em 2021, decidi que este corpo precisava de nova expressão e voltei a apaixonar-me pela dança contemporânea”, contou, por videoconferência. O espetáculo-concerto que propõe, como se lê na descrição do TBA, tenciona libertar os corpos e as pessoas trans ou não binárias, da “narrativa negativa” que costuma ligar esses corpos “à dor e ao sofrimento”.

 

Programa do GUIdance 2023 na íntegra

 

O Teatro Jordão foi o palco da apresentação do GUIdance 2023 e vai ser também o recanto da Dançando com a Diferença, cujos intérpretes são pessoas com deficiência. A companhia da Madeira protagoniza os espetáculos Blasons + Doesdicon, em colaboração com os coreógrafos François Chaignaud e Tânia Carvalho, a 03 de fevereiro, e Beautiful People, reposição da peça estreada em 2008, com Rui Horta a juntar-se de novo à companhia.

Licenciado em Educação Física, Henrique Amoedo teve uma epifania que o levou à dança, quando viu “uma professora sem deficiência e uma aluna com deficiência a dançarem”. Mudou-se do Brasil para Portugal para fazer mestrado em dança e arranca com a companhia em 2001, tempo em que a arte para pessoas para deficiência parecia uma “utopia”. “Só se pensava que as pessoas com deficiência poderiam dançar para fins terapêuticos. O maior desafio foi mostrar que estas pessoas poderiam fazer arte para o público, para a sociedade”, recorda.

Ultrapassada essa barreira, a Dançando com a Diferença lançou um processo de formação atento aos “diferentes timings de aprendizagem” e ao trabalho do corpo como se fosse “uma biblioteca”, munida de diferentes volumes para “atender às necessidades de diferentes coreógrafos”. Além das três obras, o programa de Educação e Mediação Cultural propõe a exibição do registo vídeo de Endless, peça sobre “dignidade humana” na sequência da 2.ª Guerra Mundial e do Holocausto estreada em 2012 e exibida em Guimarães neste ano, aquando do Dia Mundial da Dança (29 de abril de 2022), com a participação de mais de 100 intérpretes de seis instituições que trabalham com pessoas com deficiência e de um agrupamento de escolas.

“O Endless é algo que nos diz muito. Desde o final do Endless, temos recebido inúmeros contactos do território, sobre quando é que vamos voltar a fazer trabalhos deste género”, lembrou Francisco Neves, membro da equipa de Educação e Mediação Cultural (EMC) da Oficina.

Ao recorrer a uma citação de Gaya de Medeiros - “a dança tem servido para tratar questões maiores do que a minha racionalidade consegue processar, transformando-a em emoção e suor” -, Francisco Neves defendeu que o trabalho da EMC deve contribuir para “transformar o paradigma na escola”, de “excessiva racionalidade”, e “atrair artistas a Guimarães” para iniciativas que não só os espetáculos.

 

O reencontro com a natureza e a atração de talento Aerowaves

Entre as restantes peças, sobressai o regresso da Akram Khan Company a Guimarães, com Jungle Book reimagined. Com estreia em Portugal agendada para 11 de fevereiro, no Grande Auditório Francisca Abreu, no Centro Cultural Vila Flor (CCVF), a coreografia refaz a viagem de Mogli, protagonista do clássico de Rudyard Kipling, sob um olhar de um refugiado climático. O GUIdance encerra na “selva”, despertando a reflexão para a ligação entre o homem e a natureza.

Na semana anterior, a 04 de fevereiro, esse mesmo paradigma conduz Some coreographies, peça do italiano Jacopo Jenna, um das 12 selecionadas para circular pela Europa em 2022, ao abrigo da Aerowaves, plataforma de que a Oficina faz parte. O alinhamento do festival inclui, aliás, outros dois espetáculos com esse selo: Gran Bolero, do espanhol Jesús Rubio Gamo (04 de fevereiro), e Soirée d’études, do belga Cassiel Gaube (10 de fevereiro).

Com um orçamento de 160 mil euros para programação e logística envolvente, o festival inclui ainda três conversas pós-espetáculo – Henrique Amoedo, 03 de fevereiro, Marco da Silva Ferreira, a 08 de fevereiro, após a exibição de Carcaça, e a britânica Akram Khan Company, a 11 -, duas masterclasses, com Jesús Rubio Gamo e a Akram Khan Company, os debates ““Natureza, trans formação e outras práticas sensíveis: a felicidade que nos aguarda”, parte I (04 fevereiro) e parte II” (11 fevereiro).

Nota ainda iniciativa Embaixadores da Dança, com Gaya de Medeiros e Henrique Amoedo nas quatro escolas secundárias de Guimarães, uma exposição e uma oficina do coletivo Pato Lógico e a exibição do registo vídeo de Endless, por Eva Ângelo, a 05 e 07 de fevereiro, com conversa na segunda ocasião.

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