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A vanguarda de sempre na celebração do agora: está aí o 32.º Guimarães Jazz

Tiago Mendes Dias
Cultura \ sexta-feira, novembro 10, 2023
© Direitos reservados
Influente big band de Nova Iorque, a Vanguard Jazz Orchestra regressou à cidade-berço para uma hora e meia plena de energia e virtuosismo, perante um auditório quase cheio no Vila Flor.

O andamento dos instrumentos era tal que a música parecia ganhar vida própria enquanto os solos de trombone, saxofone, trompete se sucediam. Incluída no álbum Consummation (1970), “Fingers” é uma composição em que há momentos para tudo, apesar da velocidade. Alicerces de toda a expressão sonora em palco, Adam Birnbaum, ao piano, Mike Karn, no contrabaixo, e John Riley, na bateria, também mostraram o seu virtuosismo por instantes. E a plateia, diligente na aclamação com que brindava o final de cada peça, pôde finalmente entrar na performance, à boleia da recomendação da fileira de trompetistas da big band.

Essa big band é a Vanguard Jazz Orchestra e abriu a 32.ª edição do Guimarães Jazz, nesta quinta-feira, perante um Grande Auditório Francisca Abreu quase repleto, no Centro Cultural Vila Flor. Formação residente do Village Vanguard, clube de jazz de Nova Iorque no qual atua todas as segundas-feiras desde fevereiro de 1966, esta orquestra atuou pela primeira vez na cidade-berço em 1999 e regressou a Guimarães no ano em que se assinala o centenário de um dos seus dois fundadores, o trompetista e compositor Thad Jones.

O trabalho de Jones sobressaiu assim num alinhamento que condensou mais de meio século de criação numa hora e meia de contemplação e, no final, celebração para os mais de 700 espetadores. A abertura do concerto recordou precisamente uma das composições mais antigas de Thad Jones, “Mean what you say”. O piano de Adam Birnbaum lançou as primeiras notas e Ralph Lalama, no saxofone tenor, o primeiro solo daquela que seria uma viagem século XX fora até à contemporaneidade, ora frenética, ora suave, como em “Kids are pretty people”, composição incluída no álbum ao vivo Monday Night (1968), com o primeiro solo de trombone da noite, por Dion Tucker.

Como é costume nas big bands, os músicos das três filas de sopros executavam solos à vez, num concerto de permanente transformação, tal como a formação que lhe dava vida: criada como Thad Jones/Mel Lewis Orchestra, transformou-se na The Mel Lewis Jazz Orchestra no final da década de 70, após a saída de Thad Jones, e mudou novamente de nome em 1990, para Vanguard Jazz Orchestra. Em 1997, passou a ter Jim McNeely como compositor residente, tendo interpretado duas das peças do primeiro álbum (Lickety Spirit: the music of Jim McNeely) com esse músico que esteve Guimarães Jazz de 2021 foram interpretadas: a delicada “In the wee small hours of the morning”, com solo de Dick Oatts, e a divertida “Extra credit”, com o solo pleno de energia do saxofone de Chris Lewis.

Nos breves intervalos entre as músicas, sobressaía o bom humor de Douglas Purviance, mestre de cerimónias da banda. “Vem aí a última peça. Estão com pena de que vamos embora? É sinal de que estão a gostar. Não se preocupem. A próxima composição dura duas horas”, brincou, antes de “Fingers”.

Aplaudidos de pé após essa performance, a mais complexa da noite, a banda aceitou brindar a plateia com mais uma peça, mas sem encore. “Já somos demasiado velhos para sair do palco e voltar ao palco. Portanto, fechem os olhos: acabámos de sair do palco e agora voltámos”, continuou Douglas Purviance, para gargalhada geral dos presentes. O concerto encerrou com “Don’t Get Sassy”, composição de Thad Jones incluída em Basie (1969). Mal soou a última batida, o Grande Auditório Francisca Abreu levantou-se numa ovação àquela que já foi considerada a big band mais influente das últimas seis décadas.

À saída, os aficionados distribuíram-se em grupos, a trocar impressões sobre o que viram, a cumprimentar-se; o congestionamento fazia-se sentir na escadaria. Houve quem trocasse dois dedos de conversa no exterior ou saísse calmamente, como que a respirar fundo depois de hora e meia de vertigem sonora. Tal como o tempo, que deu uma trégua entre dias chuvosos. Até 18 de novembro, há mais 11 concertos na calha, aos quais se juntam as jam sessions, no Convívio e no café-concerto do CCVF, e as oficinas de jazz.

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