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Há 25 anos Guimarães parou para o Vitória eliminar o Parma: “Inesquecível”

Bruno José Ferreira
Desporto \ domingo, setembro 24, 2023
© Direitos reservados
Viagem ao baú de uma eliminatória memorável, em que a “equipa fabulosa” do Parma tombou em Guimarães. “Incrível”, diz Paneira, do jogo em que marcou o primeiro golo a Buffon nas competições europeias.

24 de setembro de 1996. No mesmo local onde ainda hoje está o Estádio D. Afonso Henriques, na altura Estádio Municipal de Guimarães, o Vitória SC viveu um dos mais altos momentos europeus da sua história. “Épico”, “impensável” e “para a história” são algumas das tiradas que saem aos principais protagonistas dessa noite que completa um quarto de século. O pontapé de saída foi dado às 21horas, mas várias horas antes já se sentia o burburinho. Por si só o jogo europeu já era diferente. Receber uma equipa recheada de grandes jogadores com a eliminatória em aberto depois de em Itália o jogo ter sido equilibrado ajudou a empolgar ainda mais o ambiente. Gianluigi Buffon, Thuram, Dino Baggio, Enrico Chiesa, Gianfranco Zola e Fabio Cannavaro eram alguns dos nomes que despontavam no Parma que dois anos antes tinha vencido a Taça Uefa. Feito repetido duas temporadas após a eliminação aos pés do Vitória SC.

Na 1.ª mão, no Estádio Ennio Tardini, catorze dias antes, o Vitória foi derrotado por duas bolas a uma. “Perdemos 2-1, o Gilmar faz um golo já na segunda parte. Equilibrámos a partida em muitos momentos, o que deixou tudo em aberto. Depois cá fizemos um jogo incrível”, aponta Vítor Paneira. A eliminatória decidir-se-ia em Portugal. Ora no dia 24 de setembro de 96, uma terça-feira, disputou-se o jogo “que ficou na memória do clube, da cidade, dos adeptos e dos próprios jogadores”, suspira Ricardo Lopes ao Jornal de Guimarães.

Vítor Paneira apontou o primeiro golo, ainda na primeira parte, que já era suficiente, e na segunda metade Ricardo Lopes deu um pouco mais de cor ao assédio do Vitória. Triunfo por duas bolas a zero a anular a desvantagem da 1.ª mão. Com honras de transmissão na Eurosport, de antemão era dito que “uma das mais famosas equipas do futebol moderno tinha em Guimarães uma tarefa difícil”. Assim foi; o Vitória dominou o jogo e acabou até por vencer por números escassos.

“Criámos dúzias de oportunidades, ganhámos 2-0 mas podíamos ter goelado um Parma fortíssimo. Não estamos a falar de um Parma qualquer, estamos a falar de um dos melhores Parmas do futebol italiano. O estádio estava cheio e fizemos uma exibição incrível. Fiz o primeiro golo, o primeiro golo sofrido pelo Buffon em jogos internacionais, de um jogo fica para a história do Vitória. A exibição foi mesmo incrível”, diz Vítor Paneira. Dessa eliminatória tem uma recordação especial: estava em Parma quando a sua filha nasceu. Até por isso os jogos não saem da memória.

“Ainda hoje o meu filho brinca: diz que marquei ao melhor do mundo”

Fino recorte técnico de Paneira no primeiro golo. Picou a bola sobre Buffon. “O Gilmar falhou uma oportunidade muito parecida uns minutos antes. Tive um momento esclarecido, que foi importante porque transformou ainda mais a equipa para eliminar o Parma”, dá conta. Ricardo Lopes fechou a contagem, de cabeça, após ter-lhe sido anulado um chapéu ao, agora prestigiado, guarda-redes italiano.

“Só tivemos noção que foi histórico, o resultado e tanto o meu golo como o do Paneira, no final do jogo. O meu filho brinca muito comigo, ainda hoje fala disso: diz que fiz um golo ao melhor guarda-redes do mundo, e que ele se deve lembrar muito disso”, atira com sorrisos Ricardo Lopes, os mesmos sorrisos com que festejou há 25 anos.

Lá em casa há uma camisola dessa época. Desse jogo não, dessa época sim, amarela e produzida para ser o terceiro equipamento, para usar nas competições europeias. Pedro Lopes, filho de Ricardo Lopes, hoje com 52 anos, tem o privilégio de usar essa camisola quando vai jogar à bola.

Na memória de muitos milhares que assistiram ao jogo, ficou a forma destemida como o Vitória se apresentou em campo. De peito feito e disposto a ombrear com o Parma, “o principal candidato à conquista da Taça Uefa”, como aponta Ricardo. Em muito contribuiu a mensagem de tranquilidade do técnico Jaime Pacheco. “Transmitiu-nos que naquele jogo não tínhamos nada a perder, pelo contrário: tínhamos tudo a ganhar. Foi com esse intuito que entrámos para o jogo, sabendo de antemão que podia ser um jogo épico para toda a gente. Foi isso que fizemos: honrámos a camisola do Vitória e a cidade”, sugere.

O lado direito, saudosamente recordado, formado por José Carlos, Paneira e Capucho, fez das suas e ajudou a que as coisas se simplificassem sem receios: “Tínhamos uma grande equipa e jogávamos muito bem. Olhámos para eles sem medo e as coisas começaram a fluir. Aquela ideia que ficou, do flanco direito, as coisas começaram a acontecer de forma natural. A equipa toda era boa, mas o flanco direito ficou reconhecido, percebemos que o Parma estava ao nosso alcance e com o nosso jogo podíamos passar, como passámos com toda a justiça a eliminatória. Fomos a melhor equipa”, defende Paneira.

“Sou obrigado a, de vez em quando, ver esse jogo e ver imagens sobre isso. Foi mesmo memorável e indiscritível”, assume Ricardo Lopes, “the men”, como foi referido na Eurosport. Como é apanágio, não faltou o apoio das bancadas para ajudar a empurrar a equipa num galvanizar mútuo. “Contra uma equipa de nomeada, favorita a vencer o troféu, a própria cidade envolveu-se com a equipa, como é costume”, sublinha Ricardo. “Os jogadores do Vitória nunca caminham sozinhos, para os adversários é temível vir aqui jogar e não é de agora. Nesse jogo foi assim. Transformam a equipa e ganham jogos”, complementa Vítor Paneira.

 

1.ª Mão – Parma | 10 setembro 1996

Parma 2-1 Vitória

Equipa titular: Neno, José Carlos, Alexandre, Arley, Quim Berto, Marco Freitas, Vítor Paneira, Capucho, Toniño, Basílio Almeida e Riva.

Golos: Enrico Chiesa (40’ e 82’) e Gilmar (77’)

 

2.ª Mão – Guimarães | 24 setembro 1996

Vitória 2-0 Parma

Equipa titular: Neno, José Carlos, Alexandre, Arley, Quim Berto, Marco Freitas, Vítor Paneira, Capucho, Ricardo Lopes e Gilmar.

Golos: Vítor Paneira (16’) e Ricardo Lopes (50’)

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