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Hereditas: cortada “a fita digital”, há muito património para descobrir

Pedro C. Esteves
Cultura \ terça-feira, abril 27, 2021
© Direitos reservados
O património e a "história que nos trouxe até hoje" cabe todo na plataforma Hereditas, um trabalho de vários anos que está acessível a todos a partir de hoje. Agora, "é um trabalho de comunidade".

Conhecimento outrora restrito, fechado, está agora aberto à comunidade vimaranense. É que a “fita digital” foi cortada e há uma herança comum que pode ser explorada de uma forma simples e universal: o sítio da plataforma Hereditas, atlas da paisagem cultural de Guimarães, está, a partir desta terça-feira, acessível e pronto para ser descoberto.

A missão do Hereditas – latim para herança – foi explicada ao detalhe numa sessão na Black Box da Plataforma das Artes e da Criatividade. No fundo, este repositório dos bens culturais do concelho agregou património – algum dele desconhecido – e coloca-o, agora, ao serviço da comunidade. Esse património foi sendo coletado e estudado, num processo que decorreu “ao longo dos últimos anos”, explicou o vereador com o pelouro do Urabanismo da Câmara Municipal de Guimarães (CMG). “Fomos sucessivamente surpreendidos com o que fomos encontrando. A equipa de trabalho que operacionalizou este programa descobriu no território mais do que se previa”, vincou Fernando Seara de Sá.

E o que pode ser encontrado no Hereditas? Neste momento, há cerca de 900 bens identificados, com fichas completas e informação detalhada, de diferentes áreas: arquitetura, paisagem e arqueologia dominam. No entanto, o número de entradas pode ascender em breve às 2000 – há material que ainda não está totalmente “consolidado”. “Esta hesitação entre apresentar só aquilo que tínhamos consolidado e aquilo que ainda estamos em fase de consolidação, deixa-nos claro algo fundamental: o programa Hereditas não se esgotou hoje”, indicou o vereador. No entender de Seara de Sá, o papel da comunidade é, a partir deste momento, “fundamental”, já que vai ser uma espécie de “desafio” perceber como vão os vimaranenses “interagir com estes valores identificados”. Será a partir da recetividade manifestada que os atores vão perceber como podem prosseguir este trabalho de documentação.

Criar legado através do legado

O papel dos vimaranenses neste processo de catalogação de herança foi também vincado pelo presidente da CMG, Domingos Bragança. Com oconhecimento de todo o património do concelho”, o autarca acredita que “a comunidade pode apropriar-se e fazer uso dele” e, com isso, “aumentar o seu sentido de pertença”.

O Hereditas, na sua dimensão da arqueologia, arquitetura e paisagem, é de uma importância enorme para o território. Preservar e cuidar e proteger o nosso património tendo sempre como contexto o maior conhecimento do património é um processo fundamental para a coesão territorial”, explicou.

Um ponto de vista corroborado por Fernando Seara de Sá, que reforçou a expetativa de que “o valor de uso” destas heranças antigas “seja mais do que a simples contemplação”. Tal como tinha mencionado aquando da última reunião de câmara, o vereador reiterou o potencial desta ferramenta para a comunidade académica e até para agentes turísticos planearem rotas monográficas.“Podemos ir a a cada freguesia, cada local, para ver o que existe. Na plataforma haverá fichas, fotografias, descrições históricas”, explicou na altura.

O desejo de Domingos Bragança é o mesmo: “Espero que a comunidade vimaranense, cidadãos, presidentes da junta consultem em pormenor este património. Serão acrescentados outros bens (materiais e imateriais) e todos eles têm uma história riquíssima, a história que nos trouxe até hoje”. Em jeito de remate, o autarca sintetizou: “Temos oportunidade de deixar legado através do legado que nos deixaram”.

Sinais de voluntarismo

Nesta missão de “deixar legado” estiveram envolvidas dezenas de pessoas. O Hereditas “anda na rua” desde 2018, altura em que uma equipa palmilhou o concelho em busca destas heranças. Mas este é um trabalho de comunidade e isso foi assinalado na intervenção da coordenadora do projeto, Teresa Costa. Para além da comitiva, o trabalho que culminou com a apresentação oficial esta terça-feira contou com o auxílio de proprietários de terrenos, que facilitaram o acesso aos imóveis, e de entusiastas – aliás, já têm chegado e-mails de pessoas que se oferecem para percorrer as freguesias com a equipa. “É um trabalho muito estreito com a população”, indicou a arquiteta.

Tal como já era sabido, foram identificados 5000 elementos, sendo que apenas 2000 vão estar a breve prazo acessíveis para todos. “Por razões óbvias”, a secção de arqueologia é a mais completa, já que, em virtude da pandemia, “alguns imóveis” não puderam ser explorados devidamente.

Há várias formas de explorar o património recolhido: através de um mapa com a localização dos itens – com fotografias e elementos bibliográficos – ou a partir de uma linha de tempo que vai desde a Pré-História até à Idade Contemporânea. Para aproximar ainda mais o trabalho científico da comunidade, não fosse este um projeto de caráter universal, o site disponibiliza um glossário com o intuito de ajudar “as pessoas a compreender o que está nas fichas.”

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