JMJ: Camarate foi “extraordinário e incansável” a acolher e nos transportes
A tarde solarenga de 01 de agosto transformava-se em noite quando terminou a eucaristia de boas-vindas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), presidida por Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa. Era hora de os 348 peregrinos do Arciprestado de Guimarães e Vizela inscritos no evento pela Arquidiocese de Braga rumarem a Camarate, paróquia do Arciprestado de Loures-Odivelas, sensivelmente a 11 quilómetros do Parque Eduardo VII, anfiteatro da designada Colina do Encontro, epicentro da celebração da Igreja Católica até sexta-feira, 04 de agosto.
O contingente deslocou-se para a estação do Lumiar, no norte do concelho de Lisboa, onde esperava embarcar num autocarro rumo ao local de alojamento, mas os transportes públicos estavam lotados, assinala Rosa Machado, responsável pela Pastoral de Jovens do Arciprestado de Guimarães e Vizela; valeu, nesse momento, o esforço da comunidade que os acolheu.
“Camarate mobilizou todos os conhecidos para nos fazer transportar nos seus carros particulares. Eles foram extraordinários, deram-nos todo o apoio e informações que necessitávamos. Só temos de agradecer o apoio que recebemos”, vinca. A peregrina de Moreira de Cónegos crê que a dinâmica de acolhimento foi semelhante àquela que se organizou para os mais de 700 peregrinos que estiveram no Arciprestado de Guimarães e Vizela para os Dias nas Dioceses: “Camarate foi extraordinário e incansável, tanto no nosso acolhimento no primeiro dia, como no acompanhamento”.
Um dos três elementos do Comité Organizador Paroquial (COP) de Camarate reconhece as dificuldades vividas com os transportes públicos. “A primeira noite levantou as várias dificuldades que haveria. Apesar de sermos periferia, somos uma periferia muito próxima de Lisboa. Perceberam que não haveria autocarros suficientes”, descreve Carlos Campos ao Jornal de Guimarães.
Face aos telefonemas a darem conta da falta de autocarros, o responsável pela logística num acolhimento que englobava peregrinos de Guimarães e Vizela, mas também da Póvoa de Varzim e Vila de Conde e ainda de duas centenas de húngaros, deparou-se com a necessidade de se criarem linhas de apoio. “Todos criámos uma rede de contactos entre nós, com cerca de 15 condutores, para os ir buscar e trazer. Isso criou uma certa empatia entre nós. São os pequenos imprevistos na comunidade. Acolhemos 1.300 pessoas, com jovens na sua impetuosidade e na vontade de quererem conviver”, lembra.
Carlos Campos apercebeu-se de que a JMJ iria exigir flexibilidade às paróquias de Camarate e de Apelação logo na segunda-feira, dia em que os peregrinos chegavam; as viagens atrasaram e, em vez de chegarem à tarde, os contingentes chegaram por volta das 21h00, horário que ditou mudança de planos.
“Mobilizámo-nos para ir à restauração, para recolher os jantares deles, para que quando chegassem às 21h00, tivessem uma refeição quente. Foi a primeira coisa que fizeram, o que deu algum trabalho em termos logísticos, mas esse gesto permitiu perceber a dimensão do acolhimento”, explica. Depois, os peregrinos menores de idade acomodaram-se nas escolas , supervisionados por um responsável, e os maiores dirigiram-se para as casas das famílias de acolhimento.
A JMJ foi o culminar de três anos de trabalho naquelas duas paróquias, mais intensivo no último ano e meio. À exceção das famílias de acolhimento, processo em que sentiu “algumas dificuldades”, o responsável paroquial, de 48 anos, enaltece a abertura das entidades oficiais e comunitárias, como a União das Freguesias de Camarate, Unhos e Apelação, e a mobilização para a angariação de fundos e materiais por forma a tornar esse acolhimento realidade. “Envolveu um grande esforço, porque queríamos acolher jovens como se fossem parte da nossa comunidade paroquial. As pessoas colaboraram com papel higiénico, águas, material de limpeza e de manutenção, detalha.
“Foi uma partilha dos jovens”
Ao examinar o que se viveu entre 01 e 06 de agosto, quer em Lisboa, quer nas paróquias das dioceses de Lisboa, Santarém e Setúbal, responsáveis pelo acolhimento dos peregrinos, Carlos Campos elogia a disponibilidade dos jovens da sua paróquia para participarem na JMJ como voluntários, o que lhes permitiu viver o evento “como uma forma de serviço”.
Esses voluntários participaram nas designadas Catequeses RiseUp, realizadas nas manhãs de quarta, quinta e sexta-feira, em momentos que espera terem sido transformadores para esses membros da comunidade. “Foi transformadora a dinamização dos jovens, ao perceberem esta realidade da Igreja, de que é uma comunidade maior do que a nossa paróquia, que é um país e um mundo inteiro. Isto faz-nos repensar a nossa fé em Jesus Cristo. Espero que os jovens não fiquem da mesma maneira”, analisa.
Carlos Campos vinca ainda a “dimensão de aventura” associada a uma JMJ, pela incerteza e improvisação a que obriga a escala do evento. Enquanto representante dos peregrinos de Guimarães e Vizela, Rosa Machado evoca essa mesma dimensão, quer nas deambulações pela cidade de Lisboa, quer nas caminhadas rumo aos principais momentos religiosos, quer na viagem de regresso. “Infelizmente, na viagem de regresso, tivemos dois autocarros avariados. A solução não foi tão rápida quanto seria possível, porque todos os motoristas de autocarros estavam ocupados. Foi o ponto menos agradável numa Jornada em que todas as expetativas foram preenchidas”, descreve.