Jorge Fernandes eleva‐se ao segundo andar para agarrar o mal menor
O ponto conquistado in extremis na mais soalheira tarde que brindou o D. Afonso Henriques nesta época explica‐se com impulsão e precisão. Perante a trajetória em balão do canto de Nuno Santos, Jorge Fernandes saltou mais alto do que toda a gente e colocou a bola junto ao ângulo inferior direito da baliza do Farense. Competente ao longo de toda a partida, apesar das escusadas demoras na reposição da bola durante a segunda parte, Ricardo Velho nada podia fazer para travar o golo do 1‐1 com que terminou o encontro da 29.ª jornada da Liga Portugal Betclic.
Foi um resultado aquém daquele que o Vitória certamente esperava antes do encontro, mas com algum sabor, face ao que os pupilos de Álvaro Pacheco trabalharam e lutaram, principalmente na segunda parte, num contexto de jogo adverso. Perante uma equipa ainda mais fechada depois de se adiantar por Bruno Duarte, o Vitória criou vários espaços na segunda parte, combinou de várias formas e talvez só não conseguiu melhor resultado, porque pecou no último passe ou no remate. E teve ainda de lidar com as inúmeras quebras de ritmo com que os jogadores do Farense lhes brindaram.
O ambiente era de festa na antecâmara do jogo. Centenas de adeptos aglomeraram‐se junto ao hotel onde se encontrava o plantel, para o saudar no arranque para o Estádio D. Afonso Henriques. A comitiva engrossou enquanto a viatura seguia entre o mercado municipal, a feira semanal e pela Avenida de Londres até chegar ao destino. As equipas entram em campo, e o público brinda‐as com um sentido “Sou Vitória”.
A adrenalina estava nos píncaros e perpassou para os 11 homens que se vestiam de preto e branco: o Vitória pareceu uma equipa autoritária, disposta a encostar o Farense ao seu último reduto, com uma circulação de bola rápida. Jota Silva ameaçou ao minuto cinco, numa das arrancadas que o caracteriza. Mas a equipa de José Mota apareceu em Guimarães com a lição bem estudada: com setores juntos e espaços bem ocupados, a equipa algarvia raramente concedeu espaços para os anfitriões visarem a baliza de Ricardo Velho em condições e, mais do que isso, aproveitou a brecha na ala esquerda defensiva do Vitória para criar perigo e chegar ao golo.
Ao minuto nove, a combinação entre Belloumi, Pastor e Bruno Duarte acabou no fundo das redes à guarda de Bruno Varela, colocando os pupilos de Álvaro Pacheco em situação ainda mais delicada: estavam obrigados a marcar dois golos para derrotar um oponente que concedia pouco espaço para marcar um.
João Mendes inventou um espaço ao minuto 20 para fazer abanar as redes contrárias num primoroso remate de trivela de João Mendes, mas o golo não valeu: Jota Silva estava em posição de fora de jogo por 12 centímetros no início do lance. O Vitória foi incapaz de tamanho lance no resto da primeira parte. A equipa circulou, porfiou, variou flanco, triangulou, mas sem encontrar um caminho que fosse para a baliza de Ricardo Velho.
O espaço para atacar estava na metade defensiva do Vitória, com o Farense a aproveitá‐lo por duas vezes: Rafael Barbosa atirou para defesa no coração da área vitoriana, aos 31 minutos, e Bruno Duarte obrigou Bruno Varela a outra intervenção, com ângulo apertado. Pelo meio, João Mendes sofreu uma lesão aparentemente grave após falta de Rafael Barbosa e foi substituído por Nélson Oliveira, ao minuto 44.
Mudar de tática, mudar de vida
Ao ver a sua equipa em desvantagem, Álvaro Pacheco mudou o sistema tático ao intervalo: retirou Tomás Ribeiro e Kaio César e colocou em campo Nuno Santos e André André. A jogar em 4x3x3, o Vitoria melhorou: a bola chegou com muito mais fluidez ao ataque e o jogo concentrou‐se junto à área do Farense. Ainda assim, os lances de golo iminente escassearam: entre hesitações e erros de critério ou execução – bolas demasiado longas, remates irrefletidos e incapacidade em ganhar a posição para rematar.
As exceções foram os remates de Miguel Maga e de Nélson Oliveira, aos minutos 65 e 66, antes de a maré de interrupções e de antijogo invadir o encontro a partir dos 70 minutos, com jogadores do Farense caídos, equipa médica em campo e demora nas substituições, com o árbitro David Rafael Silva a permitir que um jogador numa ala do campo saísse pela outra.
A equipa continuou a tentar, mas faltou–lhe sempre algo; inclusive pontaria a Miguel Maga, num bom rasgo vitoriano. O seu chapéu rasou a trave de Ricardo Velho a passe de André André. Seria preciso esperar pela cabeça de Jorge Fernandes para conquistar um ponto que mantém o Vitória na luta pelo pódio, com cinco finais por se jogarem. Antes disso, porém, há um tudo ou nada no Dragão: a segunda mão da meia‐final da Taça de Portugal, quarta‐feira.