Para lá do Marão, cumpriu-se a tradição… mas numa marcha aos solavancos
Na última vez que Tiago Silva batera uma grande penalidade perante o sol da tarde, atirara por cima, em Vizela. Esse castigo máximo acabou por não impedir o triunfo vitoriano. Novamente chamado a cobrar numa tarde de sol, o médio juntou o rótulo de melhor jogador em campo ao de homem do jogo, com um penálti para o centro da baliza, a meia altura, indefensável para Hugo Souza.
Assim se descreve o lance que colocou o resultado em linha com a tradição – o Vitória triunfara na cidade transmontana nos dois jogos anteriores para o campeonato e tem um historial de confrontos altamente positivo –, além de ter garantido mais três pontos a um Vitória que segue firme na perseguição ao quarto classificado, Sporting de Braga, e
O jogo esteve, porém, longe de ser um passeio à beira-Tâmega para o Vitória. Num jogo raras vezes bem jogador e quase sempre equilibrado, o Vitória foi mais vezes perigoso, mas esteve longe da qualidade exibida nos dois encontros anteriores, sobretudo nas primeiras partes. A manobra ofensiva vitoriana emperrou várias vezes, mas a equipa arranjou soluções para contornar as (muitas) dificuldades apresentadas pelos comandados de Moreno, com um futebol que, neste momento, está acima da condição de último classificado.
Apenas remodelado na defesa, com a entrada de Manu Silva para a posição do lesionado Jorge Fernandes, e o regresso de Tomás Ribeiro ao lado esquerdo, por troca com Mikel Villanueva, o Vitória foi incapaz de se apresentar com a fluidez com que entrara para os duelos com Estoril Praia e Famalicão.
Os comandados de Álvaro Pacheco tiveram mais iniciativa atacante sem ter muito mais bola – 51% de posse -, fruto de alguma intranquilidade nas trocas de bola e num meio-campo com dificuldades em libertar a bola para as alas, também por causa do compacto bloco defensivo flaviense, sempre aguerrido nas disputas de bola. Os pupilos de Moreno roubaram várias bolas aos elementos mais adiantados do Vitória, mas as tentativas de ataque transmontano perderam-se quase sempre antes de qualquer eventual ameaça à baliza de Charles.
Com mais remates – 11 contra quatro – e mais cantos nos primeiros 45 minutos – seis contra zero do Chaves -, o Vitória foi mais vezes perigoso, embora de forma esporádica, a começar por um remate de Nélson Oliveira travado por Hugo Souza. Na recarga, Jota Silva acertou com estrondo na trave.
O avançado recém-convocado para a seleção portuguesa iria exibir melhor pontaria a meio da primeira parte, em resposta a um cruzamento de Bruno Gaspar. O passe longo de Tiago Silva em busca da profundidade de Bruno Gaspar foi o mecanismo atacante que melhor funcionou nos vitorianos, dando origem ao golo inaugural: Jota Silva impôs-se à defesa flaviense e cabeceou à trave com a bola a ressaltar para dentro da baliza antes da defesa em vão de Hugo Souza.
O sol banhou a tarde de Chaves, mas foi de pouca dura para a vantagem vitoriana. Três minutos volvidos, a defesa vitoriana foi incapaz de reagir ao cruzamento de Benny e ao desvio subtil de Héctor Hernández, que deixou Charles pregado à relva. Restabelecida a igualdade, um Vitória sem tempo para usufruir do seu golo e para estabilizar o seu jogo nessa condição teve de voltar a porfiar contra uma equipa robusta sem bola, com jogadores focados a cortar linhas de passe.
Num desses momentos de circulação de bola pausada, Manu Silva perdeu a bola sem oposição e permitiu a Héctor Hernández isolar-se. O lance só não deu golo porque Charles teve a clarividência de esticar a mão esquerda para travar o remate e impedir o bis do ponta de lança espanhol. O lance fez soar os alarmes nas hostes vitorianas, com a equipa a empurrar o jogo para a frente nos 10 minutos finais da primeira parte, e tentar o golo em cabeceamentos de João Mendes e de Jota Silva.
Tiago Silva decisivo
O duelo foi quase sempre lento, porém, e nada disso mudou após o intervalo. O Desportivo de Chaves surgiu mais proativo sobre o relvado, no entanto, e ameaçou a reviravolta num disparo de primeira de Raphael Guzzo para grande defesa de Hugo Souza, ao minuto 51. A tendência do desafio quanto ao ascendente no desafio caiu num impasse até ao lance que viria a desbloquear o terceiro êxito seguido do Vitória: Nélson Oliveira saltou mais alto na área flaviense e cabeceou, sendo depois atingido por Hugo Souza, guarda-redes que saiu fora de tempo e cometeu grande penalidade.
Tiago Silva só por uma vez desperdiçara um penálti na presente temporada, em Vizela, e enganou o guarda-redes flaviense por completo, devolvendo a vantagem à turma preta e branca.
Lanterna vermelha do campeonato, o Desportivo de Chaves acusou o golo sofrido, circunstância que os vitorianos. A equipa de Álvaro Pacheco inclinou a circulação de bola rumo à área flaviense, gerindo com alguma tranquilidade o resultado. Essa tendência inverteu–se nos minutos finais, com o último forcing da equipa azul grená junto à área vitoriana, mas sem qualquer efeito.