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José Dâmaso Lobo: “A Coelima estava a trabalhar a 30 ou 40%”

Redação
Economia \ terça-feira, julho 20, 2021
© Direitos reservados
José Dâmaso Lobo, de 54 anos, é o novo administrador da Coelima. Disposto a cultivar um “espírito de família”, crê que a têxtil prestes a completar 100 anos pode “faturar muito mais”.

* Tiago Mendes Dias e Bruno José Ferreira

 

Que motivos o levaram a tentar comprar a Coelima?

Foi essencialmente o negócio. A Coelima tem todas as condições para ser uma empresa rentável como já foi, não só em Portugal como no mundo inteiro.

 

Quais as primeiras tarefas a levar a cabo?

A primeira medida a tomar foi ver as falhas que aqui havia. Havia falta de fio, de etiquetas e de inúmeras coisas. A minha preocupação, logo no dia, foi mandar pagar tudo o que estava em falta. A partir daí, foi começar a procurar trabalho para a empresa.

 

A empresa terminou 2020 com um volume de negócios de sete milhões de euros. Vê potencial para a Coelima render mais?

Tem capacidade para fazer muito mais. Se assim não fosse, não a tinha comprado. Ainda tem muito nome no mercado e muitas capacidades para poder vender novamente em todo o mundo. A Coelima só não vendia porque não havia produto para vender. Se houvesse material, continuava a vender-se normalmente. Falhava matéria-prima, como tela. Se os comerciais não têm produto para vender, não podem vender. A Coelima estava a trabalhar a 30 ou 40%, o que não pode acontecer. Se estiver tudo a trabalhar, em vez de faturarmos sete milhões de euros, vamos faturar muito mais.

 

Pensou entrar na corrida pela empresa mal ela entrou em processo de insolvência, em abril? Ou teve de ponderar a decisão?

Já tinha estado em contactos com o grupo [MoreTextile] para uma possível negociação. Já tínhamos feito duas ou três reuniões, mas depois isso ficou parado. Quando vi que houve outras propostas, fiz também a minha.

 

Como viu todo o processo de insolvência?

No seu todo, correu muito bem. Já tenho feito outras compras idênticas e é quase inédito o que aconteceu na Coelima. Praticamente demorou dois meses. Tenho outros processos que já levam mais de um ano e ainda não estão resolvidos. Dou os parabéns ao administrador de insolvência, Pedro Pidwell, à senhora juiz e a todos os intervenientes pelo curto espaço de tempo no qual esta situação acabou por se resolver.

 

Definiu-se o prazo de 31 de julho para se efetivar a escritura de compra e venda. Isso vai ser possível?

Já tivemos reuniões nesse sentido. Tudo indica que se não for até 31 de julho, pode ser logo no princípio de agosto.

 

“O trabalho que demora uma hora nestes teares só demora meia nos outros”

 

Ao fim de três décadas, a Coelima vai ter como administrador alguém ligado à têxtil. Como avalia estes últimos 30 anos?

Como administrador desta empresa e de outras, muito presente, teria feito diferente em muitos aspetos. Por isso fiz o investimento na Coelima. Quero fazer muito melhor.

 

Já teve uma reunião com os trabalhadores. Quais foram as primeiras coisas que lhes disse?

Transmiti-lhes que, para mim, isto não é uma empresa. É uma família que se chama Coelima. Estou 100% disponível para os receber e para resolver os problemas em conjunto. Estarei aqui para o que for preciso.

 

A Coelima já teve 3500 trabalhadores. Hoje tem 253. Poderá fazer sentido empregar mais gente no futuro para se atingir a rentabilidade de que falou?

Não é prioridade. Mas, na minha cabeça, para que a Coelima seja rentável, tem que crescer. Ao crescer, tem de crescer no número de pessoas. Se as coisas correrem como estou a prever, o número de pessoas vai crescer.

 

Que setores que podem precisar de operários?

Um dos setores é a tecelagem. Se eu fizer investimento, vamos precisar de recursos.

 

Num dos recentes trabalhos sobre a Coelima, o diário Público indicava que a tecelagem está ultrapassada. Um dos investimentos passa pela compra de teares mais modernos?

É como comprar um carro novo. O teu carro pode andar, mas queres sempre um carro que ande mais e com mais segurança. Na tecelagem a ideia é essa: o trabalho que demora uma hora nestes teares, só demora meia nos outros. Isto implica poupança energética, poupança no trabalhador e saída de mais material. É nessa base que os investimentos são feitos.

 

Pondera manter o número de teares, mas substituindo-os por mais rápidos?

A Coelima tem 44 teares. Se for comprar teares, e temos aqui vários salões vazios, não vou desmantelar teares nesta primeira fase. Vou comprar para ter mais produção. 

 

A idade média dos trabalhadores da Coelima ronda os 51 anos. Pensa rejuvenescer a empresa ou crê que a experiência do quadro é uma mais-valia?

A minha aposta é nas pessoas que estão cá dentro, muito capazes naquilo que fazem. Têm muito mais experiência do que as pessoas jovens. Vou apostar nas pessoas que estão aqui e começar a inserir pessoas mais jovens para lhes dar formação profissional. Para que [os jovens] cheguem a ter o conhecimento das pessoas que trabalham na Coelima, demora 10 anos ou mais.

 

Vê então o quadro de trabalhadores como muito capaz.

São pessoas muito capazes que estão contentes por ter entrado um investidor novo. Estando as pessoas contentes, o trabalho vai fluir muito melhor e a produção aumentar. As pessoas da Coelima têm um carinho especial pela empresa. Estavam desmotivadas por tudo o que se passou, mas noto-as mais motivadas. A Coelima sempre foi conhecida como uma família e não como uma empresa. Todos queriam trabalhar para que a empresa crescesse e desse melhores condições a todos os trabalhadores e aos seus filhos.

 

Tem outras empresas, como a Mabera, a compradora da Coelima. O que é que este investimento acrescenta ao seu percurso de empresário?

O meu pai tinha uma pequena indústria metalúrgica e eu vinha trabalhar para a Coelima, nos meus 10, 11, 12 anos. Lembro-me de o meu avô trabalhar aqui e de o meu pai trabalhar aqui. O senhor Albano Coelho Lima desencaminhou o meu pai, dizendo-lhe para abrir uma empresa própria e para trabalhar sempre para a Coelima. Fiz a compra por achar que é rentável economicamente, mas também porque a nossa família tem uma presença muito forte aqui, com a família Coelho Lima. Mesmo eu e a minha família trabalhámos muitos anos seguidos aqui, a prestar serviços. Tivemos sempre a porta aberta da Coelima. Essa empresa, a Custódio Castro Lobo, já vai na quarta geração. Os meus filhos, Luís e Rui Lobo, estão comigo na Coelima e na Custódio Castro Lobo.

 

A Mabera tem a Perfil Cromático. É uma empresa de acabamentos, secção que a Coelima não tem. Poderá haver colaboração nesta área?

A Coelima vai ter de recorrer a outras empresas, na medida em que não tem acabamentos. Embora tenhamos no grupo empresas de acabamentos e de estamparia - a Coelima faz muito tecido estampado -, há operações que não temos capacidade para fazer, porque não temos máquinas.

 

Não prevê que a Coelima volte a ter a secção?

Isso está fora de questão. Como já fiz uma proposta para assumir a António de Almeida & Filhos [em Moreira de Cónegos], poderemos ficar com todas as valências na empresa, ter um processo vertical e fazer acabamentos.

 

A António Almeida & Filhos faria então os acabamentos da Coelima?

Se eu chegasse a comprar, que ainda não sei o que vai acontecer, era uma mais-valia para a Coelima.

 

“Antes das férias temos de ter coleções no mercado”

 

O que está previsto a nível de mercado? Quer apostar em novos territórios, ou continuará a aposta na Europa Ocidental e nos Estados Unidos?

Já tivemos várias reuniões com os comerciais, e a Coelima também tem escritórios em Espanha - uma equipa de cinco trabalhadores comerciais. Toda a gente está com vontade de trabalhar todos os mercados. Vamos pôr no mercado coleções novas, em vários países. Cada país terá uma coleção nova. Antes das férias temos de ter coleções no mercado. As coleções de cada país, basicamente, têm um produto diferente. Espanha gasta um produto, Alemanha outro, Estados Unidos outro.

 

Já pensaram em alagar o leque de países para exportação?

Não podemos pensar em todos os países de um dia para o outro. Vamos fazer já os países com os quais a Coelima trabalhava, que é mais rápido, e vamos andando passo a passo, criando coisas novas.

 

A Coelima deixou um legado social e cultural muito forte em Pevidém e em Guimarães. Está quase a fazer 100 anos. Prevê-se alguma iniciativa para celebrar a data?

Os 100 anos têm de ser comemorados; vamos ter de fazer uma festa em grande se a pandemia nos deixar. É para comemorar esta família, que bem precisa de fazer uma festa para esquecer o que aconteceu nos últimos 30 anos. Em breve vamos apresentar várias coleções, e uma delas será a comemorativa dos 100 anos.

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