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Jovem vimaranense lança marca de roupa sustentável

Carolina Pereira
Economia \ segunda-feira, abril 12, 2021
© Direitos reservados
À procura de um lugar ao sol no vasto território dos negócios, com apenas 20 anos o vimaranense Miguel Soares lança-se no mundo da moda com Byms, uma marca de roupa sustentável.

Acredita-se que hoje em dia se exige mais dos jovens do que alguma vez se exigiu noutros tempos. Muitos sentem necessidade de se afirmar e de criar estabilidade laboral e financeira, o que se torna difícil quando a apresentação a uma empresa de um currículo com uma licenciatura, ou por vezes até mestrado, carece de experiência.

A pandemia veio enfatizar os problemas pré-covid, atingindo os mais jovens com o flagelo do desemprego, como confirma os dados do Serviço de Estatísticas da União Europeia (EUROSTAT). Em outubro de 2020 Portugal apresentou, no espaço europeu, a segunda maior taxa de risco de perda de emprego para os mais jovens entre os 16 e 24 anos.

Neste cenário Miguel Soares, vimaranense de idade tenra, com apenas 20 anos e o 12º ano, arrisca e acaba de se lançar, em plena pandemia, para o mundo da moda com Byms, uma nova marca de roupa jovem e sustentável.

 


O que acha que mudou desde a altura dos nossos pais? Estamos mais limitados no que toca a ferramentas para nos lançarmos?
Eu acho que não estamos assim tão limitados. Com a globalização há cada vez mais coisas, mais fontes de informação e mais variedade de produtos. Mas há os dois lados da moeda, porque já existe tanta coisa, mais do que nos tempos dos nossos pais ou avós, que já se torna mais difícil criar algo completamente inovador. Criar um negócio torna-se mais difícil porque há mais concorrência e com a pandemia tudo se tornou mais caro e no tempo dos nossos pais, as coisas eram mais baratas. Felizmente, com a ajuda dos meus pais e do meu avô consegui criar este projeto e para já está a correr bem.


Há à disposição outras ferramentas como a internet. Será uma aposta?
Sim, para já só estarei no digital. Já me aconselharam a conhecer preços e a montar uma loja física, mas não. Quero que seja um crescimento gradual, sustentável e para já, começar no digital.


O facto de não existirem tantos jovens a lançar as suas marcas/negócios terá a ver com a falta de vontade de compromisso, imaturidade ou falta de oportunidades?
Um bocado cada. Acho que a nossa geração, e as vindouras, pelo decorrer dos tempos e com o desenvolvimento do mundo, são mais imaturas. Os nossos pais já começavam a trabalhar aos 15 ou 16 anos e estabeleciam-se muito novos. Eu tinha um bocado a ideia de que as pessoas por me verem tão novo, que iam menosprezar as minhas capacidades. Mas todos os fornecedores com quem trabalhei, foram compreensivos, foram muito simpáticos e ajudaram-me com tudo. Desde malhas, botões, ou mesmo a nível de pagamento foram sempre excelentes. E sempre que eu precisava de um favor, mostravam-se disponíveis. Fiquei surpreendido porque pensei que me iam subvalorizar por causa da idade, mas até agora não senti isso.


Há quem defenda que o empreendedorismo está no sangue. Há de facto esse bichinho na sua família? Como se descreve? Tem perfil empreendedor?
Sim, venho de uma família onde quase toda a gente é empreendedora. Isso deu-me logo curiosidade e vontade de o ser também. Eu sempre tive ligado à empresa do meu pai, sempre o acompanhei nas idas a clientes, passava muito tempo pelo escritório e as coisas iam ficando no ouvido. Mesmo a interação com os clientes era algo que gostava. O empreendedor tem de ser uma pessoa com coragem, sem medo de errar e perseverante, porque as coisas não acontecem de um dia para o outro. E eu falo tendo recursos, nem todos os jovens têm. E eu vejo pelos recursos que precisei para criar a minha marca que poucas pessoas têm essa possibilidade, porque o valor que investi só tenho retorno daqui a meses. Não é imediato. Daí ser necessário ser perseverante. Há que arriscar, a vida dá voltas.

 


E como surge a Byms?
Primeiro foi uma brincadeira. Estava por casa na quarentena e nada do que via no armário me agradava. Falei com os meus amigos e disse “o quão fixe era lançar roupa minha” e eles gostaram logo da ideia. Viam-me a fazer isso, até porque, no meu grupo de amigos, eu sou aquele que diz que vai fazer e faz. E à medida que fui falando da ideia às pessoas à minha volta, tornou-se mais fácil acreditar que ia acontecer porque senti o carinho e aprovação e motivou-me muito.


Em que momento leva a sério a ideia?
Foi quando disse à minha mãe. No início ela disse “tem juízo”. Mas o que pensei é que tinha todas as ferramentas disponíveis. Fiz uns 8 modelos na altura, contactei algumas pessoas e cheguei à minha mãe e disse o que tinha e perguntei-lhe o que achava. Ela ficou surpreendida e disse, que se realmente era o que eu queria, que íamos começar a ver a coisas com olhos de ver. Sugeriu que eu criasse mais alguns modelos e ela ajudar-me-ia no que eu precisasse. E a partir daí uma coisa leva à outra. De T-shirts, passou a sweats, hoodies, boxers e calções de banho. Para já faltam os chapéus. Tudo coisas que eu vestiria, não faria sentido de outra forma. Acima de tudo, transparecer o que sou e sentir-me realizado.

 


Qual é o conceito da sua marca e a que público se dirige?
Sempre virado para o sustentável, todos os fornecedores têm um certificado amigo do ambiente, todas as matérias primas são orgânicas, as pessoas com quem trabalho procuram esse conceito de sustentabilidade e a qualidade. Estamos a recorrer a fornecedores que grandes marcas como Givenchy, Hugo Boss, usam. Não estamos no patamar dessas marcas, mas quem sabe, um dia.


É acessível a qualquer jovem?
Sim, até porque apesar da elegância e exclusividade que lhe queremos dar, a marca está direcionada para jovens dos 16 a 40. É aquela roupa jovem, mas também clássica.


A pandemia foi uma janela para si, vê como uma altura propícia para gerar negócio?
É boa e má. Uma das desvantagens foi o tempo de resposta de fornecedores. Esse tempo aumentou, porque os produtos demoraram a chega ao país. O algodão orgânico vem da Turquia e da China e isso demorou. A nível de oportunidades, foi bom porque estando tudo parado, o mercado digital está a aumentar exponencialmente e como é onde me quero localizar, é bom. Claro que também há a desvantagem de com tanta gente a aparecer neste mercado digital, corre-se o risco de passar despercebido, mas com uma boa estratégia de marketing evita-se isso.

 


Que ambições e expectativas tem pela frente?
Tornar a marca internacional. Já tenho contacto com um holandês, pertence ao mercado mais nórdico que não se importa de pagar e apostar mais em peças sustentáveis. Já tive uma reunião e fiz a apresentação da marca e ele gostou muito. Através dele poderei ter contacto com Dinamarca e Alemanha. O objetivo é chegar a todos os cantos do mundo.


Como faz a ponte para esses fornecedores?

O meu papel no fundo é fazer um pouco de tudo. Desenho, contacto os fornecedores, vou buscar mercadoria, trago mercadoria, quando é preciso levar alguma coisa para a lavandaria sou eu quem levo. A minha mãe vai-me ajudando muito, mas passa-me essas responsabilidades para eu ter consciência do que é um negócio. O que me ajudou muito a fazer essas pontes foi a empresa do meu avô e da minha mãe, sendo da área têxtil, tem muitos conhecimentos e contactos e por isso torna-se mais fácil. Eles apresentam-me e eu tento marcar reuniões. Depois uma pessoa fala a outra, um agente conhece alguém que fala e ligam-nos, e aproveito essas conexões aqui da empresa para potenciar o crescimento da minha marca.


Que desafios tem pela frente?
Ainda vou querer acabar o meu curso, quero conciliar a escola e negócio. Aqui aprendo muito, estou a relacionar-me com profissionais. A teoria é importante, mas para mim a experiência é mais. Não me adianta saber as coisas num papel e não saber pôr em prática. Este projeto ajudou-me a ser mais lançado e perder timidez. Antes não tinha coragem de falar com as pessoas ao telefone e agora tenho de pegar no telefone e fazer umas 5 ou 6 chamadas pela manhã, falar com desconhecidos e bater à porta das pessoas. Vou aprendendo e crescendo.

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