Juntas “desafiadas a identificar espaços” para o desporto
Pontos, golos; competição. Estes serão, porventura, termos que virão de imediato à cabeça quando se pensa em desporto. É, contudo, uma perceção que está a mudar e cada vez mais o conceito de desporto informal, associado à prática de atividade física, faz parte do quotidiano das sociedades. É por isso que esta é uma temática “prioritária” para a Câmara Municipal de Guimarães; no entender do vereador com o pelouro do desporto, Nelson Felgueiras, “saúde e bem-estar” são componentes a ter em conta quando se fala de exercício físico.
Em Guimarães havia, em maio de 2021, quase 80 locais propícios ao desporto informal, a maioria enquadrados nos parques de lazer. Destacam-se 17 campos de futebol, 34 áreas com máquinas de manutenção e 12 circuitos de manutenção, entre outros, de acordo com um estudo desenvolvido pela Tempo Livre sobre parques de lazer e atividade Física. Para lá destes dados, o conceito de desporto informal depende de cada um, podendo ser praticado em qualquer local, a qualquer altura, com vários espaços que não foram criados especificamente para esse efeito a perfilarem-se como palcos de desporto.
“Há cada vez mais pessoas a praticar desporto em contexto informal e, por isso, faz todo o sentido que sejam criadas condições para esta prática”, até porque se trata de um “objetivo nacional e europeu”, defende Nelson Felgueiras. A ideia “vai ao encontro” de um conceito que tem sido aprofundado em Guimarães, o de Desporto para Todos. A consciência de que o desporto há muito deixou de ser exclusivo da prática federada, num contexto de clube, é uma realidade que faz repensar as políticas desportivas. “Robustecer a capacidade que o território tem de possibilitar às pessoas a prática de desporto” é o objetivo do município, até porque na dimensão da saúde “estes espaços são fundamentais para a qualidade de vida”.
Tempo Livre foi o rosto da “mudança de paradigma”
“Até à inauguração da Cidade Desportiva, em 2001, as instalações existentes em Guimarães eram dos clubes e o cidadão comum não entrava lá dentro”, dá nota Amadeu Portilha, presidente da Tempo Livre e ex-vereador do desporto. “Não havia em Guimarães instalações para a prática do desporto informal, recreativo, de entretenimento ou satisfação pessoal, como lhe queiram chamar”, acrescenta, apontando a viragem do milénio como um marco na consciencialização política sobre este tema, com a criação da cooperativa municipal Tempo Livre, que recentemente completou 24 anos.
Com a Tempo Livre, há uma “mudança de paradigma” no desporto em Guimarães, proveniente da consciência de que o desporto não tinha de se cingir aos clubes, crê Amadeu Portilha. “O desporto em Guimarães era apenas formal, de cariz competitivo, e havia poucas instalações e pouca vocação da comunidade para a prática de desporto informal”, recorda. Foi também para dar reposta a esta realidade que a Câmara Municipal de Guimarães criou a Tempo Livre, em janeiro de 1999, e “a Tempo Livre marca a transformação do desporto em Guimarães”, assegura Amadeu Portilha.
“A Tempo Livre marca esse novo percurso em que a câmara entendeu que, para além do investimento que é necessário e fundamental fazer nos clubes – os clubes são uma célula fundamental em qualquer sistema desportivo – era importante que uma parte do orçamento fosse utilizado não só para a criação de instalações de usufruto comunitário, mas também em ações e programas que fizessem qualquer cidadão sentir-se motivado para uma prática desportiva regular”, concretiza.
O primeiro passo foi levar o desporto às escolas primárias, através do Projeto de Iniciação Desportiva – PID, um “projeto pioneiro” hoje “generalizado, com as AECs (Atividades de Enriquecimento Curricular), mas que na altura ninguém fazia”. De lá para cá são milhares as pessoas, de todas as idades, que usufruem das iniciativas lançadas pela Tempo Livre: Liga Mini, Ginástica Laboral, Férias Desportivas, Jogos da Comunidade, Vida Feliz são alguns dos projetos que põem a população a mexer, com a missão de “sensibilizar as pessoas para uma prática desportiva regular”, “importante para a saúde e bem-estar”.
Alargamento do Parque da Cidade Desportiva e desafio lançado às juntas
Neste paradigma, o robustecimento preconizado pelo vereador que tutela o desporto passa por “desenhar o espaço público através do contacto com a natureza e fruição de pessoas, de forma a que os parques de lazer possam ser espaços âncora para a prática de atividade física”, destaca Nelson Felgueiras, apontando como exemplo as ecovias e ciclovias que vão despontando, “uma aposta feita numa multiplicidade de dimensões, ambiental à cabeça, mobilidade também, mas pensando também claramente na prática de atividade física”.
Em articulação com as juntas de freguesia está a ser feito um “levantamento e identificação de espaços com potencial de intervenção e recuperação urbana que possam ser transformados em locais de atividade física informal”, explana. “A ideia que nós temos é: num centro de uma vila, num fundo de um loteamento, poder devolver esse espaço à comunidade para a prática de atividade física”, refere. “O desafio lançado às juntas é esse, encontrar espaços e identificar o que poderá fazer sentido lá instalar”, concretiza.
Como já foi referido, os parques de lazer existentes um pouco por todo o concelho têm vindo a ser pensados para que possam ser locais de prática de atividade física. Nestes espaços há dois de grandes dimensões que, claramente, que remetem de imediato para esse usufruto: o Parque da Cidade e o Parque da Cidade Desportiva. No Parque da Cidade Desportiva concentram-se valências como a Pista de Atletismo Gémeos Castro, o Complexo Municipal de Piscinas, e um amplo espaço verde, aberto ao público, com circuito de manutenção, máquinas de manutenção, campo de basquetebol, campo de voleibol de praia, balizas de futebol, poste de rugby, street workout e parque de trial bike. Tanto este espaço como o Parque da Cidade são “espaços em constante evolução” e inacabados, para ir sendo melhorados ao longo do tempo. “Estamos a trabalhar num projeto de ampliação do Parque da Cidade Desportiva, precisamente para dar melhor resposta à comunidade. Há um conjunto de terrenos que foram recentemente comprados pela Câmara Municipal de Guimarães que dão esse potencial de crescimento”, adianta Nelson Felgueiras, realçando que tais espaços são “vitais para a saúde, bem-estar e qualidade de vida”.