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Literacia ainda é da cidade e das vilas, mas há freguesias em convergência

Tiago Mendes Dias
Sociedade \ domingo, janeiro 02, 2022
© Direitos reservados
Apesar mais de 60% da população qualificada viver nas áreas mais urbanas, a população com ensino superior duplicou em 12 freguesias rurais fora dessas áreas e o ensino secundário em 10.

Há 10 anos, a população de Guimarães com ensino superior ou ensino secundário completos não chegava aos 20%: fixava-se nas 31.017 pessoas (19,6% do total). Em 2021, com uma população total inferior (156.849), os vimaranenses que apresentam esses níveis de ensino são 51.033 (32,5% do total).

Esse crescimento, de 64,5%, refletiu-se em todo o território. No caso específico do ensino superior, a cidade viu o número licenciados, mestres ou doutores aumentar de 5.549 para 8.397 entre 2011 e 2021, mas a sua proporção face a toda a população vimaranense graduada desceu: equivale agora a 40,2% da população total, quando há 10 anos era de 44,5%.

Nas nove vilas, o rácio de pessoas com canudo subiu dos 20 para os 22,7%, com o número total a aproximar-se dos cinco mil cidadãos. Já no restante território a proporção fixou-se nos 37,1%, correspondente a 7.753 pessoas com esses graus de ensino.

 

 

Um crescimento de encosta a encosta

O crescimento extrínseco às áreas mais urbanas distribuiu-se por várias geografias. A sudeste, na encosta meridional da Penha, a União de Freguesias (UF) de Abação e Gémeos tem agora 198 pessoas com curso superior completo, após um crescimento de 167,6% face a 2011, o maior das 48 freguesias e uniões de Guimarães.

Seguem-se UF de Conde e Gandarela, a sudoeste, que passou a ter 209 diplomados (subida de 161,3%), e as terras de Prazins, a norte: em Santa Eufémia, a população com ensino superior cresceu das 49 para as 121 pessoas, enquanto a UF de Prazins Santo Tirso e Corvite passou a ter 219 pessoas nessa condição, após subida de 133%. Nesta última autarquia, o número de licenciados, mestres e doutores já ultrapassa os 10% da população total, facto mais comum na cidade, nas suas imediações e nas vilas: a percentagem de 11,3% é a 15.ª mais elevada do concelho.

Se o crescimento aconteceu em todo o território, a maioria das pessoas com ensino superior está ainda concentrada na cidade e nas vilas. A Costa, freguesia que se distingue pela juventude, a norte da Penha, é o exemplo mais paradigmático: é simultaneamente a freguesia com maior proporção de licenciados, mestres e doutores (29,9% do total) e aquela em que esse nível de ensino menos cresceu – tem agora 1.613 cidadãos com esse estatuto, após um crescimento de 34,8%.

 

 

Nas 10 freguesias com maior rácio de população com ensino superior, encontram-se as restantes seis da cidade – União de Freguesias de Oliveira do Castelo, São Paio e São Sebastião, Azurém, Creixomil, Urgezes, Mesão Frio e Fermentões -, duas nas imediações – UF Candoso São Tiago e Mascotelos e também Aldão – e ainda Caldelas, a vila com mais diplomados em termos relativos (15,2%) e absolutos (960 cidadãos).

Entre as vilas, também Ponte, São Jorge de Selho, Ronfe e Brito apresentam percentagens de gente com ensino superior acima dos 10%. Já Serzedelo apresenta a taxa mais baixa (8,2%), com Moreira de Cónegos um pouco acima (8,4%). A mais baixa das 48 percentagens ccabe à União de Freguesias de Serzedo e Calvos – tem 112 pessoas com esse estatuto, o que corresponde a 4,9% do total.

 

 

Ensino Secundário com visão periférica

Apesar da presença residual de cidadãos com os mais elevados graus de ensino, há avanços na literacia do extremo sudeste do concelho: na UF de Serzedo e Calvos, o número de licenciados, mestres e doutores cresceu 64,7% e o de pessoas com ensino secundário quase triplicou – subiu de 125 para 358. Foi a maior subida entre todas as freguesias, sendo que em nenhuma delas a população com o 12.º ano desceu: o mais baixo crescimento, 31,6%, ocorreu de novo na Costa.

Entre as cinco freguesias onde o ensino secundário completo mais cresceu, a periferia leste do concelho predomina: a UF de Abação e Gémeos apresentou o segundo maior crescimento e tem agora 432 cidadãos com esse nível, Infantas o terceiro, albergando 297 pessoas nessa condição, e a UF de Atães e Rendufe o quinto, passando a ter 438 pessoas, após um crescimento de 128,1%. Pelo meio, aparece a UF de Briteiros Santa Leocádia e Briteiros São Salvador, que tem agora 287 cidadãos com essa habilitação.

 

 

Quanto às proporções da população com 12.º ano, a diferença entre a freguesia com a percentagem mais elevada e a que tem a mais baixa não ultrapassa os 8,5 pontos percentuais, ao contrário do ensino superior, em que se verificava uma discrepância de 25 pontos percentuais.

Os valores mais elevados encontram-se na cidade ou nas imediações, embora noutras freguesias: Aldão lidera com 22,7%, seguido por Creixomil e Fermentões, ambas com 22%. Caldelas apresenta de novo a percentagem mais elevada entre as vilas (21,1%), mas com Ponte (20,8%) e São Jorge de Selho (20,4%) também parte do top 10. Moreira de Cónegos é a vila com a proporção mais baixa de gente com o 12.º ano (17,2%).

As três percentagens mais baixas cabem à UF de Souto São Salvador, Souto Santa Maria e Gondomar (15,9%), à UF de Serzedo e Calvos (15,8%) e à UF de Arosa e Castelões (14,2%).

 

 

Ainda há nove freguesias a crescer no 9.º ano

O panorama de crescimento populacional do Ensino Secundário e do Ensino Superior começa a inverter-se no 3.º ciclo. A conclusão do 9.º ano tornou-se obrigatória em 1986, com a aprovação da Lei de Bases do Sistema Educativo, pelo que, 35 anos depois, tempo suficiente para a população com o 3.º ciclo se consolidar e começar a decrescer. Assim se verificou na cidade e nas vilas, claras influências para a descida de 6,7% em todo o território: Guimarães tinha, há 10 anos, 27.070 pessoas com o 9.º ano completo e tem agora 25.261.

Mas há nove freguesias onde ainda subsiste o crescimento dessa franja da população: à frente desse pequeno pelotão, surge de novo a UF de Serzedo e Calvos (15,5%) e no fim a UF de Leitões, Oleiros e Figueiredo (0,4%). Pelo meio, aparecem as já referidas UF de Abação e Gémeos, de Prazins Santo Tirso e Corvite e de Briteiros Santa Leocádia e São Salvador, mas também a UF de Tabuadelo e São Faustino no segundo lugar (11,8%) e ainda uma vila – Lordelo – e uma freguesia urbana – Urgezes.

 

 

Quanto aos rácios de pessoas com o 3.º ciclo completo, a diferença entre a freguesia mais bem posicionada e a que apresenta o resultado mais baixo também se situa abaixo dos 10 pontos percentuais. Não se explica pela divisão entre meios urbanos, suburbanos e rurais, apesar da prevalência da área industrial de Pevidém.  

A maior percentagem de cidadãos com o 9.º ano completo encontra-se na UF de Leitões, Oleiros e Figueiredo, na periferia oeste – 256 pessoas correspondem a 19,8% do total –, e a mais baixa na UF de Arosa e Castelões, na ponta nordeste de Guimarães – 10,4% (99 cidadãos).

São Jorge de Selho – a habitualmente designada vila de Pevidém – aparece no segundo lugar, com 18,9%, com as vizinhas São Cristóvão de Selho em quarto – 18,4% - e Gondar em sexto – 18,1%. Gonça, a nordeste, apresenta a terceira maior percentagem (18,4%).

 

 

Do 6.º ano para baixo, uma quebra sem retorno

As diminuições da população sem escolaridade, da população que completou o 1.º Ciclo e daquela que tem o 6.º ano ultrapassaram os 20% em cada um dos níveis de ensino. O 1.º Ciclo (antiga 4.ª Classe) ainda é a habilitação de 39.843 vimaranenses (25,4%), mas diminuiu 13,3% face a 2011.

Nos restantes dois níveis de literacia, as quebras foram ainda maiores: 21,1% no 2.º Ciclo, que passou a albergar 20.728 residentes, e 39% entre a população sem ensino, presumivelmente mais velha, que agora é constituída por 19.984 cidadãos.

Estes níveis de ensino parecem congregar uma população cada vez mais envelhecida, sendo a quebra transversal a todas as freguesias do concelho.

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