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Luís Cirilo: A “colheita” de cem anos de vida podia e devia ser bem maior

Redação
Sociedade \ segunda-feira, maio 22, 2023
© Direitos reservados
Vitoriano de todos os costados, Luís Cirilo alimenta um séquito de seguidores nas redes sociais ávidos da sua opinião sobre a atualidade desportiva.

Com um longo historial de intervenção pública que o levou a deputado à Assembleia da República e a Governador Civil do Distrito de Braga, o vimaranense Luís Cirilo Amorim de Campos Carvalho iniciou-se na JSD e liderou, sem ser consensual, o PSD vimaranense.

Em entrevista exclusiva a “O Conquistador” pisca o olho ao PSD, de onde saiu para o Aliança, mas diz “não” a uma candidatura à autarquia de Guimarães, lamentando as divisões social-democratas que impediram Pimenta Machado de ser candidato à câmara em 1997.

Admite que Guimarães, “sociologicamente de esquerda”, é também o resultado das seis vitórias de António Magalhães que ajudaram o PS a “ganhar uma influência no movimento associativo, cultural e desportivo” e que muito ajudou a uma sucessão de vitórias socialistas.

O Vitória é a “paixão para além do material” e garante que os vitorianos “são senhores destino do Vitória”. Admite, contudo, que “a colheita” vitoriana em cem anos “podia e devia ser bem maior”.  E, lá está: “em menos de um ano” a verdade das promessas de Miguel Cardoso, estão a resultar noutras práticas.

 

ENTREVISTA E FOTOS: Esser Jorge Silva e José Luís Ribeiro

O Vitória é “nosso” é a paixão de quem não tem a “razão” do dinheiro para amar, certo?

Creio que a paixão subjacente a esse slogan, que às vezes ameaça não passar disso mesmo, existe para lá das razões materiais. É uma afirmação do orgulho numa instituição e numa certa forma de ser muito típica dos vimaranenses. Se o Vitória um dia for o clube mais rico e mais ganhador do país isso nada vai mudar na forma como é visto pelos seus adeptos.

 

Será que os Vitorianos estão condenados a “amar” o amante por este, pelo menos aparentemente, ter dinheiro?

Longe disso. Os vitorianos são senhores do destino do Vitória e não estão obrigados a coisa nenhuma muito menos face a um interessado de ocasião. Sendo certo que o clube precisa de um parceiro estratégico para se desenvolver e recuperar de anos de atraso, a realidade diz-nos que se não for este será outro. Importa é nunca perdermos os nossos valores e a nossa maioria no capital da SAD que tanto custou a adquirir.

 

O Vitória não consegue escolher o caminho ou é o caminho que se desvia do Vitória?

Essa é uma bela pergunta, mas cuja resposta não é nada fácil. A primeira questão é saber qual é o caminho? O objetivo, o que se pretende no médio prazo. O que queremos ser no futebol, nas modalidades, no associativismo daqui a dez anos. Como vamos chegar lá. Creio ser uma reflexão que está por fazer. No século XX definiu-se alguma coisa nesse sentido pelo menos em termos desportivos e na construção do património. No século XXI essa definição está por fazer.

 

Sobre presidir ao Vitória: como cantou Sérgio Godinho “Não me digas que nunca sentiste uma força a crescer-te nos dedos, uma raiva a crescer nos dentes”?

Nos últimos largos anos senti isso muitas vezes. Porque, conhecendo muito bem o clube, a sua massa associativa, o meio em que está inserido e, essencialmente, o enorme potencial existente, indigno-me com tanta opção errada, com tanto desperdício de talento, com tanta falta de ambição. Com a falta de compreensão daquilo que o Vitória pode ser, mas não é.  A “colheita” de cem anos de vida podia e devia ser bem maior.

 

Mas, como dizia Pimenta Machado, “o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira” …

Creio que essa frase de Pimenta Machado é uma verdade absoluta no futebol e na vida. E com ela nos confrontamos todos os dias, nos mais diversos âmbitos. No que toca ao Vitória isso também tem sido uma realidade ao longo dos tempos. Bastará comparar os programas eleitorais apresentados com o balanço dos mandatos cumpridos para percebermos isso mesmo. E nesse aspeto creio que aquilo que hoje se vê comparado com aquilo que ontem se prometeu (e o ontem tem pouco mais de um ano) dá razão a essa célebre máxima.

 

A Câmara Municipal devia, ou não, pugnar para o Vitória continuar “nosso”?

Acho que a Câmara tem pugnas próprias da sua atividade específica e deve evitar ao máximo enveredar por outro tipo de pugnas. E menos ainda intervir em pugnas alheias como tem acontecido nestes últimos vinte e tal anos em relação ao clube. Agora o Vitória é uma realidade importantíssima de Guimarães e, nesse contexto, deve existir uma cooperação permanente entre as duas entidades. No total respeito pela autonomia e pelos campos de intervenção de cada uma delas. A forma que a CMG tem de contribuir para que o Vitória continue “nosso” é ajudar o clube a ter as ferramentas necessárias ao seu crescimento desportivo através do redimensionamento do seu património.

 

Se fosse Presidente de Câmara, o que mudaria na política desportiva concelhia?

O concelho de Guimarães é rico em número de instituições desportivas e pode considerar-se como bem apetrechado em termos de instalações para a prática do desporto. Muitos clubes, boa diversidade de modalidades praticadas e mérito do município na criação das condições para a prática do desporto. Não mudaria a orientação, mas reforçaria a aposta na construção de equipamentos nas freguesias.

 

De todas as restantes áreas de intervenção municipal, qual a que merece uma particular e premente necessidade de intervenção ?

Creio que a mobilidade é aquela que merece uma intervenção mais permanente. Porque condiciona a fixação de pessoas e empresas, influencia a qualidade de vida dos cidadãos, reforça a coesão do todo e, muito em especial, das franjas mais distantes do centro do concelho. É uma intervenção que não pertence apenas ao município porque necessita do poder central, mas tem de ser uma prioridade da câmara, quer no que lhe compete quer na sensibilização do Estado.

 

Guimarães tem condições para se afirmar e diferenciar-se como um concelho de referência ? Como se constrói esse caminho ?

Guimarães tem características muito próprias como é sabido. A História, os monumentos, o centro histórico Património Mundial, a riqueza paisagística, a tradição industrial nos têxteis e nas cutelarias, a Universidade. Também a Cultura - embora esta já tenha tido melhores dias porque a dinâmica de 2012 podia ter sido melhor potenciada - e o Desporto. E tudo isso compõe a marca Guimarães. Para lá da característica única de ter sido berço de D. Afonso Henriques e primeira capital do país. É apostando no reforço dessas características e na divulgação do que nos diferencia que se constrói esse caminho.

 

Em Guimarães, parafraseando Maria José Nogueira Pinto, parece que até o rato Mickey ganhava a Câmara se se candidatasse pelo Partido Socialista. A que se deve tal fenómeno?

Há várias razões para isso. A primeira e quiçá mais importante o facto de Guimarães ser sociologicamente de esquerda desde sempre. Fruto, provavelmente, da sua tradição operária. E isso leva a que em diferentes eleições o PS e os candidatos de esquerda ganhem em Guimarães. Com exceção das maiorias legislativas de Cavaco Silva e das eleições presidenciais do mesmo Cavaco e de Marcelo Rebelo de Sousa e pouco mais. E isso reflete-se também nas autárquicas, onde o PS ganhou com Edmundo Campos, com Manuel Ferreira, com António Magalhães e Domingos Bragança. E o longo consulado de António Magalhães que fez seis mandatos à frente do município permitiu ao PS ganhar uma influência no movimento associativo, cultural e desportivo - que tornou em boa parte dependente da câmara - que muito ajudou a essa sucessão de vitórias socialistas. Para lá da obra feita é claro.

 

E o PSD …

O maior partido da oposição, o PSD, ganhou a câmara por apenas duas vezes (contra onze do PS) sempre com António Xavier mas a imerecida e injusta derrota de 1989 criou divisões e discórdias no partido que se mantiveram durante muito tempo e em nada contribuíram para ser uma alternativa ganhadora. Isso e escolhas pouco felizes de algumas candidaturas que também não reforçaram a imagem do partido como alternativa. E na única vez, desde 1989, em que podia de facto ter disputado a vitória, em 1997, as divisões internas impediram a candidatura de alguém que de facto podia ter ganho. E o eleitorado tem dificuldade em perceber os partidos que podem ganhar, mas não querem. Desde 2013, com André Coelho Lima, o PSD iniciou um caminho acertado de crescimento e implantação que agora com Ricardo Araújo tem continuado, mas as coisas vão levar o seu tempo porque, de facto, há uma enorme preponderância do PS no eleitorado vimaranense.

 

A esse propósito, António Magalhães diz que Guimarães não tem acompanhado o ritmo de crescimento de Famalicão, Braga e Barcelos. Guimarães tem mesmo futuro?

De facto, os três restantes municípios do Quadrilátero urbano têm, nos últimos anos, conhecido um desenvolvimento superior ao de Guimarães em diversas áreas que vão da fixação de pessoas e empresas à captação de investimento e ao desenvolvimento económico. Curiosamente três câmaras lideradas pelo PSD. Mas claro que Guimarães tem futuro. E diria até que pode ter um futuro mais pujante que qualquer um deles se apostar de forma correta nas tais características que o diferenciam e tornam único no contexto nacional. Mas sabendo também, em simultâneo, cooperar com esses três grandes municípios do distrito e da região porque “puxando” uns pelos outros serão todos mais fortes.

 

Ex-líder do PSD local, ex-líder da bancada parlamentar da Assembleia Municipal, ex-deputado nacional e ex-governador civil. Uma vasta experiência e um curriculum de relevo para um candidato à Câmara Municipal de Guimarães. Está disponível?

A vida ensinou-me que há muito poucas coisas em que se possa dizer um não tão peremptório quanto definitivo. Mas na resposta a essa pergunta é uma daquelas ocasiões em que se pode dizer um desses não.  Não de certeza absoluta.

 

Depois da JSD, do PSD, da Aliança, o que se seguirá? Partido Liberal ou, um dia, a realidade Chega?

Passei 43 anos da minha vida na JSD e no PSD. Depois foram dois anos no Aliança e, terminado esse caminho de militância partidária em 2020, não sou hoje filiado em nenhum partido. Nem tenciono voltar à política ativa, além de uma cidadania atenta, interessada e ativa em causas que me mobilizem. Mas se, por hipótese, um dia decidisse regressar ao ativo político e partidário isso seria sempre no PSD. É a minha “velha!” família política e é a minha área ideológica. Não haverá na minha vida um terceiro partido. Disso tenho a certeza também.

 

É uma pessoa de fé ?

Tenho as minhas convicções, mas sendo católico sou pouco ou nada praticante.  Talvez porque o meu percurso de vida e a experiência nele adquirida tenha reforçado a minha aposta no primado da Razão em detrimento de uma Fé que tenho sempre dificuldade em perceber e, por isso, nela apostar.

 

Existe alguma figura da Igreja Católica que mais o tenha marcado e tenha influenciado o seu quotidiano ?

Três. Os Papas João Paulo II e Francisco pelos seus exemplos de vida e de pontificado e o apóstolo São Tomé pela importância do seu ensinamento - Ver para crer - que tão útil me tem sido na participação na vida política e desportiva.

 

"5 respostas rápidas"

1. Sugestão gastronómica?
Cozido à portuguesa

2. Que livro está a ler?
“A cortina de ferro” de Anne Applebaum

3. A música que não lhe sai da cabeça?
“Momento” de Pedro Abrunhosa

4. Um filme de referência?
“O Padrinho” de Francis Ford Copolla

5. Passatempo preferido?
Ler

[Conteúdo produzido pelo Jornal O Conquistador, publicado em parceria com o Jornal de Guimarães. Entrevista da edição de maio de 2023 do Jornal O Conquistador.]

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