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Luís Rocha: “O arranque foi muito complicado, tivemos de ter caráter”

Bruno José Ferreira
Desporto \ domingo, junho 18, 2023
© Direitos reservados
Aos 36 anos, Luís Rocha assinou mais uma subida ao principal escalão do futebol português: a quarta. Foi o capitão do Moreirense na última época, ajudando o clube a regressar ao convívio dos grandes.

Uma época regular, por cima, mas que não deixou de ter as suas dificuldades, com um arranque conturbado, como dá conta em entrevista ao Jornal de Guimarães. Apesar disso, foi formado um grupo com caráter que foi levando a bom porto as suas intenções. Capitão de equipa, Rocha levantou o troféu de campeão nacional e considera especial a subida num clube “da terra”, de Guimarães.

Como é que olha para a época do Moreirense FC, em que andou sempre em primeiro e sagraram-se campeões, fazendo o clube regressar à Primeira Liga?

É claro que foi uma época positiva, em que andámos sempre em primeiro, fomos valorizados e fomos campeões. Mas nunca podemos olhar só para o fim. Há sempre um início e a verdade é que o início foi muito complicado. Quando chego, apanho uma equipa que acaba de descer de divisão, com jogadores a quererem sair – porque não querem ficar na Segunda Liga –, e quando queres construir um grupo forte, um bom balneário, é complicado tendo jogadores que não querem estar lá. Respeito isso, é legítimo, mas é complicado. A pré-época foi complicada enquanto esses jogadores não saíram e não puderam chegar outros. Entretanto o plantel foi-se compondo, mas mesmo assim fizemos vários jogos de pré-época só com 13 jogadores, por exemplo. Na semana antes de começar o campeonato, tinhas 13 jogadores. Lembro-me que fizemos o primeiro jogo de campeonato com jogadores com uma semana de treinos. Foi um início complicado, mas conseguimos aprender, criámos um grupo forte e correu tudo bem.

 

Dentro desse quadro, que é complexo, qual foi a chave do sucesso?

Tínhamos 13 jogadores, mas com qualidade, naturalmente. Acima da qualidade estiveram as virtudes humanas e o caráter. Foi isso que fui realçando ao longo da época. Os jogadores que chegaram também tinham esse caráter e é isso que leva ao sucesso; temos de ter qualidade, mas mais do que isso está a vertente humana, pessoas, homens, caráter forte, resiliência, que nas dificuldades conseguem valorizar-se e dão a mão ao colega. Mais do que a qualidade, a base do sucesso do Moreirense foi a parte humana.

 

Há algum momento que tenha sido determinante para o desfecho da época, com a subida e o primeiro lugar?

O primeiro jogo foi muito importante. A pré-época foi complicada, como já referi, e conseguimos ganhar o primeiro jogo. Conseguimos seis vitórias consecutivas, com adversários fortes – como o Vilafranquense e o Académico de Viseu. Acabou por ser uma bola de neve. Em casa com o Farense estávamos a perder 2-1 e, num curto espaço de tempo, demos a volta ao jogo. Foi uma grande vitória. Foi uma bola de neve, com passos firmes. Não houve um clique. Foi ao longo da época que fomos tendo vários cliques.

 

Esta foi a quarta subida da carreira. Foi mais especial por ser num clube da terra, de Guimarães?

Todas as subidas tiveram um sabor especial. Tenho um carinho por todas, pelos clubes em que conquistei coisas, mas posso dizer que esta acaba por ter um sentimento especial por isso. Sendo eu de Guimarães, é um clube da minha terra. Quando o Moreirense desceu, tive oportunidade de dizer, jogava no Chaves, que esperava que o Moreirense regressasse rapidamente à Primeira Liga, porque é um clube que merece lá estar. Depois de ter estado cá, ainda posso afirmar mais isso, é um clube que merece este patamar, pela qualidade que tem a nível de condições de trabalho, pelos seus adeptos... tenho um carinho especial por este ano: andámos a época toda em primeiro e fui campeão.

 

A nível pessoal como é que olha para esta temporada? Completa 37 anos em agosto, mas ainda assim fez 34 jogos, nos quais marcou um golo, numa carreira que tem sido regular nas últimas temporadas…

A nível pessoal fiz uma boa época, tive a felicidade de jogar. A verdade é que trabalho para isso, faço muitos sacrifícios para me sentir bem fisicamente, tenho 36 anos e às vezes tenho de abdicar de certas coisas, mas faço-o com o maior gosto. Acabo por fazer uma boa época, sinto-me bem fisicamente, preparo-me bem, e, quando se é focado e profissional, e se faz as coisas por gosto, a idade acaba por ser um número.

 

Chega aos clubes profissionais, curiosamente, apenas aos 27 anos. O que faltou para poder ter chegado mais longe?

Não consigo responder a isso a 100%. Não sei se tinha qualidade para ter aparecido mais cedo, ou não. Se calhar a oportunidade só apareceu naquele momento, se calhar também porque naquele momento não se apostava tanto na formação como hoje. Há diversos fatores que podem explicar essa situação. O que posso dizer é que me orgulho da carreira que estou a fazer, orgulho-me de cada clube por onde passei; se passei por lá é porque tinha de ser assim para chegar onde cheguei. Conheci pessoas formidáveis, com que ainda hoje mantenho contacto. Se poderia ter chegado mais cedo à Primeira Liga, ou à Segunda Liga com contrato profissional, isso não sei dizer. O que sei é que tenho hoje a mesma paixão que tinha há 15 anos por esta profissão, e é a mesma paixão que vou ter na próxima época.

 

Para essa próxima época, quais as expetativas no Santa Clara? Tendo o currículo que tem, com quatro subidas, foi disso que lhe falaram para que rumasse aos Açores?

Não, até porque ainda não foi oficializado o treinador para a próxima temporada no Santa Clara. Na conversa que tive com os responsáveis do clube, com a direção do Santa Clara, não se puseram as coisas em cima da mesa dessa forma. Naturalmente há esse objetivo, há isso em mente, o Santa Clara quer subir após ter descido de divisão. É um clube que quer estar na Primeira Liga, mas o Santa Clara, quando contrata o Rocha, é pela experiência que tem na carreira, bem como na Segunda Liga. Pedem-me essa experiência no grupo de trabalho, o conhecimento que tenho nesta divisão, em que posso ajudar os mais jovens, que irão chegar ao clube, para rapidamente integrá-los na realidade deste segundo escalão.

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