Morreu Marinho Peres, o timoneiro de um Vitória inesquecível
Jesus, Costeado, Nené, Miguel, Carvalho, Nascimento, N’Dinga, Adão, Ademir, Roldão e Paulinho Cascavel: ainda hoje, muitos sócios do Vitória com pelo menos 40 anos de caminhada enumeram de cor a equipa mais utilizada da época 1986/87, com uma ou outra nuance pelo meio, possivelmente. O seu treinador era Marinho Peres. Morreu esta segunda-feira, aos 76 anos.
Antigo jogador da Portuguesa, do Santos, do Internacional e do Barcelona, precisamente na altura em que representou o Brasil no Mundial de 74, Marinho Peres enveredou pela carreira de treinador em 1980 e viu as portas da Europa abrirem-se pela mão do Vitória SC, em 1986. Essa Vitória encantou, sobretudo até janeiro de 1987: com um futebol bonito e ofensivo, a equipa preta e branca concluiu a primeira volta a par de Benfica e de FC Porto, empatando 2-2 no então Estádio das Antas em 11 de janeiro, para a 17.ª jornada; foi uma das maiores deslocações de adeptos vitorianos que até hoje se conhece.
Pelo meio, os homens de Guimarães rubricaram também a melhor prestação europeia de sempre, consumando o acesso aos quartos de final da Taça UEFA, após eliminarem o Groningen, com uma segunda mão demolidora: 3-0 no então Municipal de Guimarães, após a derrota por 1-0 nos Países Baixos. Antes, ultrapassara o Sparta de Praga e o Atlético de Madrid.
Empates caseiros com Varzim e Farense e fora de casa, com O Elvas e Salgueiros, quase todos sem golos, hipotecaram as aspirações ao título de uma equipa que perdeu gás na segunda metade da época, encaminhando-se inevitavelmente para um tranquilo terceiro lugar. Em março, o Vitória terminou a sua epopeia na UEFA com a eliminação às mãos do Borussia de Mönchengladbach.
O treinador mudou-se para o Belenenses, clube pelo qual viria a conquistar um terceiro lugar (1987/88) e uma Taça de Portugal (1988/89), e passou depois pelo Sporting (1990/91 e 1991/92), antes de regressar ao Vitória na época 1992/93, para uma época radicalmente diferente daquela que vivera seis anos antes. À exceção da vitória sobre a Real Sociedad, na primeira eliminatória da Taça UEFA, o Vitória raramente venceu no campeonato e foi uma equipa frágil defensivamente sob o seu comando, circunstâncias que ditariam a sua saída no final da primeira volta, com a equipa preta e branca no 16.º e antepenúltimo lugar. Em Portugal, Marinho Peres passaria ainda pelo Marítimo e pelo Belenenses, uma segunda vez.
De trato tranquilo e ar sorridente, o antigo treinador e jogador nascido em Sorocaba, no estado brasileiro de São Paulo, em 19 de março de 1947, foi o protagonista de algumas das imagens mais memoráveis da época que ocupa o trono da tradição oral vitoriana: o jogo com o Groningen é disso exemplo, ficando para a posteridade a celebração do triunfo para as câmaras ou uma fotografia com o então adjunto Paulo Autuori e o então massagista Fernando von Doellinger.
O Vitória já manifestou o seu pesar pela morte do antigo treinador: “O Vitória Sport Clube manifesta o seu profundo pesar por Marinho Peres, falecido na noite desta segunda-feira aos 76 anos. Com largo historial no futebol português, o treinador brasileiro conduziu a equipa principal do Vitória SC ao terceiro lugar no campeonato e ainda aos quartos de final da Taça UEFA em 1986/87, somando um total de 51 jogos ao serviço dos Conquistadores – voltaria a trabalhar no clube na época de 1992/93”.