Mobilidade: Guimarães a “ver passar o comboio”, dizem vereadores do PSD
O concelho de Guimarães corre o risco de “ver passar o comboio” face à escassa presença no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), afirmou nesta segunda-feira o social-democrata Bruno Fernandes na reunião quinzenal do executivo municipal.
Após a consulta ao documento que giza a estratégia de combate à crise económica suscitada pela pandemia, o vereador concluiu que não há lá nada que respeite a este território, a não ser a via para o Avepark, projeto formalizado em 2017, ao abrigo do programa do Governo para a valorização das áreas empresariais; no PRR, o acesso ao parque de ciência e tecnologia de Caldas das Taipas é um dos 22 investimentos contemplados pelos 190 milhões de euros para acessibilidades rodoviárias a áreas empresariais. “A via para o Avepark representa que não há mais projetos a serem vertidos para este Plano de Recuperação e Resiliência. O município não se preparou para este plano. Claro que o plano surgiu por causa da pandemia, mas estava em curso a preparação para um novo quadro comunitário. Guimarães fica de fora porque não fez o trabalho de casa. Está a ver passar o comboio”.
Bruno Fernandes criticou sobretudo a omissão do financiamento do eventual metro de superfície que pode ligar as cidades de Guimarães e de Braga, tendo frisado que o executivo vimaranense deveria aproveitar este plano, que envolve uma verba total a rondar os 16,6 mil milhões de euros, para “fazer investimentos que, de outra forma, não poderá realizar”. “A referência ao metrobus de Guimarães para Braga desapareceu. Agora os 200 milhões de euros referem-se ao transporte coletivo de cidades médias. O senhor presidente está a falar do metro de superfície há anos. Já houve mais do que tempo para fazer a articulação com Braga”, assinalou.
O vereador da coligação PSD/CDS-PP lembrou mesmo o ano de 1884, no qual Guimarães acolheu o comboio, a escola industrial e uma exposição industrial, para pedir à autarquia o “arrojo” dos vimaranenses de então. “O arrojo é ter a capacidade de preparar os projetos para os apresentar nas oportunidades que vão surgindo. A mobilidade não tem tido a atenção digna de uma cidade média europeia”, sentenciou.
Coelho Lima fala de “interiorização”
A mobilidade também foi o tema da intervenção de André Coelho Lima, mais propriamente a ferrovia e a falta de interesse de operadores privados pela linha de Guimarães. O vereador mencionou o interesse da Barraqueiro, líder nacional na rede de expressos rodoviários, em criar uma ligação ferroviária entre Braga e Faro, como uma coluna vertebral a partir da qual surgem ligações de autocarro para outras cidades do país, anunciada a 15 de Fevereiro.
Tal como a linha de Braga, a linha de Guimarães liga-se ao Porto, mas não tem qualquer menção na operação que a Barraqueiro quer iniciar através da sua nova empresa: a B-Rail – Mobilidade Ferroviária. “Guimarães passa ao lado desta operação. Tudo bem que é de uma empresa privada, mas não deixa de merecer preocupação”, disse André Coelho Lima.
Para o vereador e deputado na Assembleia da República, esta falta de interesse pode ter origem na suspensão da ligação de Alfa-Pendular entre Guimarães e Lisboa, suspensa desde que a pandemia se disseminou em Portugal, ao contrário do que aconteceu com a ligação entre Lisboa e Braga. Será por isto que a empresa não teve interesse em explorar o ramal de Guimarães?”, questionou-se.
André Coelho Lima disse, porém, ser certo que Guimarães está a “passar ao lado do interesse da Barraqueiro”, num eventual sinal de “interiorização” do município vimaranense face a outros de dimensão semelhante. “As notícias dão conta de uma interiorização de Guimarães, que não poderemos permitir e com a qual não podemos compactuar”, vincou.
Na resposta ao vereador do PSD, o presidente da Câmara, Domingos Bragança, adiantou que Guimarães não vai ter ligações de Alfa-Pendular enquanto o país se mantiver em estado de emergência. Reconheceu ainda que a empresa Barraqueiro está a “tentar seguir a coluna vertebral do sistema ferroviário português” com a interligação entre transporte ferroviário e rodoviário no eixo Braga-Faro.