Referência da arte brasileira, Artur Barrio expõe no CIAJG
Nome incontornável da arte brasileira (e portuguesa) do século XX, Artur Barrio começou a criar no final dos anos 60, distinguiu-se por instalações que interagem com o público e o impelem a ser participante na criação artística, pelas “críticas implícitas ao sistema político” – o Brasil vivia então sob uma ditadura militar -, ou pelas críticas ao sistema artístico e ao “processo de circulação e valoração da arte” – patentes em “Manifesto: contra as categorias de arte, contra os salões, contra os prémios, contra a crítica de arte”; aos 78 anos, o artista nascido no Porto e residente na Baía de Guanabara, ao largo do Rio de Janeiro, expõe em Guimarães.
Com curadoria de Luiz Camillo Osório, crítico de arte, ensaísta e antigo curador do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e de Marta Mestre, diretora artística do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) e da programação de Artes Visuais da cooperativa municipal A Oficina, a exposição "Artur Barrio / Interminável" sobressai na inauguração do novo ciclo artístico do centro de artes vimaranense, marcada para sábado.
A mostra constitui-se em torno da instalação com o mesmo título, pertencente à coleção do museu S.M.A.K. – em Gante, na Bélgica – instituição parceira nesta exposição, a par da Fundação de Serralves. Além da exposição, várias das salas do CIAJG irão exibir uma seleção de trabalhos provenientes do arquivo do artista e de coleções institucionais e privadas de Portugal, detalha a nota de imprensa relativa ao novo ciclo expositivo.
Segundo a nota de imprensa, essa instalação evoca “o princípio e o fim da arte”, desafiando, à semelhança de outras criações do autor, os protocolos museológicos e a objetualidade da arte. Feita de materiais perecíveis que irão cobrir todas as paredes do espaço expositivo – outra das marcas de Artur Barrio -, a criação convoca “o excesso e a poesia”, com “o infinito e a contingência” a conviverem “no meio de palavras escritas nas paredes, café e odores espalhados no chão, fragmentos, vinho bebido e vertido”.
A exposição inclui trabalhos desde a década de 70 e cobre o interesse de Barrio pelo mar: entre eles, contam-se “Áreas Sangrentas” (1975), realizado em Viana do Castelo na sequência do 25 de Abril, “Livro da Carne” (1979) ou um núcleo de “CadernosLivro”, trabalhos em tecido, e imagens reproduzidas a partir do arquivo pessoal do artista.
Fabriqueta: os ecos do trabalho vertidos na paisagem
As “memórias do trabalho e os elementos físicos (banais e prosaicos) que projetam tanto a melancolia quanto a força coletiva e laboral do Ave e do Minho” estarão vertidos em desenhos (da série "Poesia Fabril"), objetos ready-made ou replicados, que mimetizam elementos da arquitetura e contexto material das fabriquetas, um conjunto de esculturas e maquetes de cartão ou trabalhos sonoros de voz e ruídos e numa estrutura construída bloco a bloco: assim se constitui Fabriqueta, exposição de Eduardo Matos também inaugurada no sábado, com curadoria de Inês Moreira, curadora, editora e investigadora principal do Lab2PT, da Escola de Arquitetura Arte e Design Universidade do Minho.
“A fabriqueta é um fóssil humano que passou a integrar a paisagem, a par dos milenares penedos e das centenárias habitações de granito. Onde a produção do Ave e do Minho se viu pujante, restam, por entre lugares maiores, inúmeros destes sítios oficinais, rústicos e inacabados.”, descreve a investigadora, curadora da exposição permanente da Casa da Memória de Guimarães (de 2014 a 2016), entidade gerida e programada pel’A Oficina, em Guimarães.
Também a 25 de março, a partir das 19h00, "Shedding an iron skin" surge no CIAJG com a Deputada (Francisca Marques) a protagonizar uma performance-música em diálogo com uma "serpente" dos povos Baga (República da Guiné), que convoca “uma assembleia cerimonial, um ritual de escamagem de uma hipotética pele de ferro, que confronta o corpo e a máquina, através de música e performance”, lê-se no comunicado da Oficina.