Numa Reboreda “a crescer”, as “vitórias são consequência dos valores”
Na Reboreda aproveita-se a luz proveniente dos últimos raios de sol, enquanto os holofotes vão aquecendo e começando também eles a iluminar. Duas balizas no centro do relvado partem o sintético em dois para que seja possível cerca de cinco dezenas de miúdos cumprirem mais um treino na formação do Ases de Santa Eufémia. O arranque das competições está para breve neste que é “um ano recorde a nível de miúdos”, diz Bruno Cunha, o coordenador geral da formação. “Temos mais de 170 miúdos, 11 equipas”, atira, com um olhar de que este número, apesar de positivo, acalenta já dores de cabeça para a logística da gestão das camadas jovens do clube de Santa Eufémia de Prazins.
Enquanto observa os miúdos em corridas com a bola, e em exercícios, dá nota ao Jornal de Guimarães de que este ano, “para dar condições mínimas de espaço de treino”, o Ases tem de ter uma equipa, que vai rodando, a treinar em Souto São Salvador. Dores de crescimento, pode dizer-se, que exigem “uma organização muito grande e uma comunicação clara e atempada com todos para que tudo funcione”. Por dia, treinam no Campo da Reboreda quatro ou cinco equipas, com os seniores incluídos, nos dois horários de treino estipulados, e “os fins-de-semana são muito intensos, com jogos seguidos, principalmente ao sábado à tarde e ao domingo de manhã”.
Com cada vez mais oferta no que a escolas de formação de futebol diz respeito, Bruno Cunha acredita que o sucesso do Ases está nos “valores” adotados e transmitidos aos jovens atletas. “A mensagem passa bem para os miúdos e para os pais, transmitindo-se os valores que achamos corretos. O Ases é um clube muito unido, quase familiar, um clube de integração que transmite valores”, aponta, complementando: “Toda a gente quer ganhar, mas aqui olha-se para o resultado como consequência do trabalho desenvolvido”.
“Avançámos para o processo de certificação para poder melhorar”
Carlos Neves também passa pelo sintético, entre cumprimentos aos jogadores que vão chegando, inteira-se de alguns assuntos. “Curiosamente entrei para o Ases pela formação e hoje sou presidente”, diz com sorrisos. Não tem dúvidas de que a formação tem de ser a principal aposta do clube, como tem vindo a acontecer nos últimos anos. “Desde início, a formação sempre foi uma aposta no Ases. Começámos com traquinas, depois fomos subindo ano após ano. A meio veio o sintético, que ajudou e cada vez mais continua a ser uma aposta do clube para conseguirmos fazer chegar mais jogadores aos seniores, tendo na equipa principal cada vez mais a identidade da casa”, assegura.
Nesta senda de crescimento, a formação do Ases é uma das certificadas no concelho de Guimarães, das poucas que conseguiu alcançar três estrelas. Cumprir os vários requisitos necessários e ter esta certificação implica “uma maior responsabilidade”, reconhece Bruno Cunha, que tem o Nível II de treinador, mas adianta também que foi um passo pensado para subir degraus. “Avançámos com o processo de certificação para poder crescer e para irmos ao encontro das normas da Federação Portuguesa de Futebol”, dá nota, frisando que isto se aplica ao que se passa dentro das quatro linhas, mas também a questões como o acompanhamento escolar e à integração dos pais “como parte da solução e não um problema”.
A exigência de treinadores certificados é uma das vertentes do processo de certificação pela Federação vista como “muito importante”, mas o principal foco “é proporcionar condições para os miúdos evoluírem de forma natural”. “Aquilo que queremos é que quem joga no Ases aprenda valores como saber estar e saber ser, ter gosto pelo desporto, que se divirta, que tenha amigos e espírito de equipa”, pontua Bruno Cunha, explicando que “os miúdos ao praticarem um desporto de equipa percebem os sacrifícios que têm de fazer e a necessidade de dar tudo pelo colega ao lado”.
Novo campo pronto a sair do papel “para ver os miúdos crescer”
Com cerca de 50 elementos no staff na sua formação, o Ases começa a ficar estrangulado no que ao espaço diz respeito na sua missão de “dar respostas à comunidade”, expressa o presidente Carlos Neves. “Todos os dias, entre as 18h00 e as 22h00, o campo está permanentemente cheio”, expõe. Mesmo tendo já uma equipa a treinar fora de portas, “não temos as condições de espaço para evoluir”, reconhece. Bruno Cunha corrobora; o coordenador geral da formação lembra que a formação do Ases “está a evoluir todos os dias” e neste momento tem uma participação recorde de atletas. Isso exige um acompanhamento que se torna um “desafio constante”.
“Temos de ter uma estrutura maior, com mais treinadores, mais gente ligada às equipas e, sobretudo, mais recursos de infraestruturas, nomeadamente espaço para treinar”. Este é, no momento, o principal desafio: a construção de um novo campo. O projeto está no papel; há sensivelmente um ano o clube anunciou a compra de uma parcela de terreno para concretizar esse objetivo, sendo uma “questão de timing” ver as máquinas andar no terreno. “Ano após ano, temos subido o número de atletas e de equipas; se queremos ver os miúdos crescer, a evoluir, é dando espaço e tempo de treino”, antecipa o presidente. “É uma questão de timing ter o segundo campo, que aí sim, vai dar o espaço pretendido”.
Numa formação que é referência no concelho, Bruno Cunha lidera as camadas jovens do Ases há mais de 10 anos e “as metas são claras”: “Dar o melhor no dia a dia para ver os miúdos a crescer e depois, trabalhando bem, as vitórias acontecem de forma natural, não sendo um objetivo, mas sim uma consequência”.