O concelho de Guimarães num ecrã: a Proteção Civil serve-se dos seus dados
Foi a partir de uma das salas do COI (Centro de Operações Integradas) que se operacionalizou a resposta à intempérie de meados de outubro. Um posto de comando proativo, quer para situações da Proteção Civil, quer para analisar a dinâmica da cidade numa plataforma de inteligência urbana com “potencial enormíssimo”.
Terça-feira, 31 de outubro – 13 horas. A velocidade média de circulação automóvel na Avenida Conde de Margaride é 14 quilómetros horários. Os parques públicos do centro da cidade estão com uma taxa de ocupação de 82%, sendo que na Mumadona há apenas cinco lugares vagos, numa ocupação de 97%. No mapa, a saída de Guimarães para a zona norte do concelho, essencialmente em Fermentões, é o único troço vincado a vermelho, com a indicação de tráfego intenso. A informação é atualizada em tempo real e debitada na parede de ecrãs de uma das salas do COI (Centro de Operações Integradas) de Guimarães, infraestrutura criada há sensivelmente um ano no âmbito de uma candidatura financiado a 85% pelo NORTE 2020, de cerca de 170 mil euros.
Foi a partir deste local que se monitorizaram as várias ocorrências incitadas pela intempérie da noite de 18 para de 19 de outubro, que provocou estragos um pouco por todo o concelho. “Tivemos um número considerável de ocorrências, com muitos reports para o número municipal de Proteção Civil. Foram várias chamadas, mas de ocorrências de menor gravidade, uma pequena inundação, um ramo caído, uma tampa aberta. Tivemos aqui dois elementos a monitorizar a situação e a disseminar os meios para o terreno”, dá conta Daniel Estabainho, do Serviço Municipal de Proteção Civil de Guimarães. Ou seja, a partir da rua de Santa Maria, no coração do Centro Histórico, foi centralizada a informação e mobilizados os meios necessários das várias entidades envolvidas: as cinco corporações de bombeiros que atuam no concelho de Guimarães, PSP, GNR, Polícia Municipal, serviços municipais e empresas municipais.
Esta é uma das funções do COI, que nasceu, então, da referida candidatura com o intuito de “dar uma alavancagem às capacidades de monitorização de riscos existentes no concelho e aumentar a capacidade tecnológica para a Comissão Municipal de Proteção”, explica Daniel Estabainho, passando do plano teórico para a vertente concreta: “Numa situação ou iminência de acidente grave ou catástrofe, ativa-se o Plano Municipal de Emergência, daí a reunião da Comissão, para apoiar o presidente da Câmara enquanto líder oficial da Proteção Civil”.
“Margens de cinco centímetros nas comportas das bacias de retenção”
Voltando à madrugada de 19 de outubro, Estabainho não tem dúvidas em afirmar que as bacias de retenção, ou comportas, “fizeram e fazem a diferença”. “Sem as bacias de retenção, as inundações seriam seguramente superiores a um metro”, destaca. Atendendo ao historial anterior desses mecanismos em Guimarães e aos dados atuais “está comprovado o funcionamento das comportas”, considera. “Estivemos a trabalhar com margens de cinco a 10 centímetros. Podem ser monitorizadas a partir daqui, mas numa situação destas tem de ser no terreno, porque trabalhar com esta margem numa área tão alargada exige um controlo muito grande”, complementa o elemento da Proteção Civil de Guimarães.
Ao lançar um olhar retrospetivo sobre o funcionamento de sensivelmente um ano do COI, Daniel Estabainho faz um “balanço positivo” da infraestrutura. “Percebemos que neste ano esta sala já nos deu muito; serviu para perceber que era isto que precisávamos. Cada vez temos mais eventos extremos, associados às alterações climáticas, com muitas ocorrências em simultâneo. Nestas instalações, centralizamos informações e mobilizamos os meios”, reforça. Mas a utilidade daquelas salas extravasa as situações de catástrofe. É, ao mesmo tempo, um posto de comando aquando da realização de eventos.
Aquela que é conhecida como a noite mais longa de Guimarães, e que está aí à porta – 29 de novembro – serve como exemplo: “Temos como exemplo específico a noite do Pinheiro, um evento que, pelas suas características, mexe muito com a dinâmica da cidade; é frequente ter várias ocorrências de doenças súbitas, intoxicações, ou quedas e é necessário preparar e coordenar o efetivo de proteção e socorro para dar resposta”, resume Estebainho, confirmando que naquela sala estarão profissionais das várias entidades da Proteção Civil.
“Potencial enormíssimo: conseguimos sentir a cidade e o que será no futuro”
Mas desengane-se se pensa que o COI é apenas um instrumento de resposta a catástrofes ou situações relacionadas com a Proteção Civil. Neste espaço, vertida numa parede de ecrãs, funciona uma “plataforma de inteligência urbana com um potencial enormíssimo”, vinca Ricardo Machado, chefe da Divisão de Sistemas Inteligentes e de Informação do município. Aqui cai “uma panóplia de dados”, provenientes de várias fontes de informação, inclusivamente de cinco satélites. Desde quantidade de automóveis a circular no concelho, trotinetes e até peões, qualidade do ar e do ruído, velocidades médias de circulação, taxa de ocupação dos parques públicos, humidade e muitos outros dados estão disponíveis em tempo real que se encontra em constante evolução.
“A cidade é orgânica e, com estes dados, conseguimos senti-la, as dinâmicas que tem. Com mais dados, podemos projetar o que será a cidade no futuro”, explica Ricardo Machado, elencando que Guimarães integra um programa europeu elegível para complementar ainda mais esta ferramenta, com o uso de dados ambientais, de clima e de mobilidade. “Conseguimos simular cenários, ver como se comporta a cidade caso seja necessário cortar o trânsito numa rua por causa de um jogo de futebol, por exemplo”, indica.
Despe a pele de chefe da Divisão de Sistemas Inteligentes e de Informação do município e, a título pessoal, sublinha que “poucas cidades têm isto”. De volta às suas funções, destaca o “enorme potencial” que já está a ser aproveitado “por parte do executivo municipal na gestão da cidade a partir dos dados fornecidos” e também a ferramenta, a ser preparada, “de divulgação ao cidadão, através de pictogramas, para perceberem como a cidade se comporta”. Questões como mobilidade, ambiente e outras dimensões da vida em sociedade passam por ali: “Deixa de haver achómetro para se decidir e atuar com base em dados concretos”.
“Instrumento importante para apoiar tomada de decisão política”
Sofia Ferreira, vereadora do município, considera que este equipamento “tem desempenhado um papel crucial na melhoria da coordenação e resposta do Serviço Municipal de Proteção Civil”, nomeadamente “aquando das situações de condições meteorológicas adversas”. Na base deste balanço positivo está o facto de durante o seu primeiro ano de funcionamento, o COI ter demonstrado “eficácia na gestão de incidentes, facilitando a comunicação e ação conjunta entre os diversos serviços envolvidos”. Ou seja, a resposta de Guimarães, em casos extremos, está hoje “sem dúvida” mais capaz, defende a vereadora. “O COI proporcionou um aumento significativo na capacidade de resposta de Guimarães a incidentes”.
De resto, a vereadora não tem dúvidas que “o COI é um instrumento importante para apoiar a tomada de decisões políticas”, dada a sua “capacidade de recolher, analisar e fornecer dados e informações em tempo real”. “Permite que os decisores políticos tenham uma visão mais precisa e informada para o processo de tomada de decisão quer numa fase de planeamento bem como aquando das situações de emergência, contribuindo para uma decisão mais eficaz e definição das medidas de prevenção a implementar e respostas mais adequadas”, conclui Sofia Ferreira.