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“O espírito nicolino não morre”: cortejo noite fora até ao sítio de sempre

Tiago Mendes Dias
Cultura \ terça-feira, novembro 30, 2021
© Direitos reservados
Neste 29 de novembro, as caixas e os bombos multiplicaram-se pelas principais praças da cidade, ao mesmo tempo que uma versão condensada do cortejo avançava pelas ruas, abraçando o Pinheiro às 01h30.

O céu escuro da madrugada já se impunha sobre a cidade quando a dianteira do pelotão coroada a verde e vermelho se acercava do Pinheiro. Apesar da falta de licença da Câmara Municipal de Guimarães, centenas reuniram-se no Cano, desceram a cidade e acercaram-se da árvore erguida horas antes quando o relógio assinalava 01h30 do dia 30. Iniciaram-se assim as Nicolinas de 2021, com bombos e caixas a responderem à chamada num troar incessante.

Ainda no dia 29, pelas 23h00, não eram mais de 30 as pessoas que se reuniam em grupos junto ao esguio tronco castanho. Estavam já a guardar lugar para o que estava por vir. Ao lado de três amigas, Catarina Ribeiro diz que era impossível faltar ao Pinheiro caso houvesse jantar de grupo; as 10 a 15 pessoas que o compõem decidiram logo juntar-se mal a Câmara anunciou a falta de licença para o cortejo.

“Já estamos na linha da frente, a reservar lugar”, diz ao Jornal de Guimarães, enquanto exercita os braços e espera pelos restantes elementos do grupo. “A partir do momento em que se começou a formar um núcleo que queria seguir para a frente com o cortejo do Pinheiro, decidimos logo que nos íamos juntar. Já vimos há muitos anos e não fazia sentido não vir este ano. Estava previsto virmos e a Câmara não autorizou muito em cima da hora”.

Para a antiga estudante do ensino secundário de Guimarães, ficar em casa só seria opção se ninguém do grupo decidisse comparecer. Como ela, muitos outros decidiram encarar a noite fria, com ou sem gorro nicolino à cabeça. Ainda centenas jantavam, e as praças da Oliveira e de Santiago já estremeciam com o som nicolino ali contido. Debaixo dos arcos dos antigos paços do concelho, o ruído era ensurdecedor. Fora das muralhas, grupos percorriam a Alameda de São Dâmaso a conta-gotas; alguns tocavam segundo a pessoa que orquestrava o ritmo ao jeito nicolino.

Num desses grupos, estava António Pastor, vice-presidente da Comissão de Festas em 1982 e pregoeiro em 1987. Professor em Setúbal, regressa com frequência à cidade-berço e não podia faltar “ao 44.º ou 45.º Pinheiro”, depois da interrupção de 2020. “O espírito nicolino nunca morre", vinca ao Jornal de Guimarães. "Independentemente de qualquer vírus maligno, as nicolinas estão sempre vivas. Decidiu-se que o Pinheiro, ao ar livre, não tivesse cortejo. Respeito as autoridades, mas tínhamos de sair à rua”, 

Neste ano, esse “espírito” repartiu-se pelas praças e esteve desprovido de “cartazes e junta de bois”. Mesmo as pessoas foram menos. “Noto menos gente na rua. Provavelmente sabendo que não ia haver cortejo, as pessoas de fora retraíram-se. As pessoas de Guimarães que passaram pelas escolas secundárias estão aí. As pessoas de fora que costumavam preencher as ruas vieram menos”, sugeriu, ali por volta das 23h30.

Entre as praças cheias de gente com e sem máscara, sobriedade e euforia, havia alguns pontos de acalmia, como o Largo Condessa do Juncal. O Toural chegava e sobrava para quem ali estava até que, pelas 23h50, se agitou; a procissão saíra mesmo e estava ali a chegar. Os carros que tentaram por ali passar ficaram presos por longos minutos, enquanto novos e velhos marchavam ao ritmo do toque de sempre, erguendo bem alto a baqueta no instante que antecedia mais um golpe nas peles.

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