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“O importante foi arrancar. Estamos felizes por ultrapassar este período”

Pedro C. Esteves
Sociedade \ sábado, dezembro 03, 2022
© Direitos reservados
O Grupo Regional Folclórico e Agrícola de Pevidém fez este ano 75 anos e esta noite junta a família para um jantar comemorativo. O Jornal de Guimarães conversou com a presidente Ana Machado.

Ana Machado entrou para o Grupo Regional Folclórico Agrícola de Pevidém há 36 anos e é presidente há quase 25. O cantar e dançar deste museu itinerante já voltou à estrada e saiu praticamente incólume de um período que obrigou a guardar trajes e lenços na gaveta. Com sede numa antiga escola na área do Paraíso, este coletivo que alberga avós, pais e filhos da terra quer criar um museu etnográfico.

 

Os grupos folclóricos também foram apanhados neste turbilhão provocado pela pandemia. Como tem sido este voltar à rotina, pela sua experiência como presidente daquele que é o grupo folclórico mais antigo do concelho, o Grupo Regional Folclórico Agrícola de Pevidém?

O nosso grupo é o mais antigo. O grupo tem 86 anos. Oficialmente, por escritura, nasceu em 25 de Abril de 1974. Faz este ano 75 anos e ainda vamos fazer aqui um jantar com a Câmara Municipal e com a Federação do Folclore Português. O [Grupo] de São Torcato, quando se fundou, fê-lo ainda com parte dos nossos trajes emprestados. Depois é que foi adquirindo os restantes. E depois os grupos foram nascendo. Tenho esses dados todos de Guimarães e do país. Com a pandemia sei que, por cá, há pelo menos seis que não vão retomar.

 

Aludiu aos 75 anos e a um ano de comemoração de uma data redonda. Como foi a celebração no 25 de Abril?

Já arriscámos um pouco na comemoração. Havia medo, as pessoas viam os números acelerar. Estivemos dois anos parados, em outubro de 2021 começamos a juntar as pessoas para começar a ensaiar, algumas pessoas tinham medo, cantavam do lado de fora da janela. Na dança há uma interligação e nós, Federação, defendemos não fazer atuação de máscara: não faz parte do traje e é perigoso devido a problemas de respiração. Era aquele arranque a medo. Fomos ensaiando. Até à primeiro atuação, na festa de São Jorge.

 

Como foi o momento?

Tivemos contratempos, mas estivemos todos. Estivemos bem. Pesava a responsabilidade do arranque. Eu também danço e tinha partido um braço, fiquei triste por não poder vestir o traje. Apesar de ser presidente, comecei a usar o traje de campo. No ensaio e na dança obedeço ao ensaiador, deixo de ser presidente e sou elemento. Não consegui dançar, apresentei o grupo e fiquei a ver, mas a vontade de dançar era muita. Entretanto, já fomos para o Alentejo, para Aveiro e para todo o lado, e já dancei. O importante foi arrancar. Agora aí estamos, com desfolhada e felizes porque conseguimos ultrapassar este período.

 

Há juventude no grupo? Perdeu elementos durante a pandemia?

Saíram três, entraram cinco. Mantém-se. Temos gente que entrou com três anos de idade, como o ensaiador, que tem agora 49 anos. Tenho aqui famílias: andam os avós, os pais e agora os filhotes. Temos muita juventude no grupo.

 

É quase uma segunda casa para essas pessoas. Quando é o momento de reunião, em que dia é que ensaiam?

Antes da pandemia era sempre ao sábado. Mas temos elementos que saíram da terra para estudar, trabalhar. Neste momento, estamos a fazer um ensaio à sexta-feira e outro ao sábado. Estamos a fazer a experiência, porque assim apanhámos todas as pessoas.

A Ana viu este grupo crescer, entrou há 36 anos. Pergunto-lhe como encontrou o grupo nesse período?

Entrei como secretária. Eu ia ver os ensaios, e o ensaiador incentivava-me a experimentar nos intervalos. Somos muitos irmãos e metade gosta de dançar e cantar. Dançava com os elementos e entrei. Comecei e nunca mais larguei. Tive muita pena na pandemia e nesses dias punha muitas vezes o CD para recordar. Ia ver os vídeos. É um gosto pela dança e pelo canto – também canto no Orfeão do CCD Coelima.

Dedica muito do seu tempo ao grupo?

Eu sou presidente desde 1998. As pessoas do grupo sempre tiveram carinho por mim e, mesmo no período mais complicado, incentivaram-me. Nos bocadinhos que tenho à hora de almoço, por exemplo, aproveito para interagir com outros grupos, responder a e-mails. Estou na Federação e na Associação de Folclore e Etnografia de Guimarães, que é importante para conseguir algo para os grupos. Antes havia uma associação que era dos grupos federados do concelho – Pevidém, Corredoura, São Torcato, Vila Nova de Sande, Souto, Silvares, Casa do Povo de Briteiros e Fermentões –, mas a associação foi abaixo e abriu-se a todos os grupos. Formámo-la em 2001.

 

Há alguma meta ou objetivo que se proponha a atingir num futuro próximo?

O nosso principal objetivo é ampliar o espaço da sede, porque temos muito espólio antigo guardado e queremos criar um museu etnográfico. Nós fazíamos a desfolhada na casa de uns fidalgos, mas não havia entendimento entre eles e deixámos de fazer. Começamos a fazer na Praça Francisco Inácio. O que faz com que tenhamos de montar toda a estrutura, prego a prego. Temos que levar lareira e tudo. O objetivo é fazer aqui na sede um cantinho, com três portadas, e um alpendre para fazer a desfolhada aqui. Aqui há sítios para estacionar. Depois de as pessoas se habituarem, vêm.

 

E a comunidade começa a associar cada vez mais este espaço ao Grupo Regional Folclórico Agrícola de Pevidém.

Começa-se a habituar. E tem todos as condições para convívios. É esse passo queremos dar já no próximo ano. Temos de teimar, de arranjar o dinheiro e de fazer. Telha já temos e aos bocadinhos vamos conseguindo. Estamos a tentar que para o ano, em setembro ou outubro, se consiga fazer aqui a desfolhada.

 

Uma viagem ao Mónaco para fazer

Ana Machado ainda se lembra do montante que o Grupo desembolsou para uma viagem à Madeira: 16 773 euros. Isto há 13 anos. “Custou-me muito a mim e ao tesoureiro gastar esse dinheiro”, recorda. A política de Ana é não deixar ninguém para trás: “Alguns grupos encaram de uma forma diferente a atuação. Pode ir metade do grupo, por exemplo. Aqui, ou vão todos ou não vai ninguém, o grupo é um todo. Somos todos num só”.

Foi destas viagens em conjunto que os componentes sentiram falta. Quando “tudo estava a voltar ao normal”, embarcaram pela primeira vez país abaixo e houve quem chorasse. “Estivemos em Albergaria-a-Velha, Fátima, Aveiro. E por aí fora. Voltámos ao que já estávamos habituados”, repara a dirigente.

Está agora na agenda uma atuação no Mónaco – mas com data incerta: um convite que a pandemia fez adiar. “No ano passado era cedo, agora vamos ver se vamos em 2023. Se não for em 23, veremos 24. São emigrantes há muitos anos e querem o grupo de Pevidém”, explica.

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